Ichi
e Masashi Nishizawa, anos 70, pioneiros no cultivo do amendoim
|
(Reportagem:
Susy Murakami/NB)
A contribuição
de imigrantes japoneses para a agricultura no Brasil também está
presente no Acre. E foi com um produto bastante tradicional no País
que a família Nishizawa conquistou consumidores e ajudou na economia
do município de Senador Guiomard, a 25 quilômetros da capital
Rio Branco. Muitos ainda referem-se à cidade como Quinari, nome
original que foi alterado em 1976.
Quando os imigrantes
do Japão chegaram a Quinari, em 1959, o plano era viver da borracha
da seringueira. Pelo menos, era o que prometia o governo brasileiro da
época que incentivou a ida dos japoneses para lá. Mas, sem
assistência, o cultivo e a produção não evoluíram
como o esperado, e das 13 famílias que se instalaram na região
inicialmente, apenas duas remanesceram. Uma delas é a de Hiroschi
Nishizawa, que desembarcou no Brasil aos 4 anos de idade. Hoje ele é
o único dos quatro irmãos que permanece no local, graças
ao cultivo do amendoim.
A oleaginosa
tornou-se um importante produto agrícola da região. A tradição
teve início com a chegada de Masashi Nishizawa, já falecido,
pai de Hiroschi, que trouxe com ele algumas sementes do Japão.
A espécie, porém, não se adaptou ao clima e a produção
foi pequena. A família passou então, a cultivar uma outra
variedade, mais comum no Brasil, chamada de vermelhinho por ser pequeno
e de casca vermelha. Por dez anos, o cultivo desse amendoim ajudou no
sustento da casa.
Mas ao receber
sementes do amendoim, comumente chamado de cavalo, levadas
por um paranaense, a família Nishizawa deu início à
produção do que se tornaria uma importante fonte de renda
para diversos produtores de Quinari e de outras cidades próximas.
Com o aumento do consumo, a família não deu conta de toda
a demanda e passou a distribuir as sementes para outros agricultores.
O pagamento era feito no ano seguinte com a primeira safra, em forma de
sementes.
Na Lanchonete
Nishizawa, ou Bar do Japonês como é popularmente chamada,
aberta em 1972, o amendoim torrado começou a conquistar os fregueses
e chegou aos cinemas de Rio Branco. O estabelecimento, que fica na principal
avenida da cidade, tornou-se um dos pontos preferidos dos moradores e
parada obrigatória de quem passava por ali.
Hoje, semanalmente,
são feitas 55 fornadas o que totaliza 825 quilos de amendoim torrado.
O produto é colocado em embalagens de três tamanhos diferentes,
sendo o menor deles, de 70 gramas, vendido a R$ 1. Além dos consumidores
diretos, vendedores compram o amendoim para distribuir em supermercados
e outros estabelecimentos, inclusive de outras cidades.
A família
que deixou de cultivar o amendoim, compra praticamente toda a produção
do município para beneficiar. O produto é tradicionalmente
conhecido na região como amendoim do Quinari.
Hiroschi Nishizawa
diz que compra e beneficia cerca de 130 toneladas anualmente. A torragem
e o embalamento são feitos manualmente na propriedade da família
que ele chama de colônia, pois foi a terra doada pelo
governo na época da imigração.
Com o método
manual, a validade do produto é de cerca de 30 dias. Pelo processo
mecanizado, aumentaria para 90 ou até 120 dias, segundo Hiroschi.
Estamos querendo investir em máquinas para poder vender para
outros estados, afirma.
O secretário
da Agricultura e Meio Ambiente do município, Sebastião Saraiva
Santos, diz que o amendoim é o carro-chefe do projeto de agricultura
familiar de Senador Guiomard. O objetivo da prefeitura, segundo ele, é
manter o homem no campo.
O Sebrae implantou,
em parceria com a Prefeitura de Senador Guiomard, da vizinha Plácido
de Castro, governo do Acre, Banco do Brasil, Embrapa e cooperativas, o
Projeto Grupo de Produtores de Amendoim do Quinari. O intuito é
aumentar a cadeia produtiva e a renda dos plantadores de amendoim.
O projeto abrange
78 famílias, sendo 68 delas de Senador Guiomard. A estimativa do
Sebrae é de que existam, ao todo, cem famílias produtoras
de amendoim em três municípios do Acre.
|