Leonardo Sologuren*
O mercado mundial
do milho vem atravessando um profundo cenário de mudança.
O cereal tornou-se uma das principais fontes para produção
de etanol, o que alterou sua curva de demanda. Aliado ao forte crescimento
da economia mundial nos anos recentes que, por sua vez, ocasionou
uma maior demanda por carne e, por conseqüência, elevou o consumo
de ração animal a relação estoque/consumo
de milho no mundo é a menor desde a safra 1973/74.
Em termos de
suprimento mundial, a situação torna-se delicada diante
do amplo potencial de crescimento da indústria de etanol, principalmente
nos Estados Unidos, onde o milho é a matéria-prima básica
do biocombustível. Os Estados Unidos são responsáveis
por quase 70% das exportações mundiais do grão. Com
boa parte do excedente de milho norte-americano direcionado à produção
de etanol, no médio e no longo prazos haverá uma menor participação
dos Estados Unidos nas exportações mundiais.
Neste cenário,
abre-se um imenso espaço para o Brasil ocupar parte desse mercado.
Estima-se que, em 2017, as exportações mundiais de milho
atingirão 105,8 milhões de toneladas e a participação
dos Estados Unidos será restrita a 50%.
Todavia, será
necessário reduzir o nosso custo de produção para
aproveitar essa janela de oportunidade. Historicamente, o Brasil só
consegue exportar milho nas seguintes situações: quando
a taxa de câmbio está significativamente desvalorizada; quando
o preço internacional do milho está significativamente alto;
e quando há um casamento entre essas duas variáveis.
Pelo fato de
o Brasil ter uma das produtividades mais baixas entre os exportadores
de milho, o preço do produto brasileiro é mais alto do que
o do mercado internacional. Choques de produtividade serão, assim,
necessários para reduzir o custo de produção. No
contexto atual, a introdução da biotecnologia é fundamental
ao Brasil. É importante lembrar que o milho ainda é, em
parte, uma cultura de subsistência no País e não tem
um foco comercial tão elevado quanto nos Estados Unidos e na Argentina.
O foco comercial ganha importância justamente quando a produtividade
é alta e é preciso escoar o excedente produzido, utilizando,
geralmente, a exportação.
Tanto na Argentina
quanto nos Estados Unidos, é possível observar claramente
o choque de produtividade alcançado após a introdução
do milho geneticamente modificado. O aumento da produtividade média
nos Estados Unidos, entre 1988 e 1997, foi de 0,6% ao ano, ao passo que,
no período de 1998 (introdução da biotecnologia do
milho nos EUA) a 2007, o crescimento médio foi de 1,6% ao ano.
No caso da
Argentina, o comportamento é semelhante. A elevação
da produtividade média no período de 1988 a 1997 foi de
1,9%, ante um crescimento médio de 2,8% entre 1998 (também
com a introdução da biotecnologia) e 2007. A barreira de
rompimento da produtividade média é explícita com
a introdução de variedades geneticamente modificadas. De
1990 a 1997, a Argentina manteve sua produtividade média sempre
na casa de 4.200 kg/hectare. Com a introdução do milho geneticamente
modificado, em 1998, a produtividade média saltou imediatamente
para o patamar de 6 mil kg/hectare.
De fato, há
outras variáveis que influenciaram o crescimento médio da
produtividade nos Estados Unidos e na Argentina. No entanto, a biotecnologia
foi um fator fundamental para potencializar esse processo. Ao mesmo tempo,
é importante ressaltar que não houve perda de mercado por
parte desses países. Ao contrário, ambos ganharam competitividade
de preços. As vendas externas argentinas saltaram de 4,2 milhões
de toneladas em 1988 para 10,3 milhões de toneladas em 2006, com
sua participação no mercado internacional disparando nesse
período de 7,2% para 12,7%. Já no caso dos Estados Unidos,
houve uma manutenção de seu market share desde a introdução
do milho geneticamente modificado porém com o aumento do
volume exportado.
Observando
todo este comportamento do mercado, é eminente a necessidade de
o Brasil introduzir a biotecnologia em seus campos de produção.
O ganho de produtividade será, muito provavelmente, maior do que
aqueles observados nos Estados Unidos e na Argentina, reduzindo os custos
de produção do milho brasileiro e consolidando sua participação
no mercado internacional.
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