Produção
da fruta garante emprego a 25 mil pessoas, ou seja, 10% da população
do município |
(Reportagem:
Susy Murakami/NB)
Junichi Irikita,
imigrante japonês, fez o caminho inverso de muitos brasileiros que
deixaram o Nordeste para tentar melhor vida no Sudeste do Brasil. Quando
perdeu tudo o que tinha em Pilar do Sul, interior de São Paulo,
foi conhecer Mossoró, Rio Grande do Norte, no final dos anos 60,
por indicação de um amigo. Pela experiência no cultivo
de frutas e verduras, foi convidado pelo ex-governador potiguar, Tarcísio
Maia (19161988), que comandou o Estado entre 1975 e 1979, para trabalhar
em suas terras.
O cunhado,
Masatoshi Otani, embarcou para a região alguns anos mais tarde
para visitar o parente. Gostou e ficou. Otani plantava uva em São
Miguel Arcanjo, a 180 km de São Paulo, e foi com esse intuito que
se instalou nas terras do semi-árido. O governador queria que os
japoneses trabalhassem no cultivo de uma espécie destinada à
produção de uva seca. Mas o clima não favoreceu.
A uva demora muito para produzir. O clima e a região são
melhores para o melão, afirma Otani.
A percepção
de Otani foi definitivamente confirmada. O Pólo Agrícola
Mossoró/Baraúna/Açu é o maior produtor de
melão do Brasil, chegando a vender 204 mil toneladas para o exterior
e 50 mil toneladas para o mercado interno em 2007. A região, ao
lado do Baixo Jaguaribe, no Ceará, responde por 83% da produção
nacional e 95% das exportações.
Otani e Irikita
são pioneiros na produção da fruta no local. O primeiro
é dono de uma área de 250 hectares; e o segundo, de uma
de 300 hectares. Hoje, existem cerca de dez famílias nikkeis cultivando
melão em Mossoró.
De acordo com
a Gerência de Agricultura e Recursos Hídricos de Mossoró,
a produção da fruta garante emprego a 25 mil pessoas, ou
seja, 10% da população do município. O produto do
pólo agrícola é exportado principalmente para a Europa
(80%), seguido do Mercosul (15%) e Estados Unidos (5%).
Dados colhidos
de meados da década de 90 para cá mostram a elevação
nas exportações do melão. Apesar de algumas oscilações,
a tendência de crescimento manteve-se em 11 anos. De US$ 25 milhões
exportados em 1996, o número saltou para US$ 128 milhões
em 2007.
Além
da terra e clima favoráveis, o investimento em tecnologia contribuiu
para o desenvolvimento vertiginoso da fruta. A produtividade cresce cerca
de 10% ao ano. Apesar da concorrência internacional de Espanha,
Israel e de toda a América Latina, o produto brasileiro de origem
nordestina mantém a qualidade no topo.
O nosso
melão tem conseguido se manter entre os melhores do mundo,
atesta Francisco de Paula Segundo, presidente do Coex, Comitê Executivo
de Fitossanidade do Rio Grande do Norte, que agrega 167 produtores do
pólo agrícola Mossoró/Baraúna/Açu,
num total de 13 mil hectares. Um dado interessante: nós temos
3,5 mil horas/sol/ano, o que torna a nossa fruta mais doce e mais saborosa
e com condições de produção praticamente o
ano inteiro, completa.
Com a produção
voltada para o exterior, o produtor acaba se tornando mais sensível
à oscilação do dólar. A queda da moeda norte-americana
diminui também o lucro dos exportadores.
Otani diz que,
para sobreviver em épocas de dificuldade, é preciso seguir
à risca um costume que ele diz ter herdado das gerações
passadas. No costume japonês, o que reforça a economia
é o capricho com a terra. Custo baixo e melhor qualidade,
explica.
E é
o que o Coex também tem buscado para driblar o câmbio desfavorável.
O setor é muito profissionalizado, mesmo assim, está
sendo muito prejudicado com a baixa do dólar, principalmente por
exportarmos 80% do que produzimos. Estamos tentando nos manter vivos,
trabalhando com mais produtividade e tentando minimizar os custos,
disse Segundo.
|