Tanka,
pura poesia em 31 sílabas
(Por
Neide Hissae Nagae*)
Dividido
em versos de 5, 7, 5, 7 e 7 sílabas, esse poema
curto é disposto em uma única linha.
Em geral, forma a estrofe superior (kaminoku) com os dois
ou três primeiros versos, e a inferior (shimonoku)
com os demais, permitindo que os versos tenham sílabas
a mais (jiamari) ou a menos (jitarazu).
O
tanka possui um longo histórico que remonta à
tradição oral e aos primeiros escritos datados
do século VII e fizeram parte da vida social dos
aristocratas antigos nas sessões de poesias e na
conquista amorosa, com demonstrações dos
dotes poéticos na troca de poemas que precediam
o encontro.
No
Japão atual, tankaístas (kajin)
dividem espaço com haicaístas (haijin) e
shijin, poetas que adotaram as formas ocidentais (shi)
desde fins do séc. XIX.
A
exemplo da popular tankaísta Machi
Tawara, muitos de seus compositores vêem o tanka
como um ato de reflexão do que o poema em si representa
e os temas abordados são os mais variados, bem
como os recursos estilísticos.
No
quadro ao lado, os poemas analisados estão dispostos
em mais de uma linha por questões gráficas,
não correspondendo, portanto, à disposição
original do tanka.
karetaki
o miagete tsukinu iminsen
A nau imigrante
chegando: vê-se lá no
alto a cascata seca.
Era
época de festas juninas, com balões e fogos
de artifício iluminando os céus. Conforme
um observador da época, talvez os imigrantes imaginassem
que o povo brasileiro lhes dava as boas-vindas. Na noite
do dia 19, após subir de trem a Serra do Mar, Uetsuka
já se encontrava alojado com os demais na Hospedaria
dos Imigrantes, atual Memorial do Imigrante, no bairro
do Brás, em São Paulo. Observando as festividades,
escreveu mais um haicai:
burajiru
no shoya naru takibi matsuri kana
A primeira noite
passada no Brasil
Festival de fogueiras.
Esses são os primeiros haicais de que se tem registro
escritos no Brasil. Mas ainda que a história dos
imigrantes tenha sido inaugurada sob os auspícios
de um haicaísta, pelos dezoito anos seguintes não
se tem muitas notícias de atividades poéticas.
A verdade é que os primeiros anos da imigração
foram marcados por grandes dificuldades e sacrifícios.
Em meio à luta pela sobrevivência, é
compreensível que o haicai não fosse um
item de primeira necessidade. Tal situação
só mudaria com a chegada dos mestres Keiseki Kimura
(18671938), em 1926, e Nempuku Sato (18981979),
em 1927.
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