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Arte em Letras
Matéria publicada no Zashi edição 6 - fevereiro de 2008

Renga

Estilo poético é variante do tanka e permite que duas ou mais pessoas interajam na formulação dos versos

(Por: Kyoko Sekino*)

O renga é uma das artes de literatura japonesa relativas ao tanka, o “poema curto”. Primeiro, vamos recordar no que consiste o tanka. Trata-se de um poema dividido em versos de estrofe superior (kaminoku) de 5, 7, 5 sílabas e de estrofe inferior (shimonoku) de 7, 7 sílabas. No renga, por sua vez, a estrofe superior é composta por uma pessoa iniciando um tema e a inferior é lida por outra pessoa para concluí-lo, para que possa formar um tanka. Daí continuam os demais versos, seguindo a forma. O renga foi praticado como diversão, na qual duas ou mais pessoas participam reciprocamente.

História

O primeiro renga de que se tem notícia está na antiga obra literária japonesa chamada Manyoshû, na qual, no volume 8, Otomo no Yakamoti, um dos talentos do tanka na época elaborou um tanka com uma monja, jogando-lhe a estrofe superior e ela respondendo, para formar um tanka completo.

Essa forma da diversão de linguagem ganhou popularidade e foi praticada principalmente na corte. O auge do renga – praticado entre aristocratas, intelectuais e monges – pode ser observado nas Eras Kamakura e Muromachi. Nessa época, o renga superou o tanka em popularidade. Surgiram, durante esse período, especialistas do renga, como o monge aprendiz Gússai, o qual, em 1356, ajudou seu aprendiz de renga, Nijo Motoyoshi, a compilar a primeira coletânea especializada de renga, chamada de coletânea Tsukuba.

O renga praticado por especialistas como Gússai era chamado “renga de chão” (jiguê renga). Porém, como Nijo era aristocrata de hierarquia alta – pois trabalhava como regente de um imperador –, ocorreu uma fusão do renga de chão com renga lido por aristocratas, gerando o “renga consciente” (ushin renga). Na Era Muromachi, o renga foi elevado até criar suas próprias normas e teoria literária.

Na Era Edo, o “renga ingênuo” (mushin renga), praticado por pessoas comuns, era um tipo renga livre de normas e que tinha como principal intuito o riso com piadas, a graça e a sutileza inteligente, isto é, o renga de descontração. Independentemente do renga artístico, ele seguiu outro caminho e se estabeleceu no mundo literário, ficando conhecido como “renga de riso ” (haikai renga).

 

Elaboração
Tecnicamente, a elaboração de renga caracteriza-se pela improvisação. Na primeira estrofe de 5, 7, 5 sílabas, é chamado hokku e deve conter a palavra de estação (kigo) e o kireji. Na próxima estrofe, de 7 e 7 sílabas, é chamado agueku. A norma importante do renga é evitar repetição (rin’nê). Alguns rengas vieram a ser lidos por 10, 20 ou até 100, 300 estrofes superiores e inferiores reciprocamente.

Para finalizar, a respeito do renga consciente, cito um exemplo da famosa coletânea 300 versos de Minase (Minase sanguin hyakuin), compilada por Sougui, Shôhaku e Sôchô em 1488:

“Anoitece, a neve escamoteia montanhas se escurecerem,
por Soushi, (hokku, 1º verso)

Porém, água do riacho chegará longe a aldeias com o cheiro de primavera, a flor de ameixa,
por Sôhaku (2º verso)

O vento do rio revela a chegada da primavera, balançando os galhos de salgueiro,
por Sôshô (3º verso)

O barulho de barco se escuta na madrugada,
por Guí (4º verso)

A lua ainda fica no céu coberto de neblina,
por Kashiwa (5º verso)

Yukinagara, yamamotokasumu yûbekana
Yukumizu tooku, ume niou sato
kawakazenihitomura yanagiharumiete
funesasuotomo shirukiakegata
tukiyanao, kiriwataruyoni nokoruran


*Kyoko Sekino é professora substituta do Centro de Estudos de Línguas da Universidade de Brasília (UnB). Nascida no Japão, Kyoko também atua como tradutora da língua inglesa para a japonesa

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