História
do Haicai |
Matsunaga Teitoku (15711653) |

kasumi sae
madara ni tatsu ya
tora no toshi
Tradução:
Até mesmo a névoa
Rajada a se levantar
É o ano do tigre.
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Este haicai foi escrito em 1626, ano do tigre,
segundo o horóscopo chinês. Trespassada pelo sol, a névoa
que se levanta dos campos e florestas até parece rajada, como a pele
do animal regente do ano que se inicia. A palavra madara, literalmente malhado
ou pintado, pertence à linguagem popular, emprestando
um acentuado gosto de haikai ao poema. Por outro lado, observa-se que rajado
(madara) é engo (palavra ligada por significado) de tigre
(tora), sendo empregada metaforicamente. O kakekotoba (trocadilho) também
é presente na palavra tatsu (levantar-se, começar), que se
refere tanto à névoa quanto ao ano-novo que se inicia. O uso
de recursos caros à poesia clássica como engo e kakekotoba
é típico de Teitoku, assim como de sua escola, denominada
Teimon, para a qual não havia grande diferença entre a velha
e a nova maneira de escrever, resumindo-se esta à inclusão
de jogos de palavras e vocábulos de cunho popular, buscando adicionar
humor às estruturas tradicionais do velho renga. Este poema é
considerado um dos mais característicos da escola Teimon, à
qual se sucederiam as escolas Danrin de Sôin e Shômon de Bashô.
O kigo é névoa (kasumi), pertencente à
primavera. |
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hana yori mo
dango ya arite
kaeru kari
Tradução:
Melhor do que flores
É comer bolinhos
Partem os gansos selvagens.
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No outono, gansos selvagens migram para o Japão,
refugiando-se do inverno rigoroso da Sibéria. Quando chega a primavera,
eles retornam às terras do norte, onde construirão seus ninhos
e criarão seus filhotes. Esta é a época das cerejeiras,
mas as aves parecem alheias à beleza das flores, talvez porque esperem
encontrar dango (bolinhos doces) em seu destino. Este haicai pode ser considerado
como a paródia de um tanka de autoria de Ise, contido na antologia
imperial Kokinshû (905): Na primavera,/ Partindo em meio à
névoa,/ Os gansos selvagens/ Aprenderão a viver/ Numa terra
sem flores. O tom melancólico do poema é quebrado pela
lembrança de um ditado popular, hana yori dango, literalmente
bolinhos são melhores do que flores. Em português,
o ditado correspondente é beleza não se põe à
mesa, isto é, as belas flores da cerejeira enchem os olhos,
mas não a barriga. Tanto o uso de ditados como a paródia de
poemas antigos são recursos usuais da escola Teimon, de Teitoku,
que procura surpreender os leitores através de brincadeiras lingüísticas.
Há dois kigo de primavera neste haicai: hana (flores de cerejeira)
e kaeru kari (partida dos gansos selvagens). |
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