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Arte em Letras
Matéria publicada no Zashi edição 11 - Julho de 2008

Goga Masuda, patrono do haicai brasileiro
Mestre foi o único que conseguiu legar à nova terra os valores do haicai, completando a missão de Nempuku Sato

(Por: Edson Kenji Iura*)

As artes tradicionais japonesas, por seus valores universais, há muito conseguiram ultrapassar suas fronteiras geográficas, derrubando barreiras de etnia e cultura. No Brasil, como em muitos países, há admiradores entusiasmados e praticantes dedicados de ikebana, artes marciais, bonsai, sumiê ou cerimônia do chá, tanto na comunidade nipo-brasileira como fora dela. Quanto ao haicai, a poesia japonesa de expressão breve e ligada à natureza e às estações, só tardiamente iniciou sua divulgação sistemática para além do círculo dos imigrantes que o praticavam. Goga Masuda (1911–2008) é um nome fundamental no desenvolvimento do haicai em língua portuguesa.

Trajetória

Como tantos outros japoneses, Goga Masuda veio para o Brasil em busca de uma nova vida. Conheceu o mestre Nempuku Sato (1898–1979) em 1935, tornando-se seu discípulo na arte do haicai. Nempuku foi um imigrante como Goga, encarregado de cultivar essa poesia no Brasil por ninguém menos que Kyoshi Takahama (1874–1959), a figura dominante do haicai japonês durante toda a primeira metade do século 20. Além de tornar-se um praticante desse gênero literário, Goga colaborou intimamente com seu mestre na divulgação do haicai, especialmente depois da Segunda Guerra, quando se tornou jornalista na então florescente imprensa nipo-brasileira.

Os imigrantes japoneses não foram os responsáveis por apresentar o haicai aos brasileiros. A primeira informação dessa poesia foi introduzida por livros franceses e ingleses. Foi a partir dessa base que poetas do Brasil tentaram escrever haicais em português, a partir das primeiras décadas do século 20. Desde esse tempo, a idéia que os brasileiros tinham do haicai era a de uma forma poética breve, a ser preenchida com um pouco de humor, sabedoria proverbial ou iluminação zen-budista.

Difusão

Já a divulgação, entre os brasileiros, do haicai enquanto arte tradicional, conjunto de técnica e filosofia que pode ser ensinado a qualquer pessoa, encontrava seu grande obstáculo na língua japonesa, sua matéria-prima, mas que, paradoxalmente, deveria ceder lugar ao português. Por isso, foi necessário esperar o surgimento de um mestre que, mais do que repassar a tradição, fosse capaz de adaptar o modelo original a uma nova língua, mantendo intocados seus valores fundamentais.

Ao contrário de Nempuku, Goga dominava o português. Por isso, não limitou sua atividade ao universo dos imigrantes, mantendo sempre intensa troca de informações com poetas e intelectuais brasileiros sobre a possibilidade de se escrever haicais nessa língua. Esse intercâmbio culminou com a fundação do Grêmio Haicai Ipê, em 1987, grupo de poetas brasileiros que, sob sua orientação, serviu de plataforma para o desenvolvimento de uma poesia escrita em português, ainda que firmemente ancorada nos valores de objetividade e respeito à natureza, característicos do haicai tradicional.

Há muitos mestres-imigrantes ainda em atividade no Brasil. Mas Goga Masuda foi o único que conseguiu legar à nova terra os valores do haicai, completando a missão de Nempuku Sato.

 


* Edson Kenji Iura é haicaísta do Grêmio Haicai Ipê e também um dos colunistas da seção Arte em Letras.

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