Nempuku
Sato: Um mestre do haicai no Brasil
Talento respeitado entre os imigrantes, Sato iniciou a
divulgação do haicai na imprensa nipo-brasileira
(Por:
Edson Kenji Iura*)
Importância:
Nempuku Sato criou a maior comunidade de poetas
de haicai em língua japonesa fora do arquipélago
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Kenjiro
Sato (1898-1979) não era um imigrante comum. Trazia
em sua bagagem o conhecimento do haicai, a poesia japonesa
da natureza e das estações, e recebera de
Kyoshi Takahama, o maior mestre japonês do século
XX, a incumbência de propagar essa tradição
aqui, do outro lado do mundo. Nempuku era sua alcunha
literária. E, com esse nome, passou a ser lembrado
como uma das personalidades mais relevantes da cultura
japonesa no Brasil.
Apenas
alguns anos após sua chegada, Nempuku Sato iniciou
peregrinação pelas cidades dos Estados de
São Paulo e Paraná, localizando núcleos
de imigrantes e oferecendo-se para ensinar haicai. Era
uma grande novidade para aquelas pessoas que conheciam
apenas a rotina do trabalho no campo. O haicai representou,
para muitos imigrantes e seus filhos, por meio do estímulo
ao aprendizado da língua e da tradição
literária japonesas, a recuperação
e a conservação de sua identidade dentro
do Brasil.
Tornando-se
um mestre respeitado entre os imigrantes japoneses e seus
descendentes, Nempuku iniciou a divulgação
do haicai na imprensa nipo-brasileira e também
em sua própria revista, de nome Kokage, fundada
em 1948 e mantida até sua morte. Esse incansável
apostolado resultou na maior comunidade de poetas de haicai
em língua japonesa fora do Japão, estimada,
a seu tempo, em mais de 2 mil pessoas, entre discípulos
diretos e indiretos.
A
partir do trabalho de Goga Masuda, um dos discípulos
de Nempuku, os valores dessa poesia foram apresentados
à comunidade poética brasileira, abrindo-se
a possibilidade de se escrever haicais, dentro da tradição,
também em português. Assim, o legado de Nempuku
Sato se perpetua.
kaminari
ya
yomo no jukai no
kogaminari
O
trovão ribomba
Dos quatro cantos da selva,
filhos de trovão.
O haicai mais conhecido de Nempuku expressa o assombro
do imigrante ante a imensidão da natureza no novo
país. Em meio a um verdadeiro mar de árvores,
ouve-se o estrondo de um trovão. Para surpresa
do observador, pequenos trovões se anunciam, vindos
de todas as partes da floresta, como se fossem filhos
acudindo ao chamado do pai. Isso é algo que o japonês
nunca vira antes.
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