(Por Akihiro
Ikeda*)
Os primeiros
imigrantes japoneses desembarcaram em Santos no dia 18 de junho de 1908
e chegaram nas fazendas no início de julho. A safra de café
encontrava-se no fim. O ganho do dia era por sacas colhidas. Rendia muito
menos do que se propagava no Japão. Isso causou uma grande frustração.
Depois de muitas dificuldades, foram integrando-se à agricultura
e à pequena comunidade ao redor. Após alguns anos, a maioria
tornou-se pequena proprietária.
Por décadas,
o cultivo da terra, complementado pela criação do porco,
que lhes fornecia a banha, a carne e o sabão, constituiu-se no
principal sustentáculo da família. A caninha era presença
obrigatória para quem apreciava um bom trago: forte, saboroso e
barato. Trabalho pesado, de sol a sol, dispondo apenas de instrumentos
rudimentares, os agricultores foram vítimas da baixa produtividade.
Sem amparo
contra os azares da natureza, sem apoio financeiro, com parcos conhecimentos
técnicos e ignorantes em doenças tropicais, sobreviveram
com enormes sacrifícios. A educação dos filhos era
uma das principais preocupações. Pelo menos um filho devia
prosseguir os altos estudos. O sonho de um dia retornar à pátria
perdeu-se no tempo, mas a terra natal era lembrada com nostalgia.
Os cem anos
da imigração confundem-se com a história da nossa
agricultura e com os avanços ocorridos na tecnologia, na produtividade,
no sistema de informações e nas operações
financeiras. A mudança na agricultura brasileira foi enorme. Ela
não foi fruto das circunstâncias, mas resultado de pesquisa
e de sua disseminação, de organização e de
trabalho. Os descendentes que possuem tradição na terra
participaram e contribuíram para essa grande transformação.
Até
a década 60, a agricultura brasileira crescia para suprir alimentos
e matérias-primas para o mercado interno. Com exceção
do café, que, por longos anos, foi o principal gerador da receita
cambial do país, apenas exportações em quantidades
reduzidas de algodão e açúcar tinham acesso ao mercado
externo. A política econômica, durante duas décadas
após a Segunda Guerra (1939/45), penalizou a exportação
e protegeu a produção industrial para o mercado interno.
A agricultura
era acusada, por alguns especialistas, de ser uma das causadoras da inflação,
dada a sua baixa capacidade de reagir às condições
de mercado num país onde a demanda de alimentos crescia vigorosamente,
impulsionada pelo aumento da população e da renda. A
exportação agrícola não tinha futuro,
diziam esses especialistas, porque a sua demanda é pouco
sensível ao aumento da renda mundial e com nítida tendência
de perda na relação de troca.
Na segunda
metade da década de 60, a política de crescimento com ênfase
na agricultura e na exportação mostrou que a produção
rural poderia ser muito competitiva, desde que entraves fossem eliminados;
e incentivos corretos, concedidos. Abriu-se uma nova etapa com medidas
que, em sua maioria, continuam válidas: 1) eliminação
do viés anti-exportação, iniciada com a adoção
do sistema de minidesvalorizações cambiais em 1968; 2) garantia
de financiamento à produção e à comercialização
e incentivos aos investimentos, com a ampliação do sistema
de crédito rural apoiado nos bancos (1968); 3) estímulo
fiscal à utilização de insumos modernos (1969); 4)
incorporação de avanços tecnológicos e melhoria
dos métodos de produção propiciadas pelas pesquisas
lideradas pela Embrapa (criada em 1972); e 5) transformação
do cerrado numa grande área produtiva (últimos 35 anos).
O Japão
também deu contribuições valiosas nessa fase, citando-se:
a) carta de intenções, formalizada em 1972, entre o ministro
da Fazenda do Brasil (Delfim Netto) e a Federação das Cooperativas
de Compras do Japão (Zenkoren) para a exportação
de milho; b) financiamento do governo japonês, junto com o BID,
para o reaparelhamento dos portos brasileiros (1973); c) missão
do Ministério da Agricultura, Floresta e Pecuária do Japão
(1972) que concluiu que o cerrado oferecia melhores possibilidades para
a produção de alimentos; d) financiamento japonês
para a abertura de projetos pioneiros no cerrado (Prodecer); e e) apoio
técnico e financeiro do Japão para as pesquisas da Embrapa.
Nos últimos
anos, as exportações do agronegócio brasileiro vêm
ampliando a sua fatia no mercado mundial. O aumento da renda, a emergência
da China como potência importadora, o uso do milho para produção
do etanol nos Estados Unidos e a desvalorização do dólar
impulsionaram as importações e os preços mundiais.
O Brasil foi extremamente beneficiado, porque encontrava-se bem preparado
para aumentar a produção e a exportação. Possui
a melhor tecnologia tropical e um sistema de agronegócio ágil
e bem estruturado.
É pena
que a elevada tributação e a valorização do
câmbio não tenham permitido uma maior transferência
para os agricultores dos benefícios que o mundo nos ofereceu. O
gráfico acima mostra o caso da soja. A taxa de câmbio amortece
as elevações recentes dos preços em Chicago, retirando
um bom pedaço da remuneração em reais, quando comparada
com a data inicial da série (janeiro/2005).
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