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Arte em Letras
Matéria publicada no Zashi edição 2 - Outubro de 2007

Tanka, pura poesia em 31 sílabas

(Por Neide Hissae Nagae*)

Dividido em versos de 5, 7, 5, 7 e 7 sílabas, esse “poema curto” é disposto em uma única linha. Em geral, forma a estrofe superior (kaminoku) com os dois ou três primeiros versos, e a inferior (shimonoku) com os demais, permitindo que os versos tenham sílabas a mais (jiamari) ou a menos (jitarazu).

O tanka possui um longo histórico que remonta à tradição oral e aos primeiros escritos datados do século VII e fizeram parte da vida social dos aristocratas antigos nas sessões de poesias e na conquista amorosa, com demonstrações dos dotes poéticos na troca de poemas que precediam o encontro.

No Japão atual, “tankaístas” (kajin) dividem espaço com haicaístas (haijin) e shijin, poetas que adotaram as formas ocidentais (shi) desde fins do séc. XIX.

A exemplo da popular “tankaísta” Machi Tawara, muitos de seus compositores vêem o tanka como um ato de reflexão do que o poema em si representa e os temas abordados são os mais variados, bem como os recursos estilísticos.

No quadro ao lado, os poemas analisados estão dispostos em mais de uma linha por questões gráficas, não correspondendo, portanto, à disposição original do tanka.

karetaki o miagete tsukinu iminsen

A nau imigrante
chegando: vê-se lá no
alto a cascata seca.

Era época de festas juninas, com balões e fogos de artifício iluminando os céus. Conforme um observador da época, talvez os imigrantes imaginassem que o povo brasileiro lhes dava as boas-vindas. Na noite do dia 19, após subir de trem a Serra do Mar, Uetsuka já se encontrava alojado com os demais na Hospedaria dos Imigrantes, atual Memorial do Imigrante, no bairro do Brás, em São Paulo. Observando as festividades, escreveu mais um haicai:

burajiru no shoya naru takibi matsuri kana

A primeira noite
passada no Brasil –
Festival de fogueiras.

Esses são os primeiros haicais de que se tem registro escritos no Brasil. Mas ainda que a história dos imigrantes tenha sido inaugurada sob os auspícios de um haicaísta, pelos dezoito anos seguintes não se tem muitas notícias de atividades poéticas. A verdade é que os primeiros anos da imigração foram marcados por grandes dificuldades e sacrifícios. Em meio à luta pela sobrevivência, é compreensível que o haicai não fosse um item de primeira necessidade. Tal situação só mudaria com a chegada dos mestres Keiseki Kimura (1867–1938), em 1926, e Nempuku Sato (1898–1979), em 1927.

Kurenai no / nishaku nobitaru / bara no me no /
hari yawarakani / harusame no furu.
(Shiki Masaoka)

O sentido é ampliado com a homofonia da palavra yawarakani para maciez do espinho de um broto de rosa vermelha com uns 6 cm e a delicadeza da chuva primaveril.


Kurokami no /chisuji no kami no /midaregami /
katsu omoi midare /omoi midaruru.
(Akiko Yosano)

A poetiza cria um sentimento irrequieto a partir de lembranças confusas que se fundem com a imagem dos longos cabelos negros embaraçados como ecos nas assonâncias e pesados como as recordações e sentimentos sobrepostos na palavra omoi.


Kimi ga yo wa/ chiyo ni yachiyo ni /
sazare ishi no/
iwao to narite /koke no musu made,

Hino Nacional do Japão

É um desejo de glória eterna ao soberano, com metáforas que remetem ao infinito e à eternidade de musgos em pedras mais minúsculas. Foge à regra com a estrofe superior, formada pelo primeiro verso, e uma sílaba excedente no terceiro.

* Neide Hissae Nagae é professora doutora em Literatura Japonesa e docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

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