Renga
Estilo
poético é variante do tanka e permite que
duas ou mais pessoas interajam na formulação
dos versos
(Por:
Kyoko Sekino*)
O
renga é uma das artes de literatura japonesa relativas
ao tanka, o poema curto. Primeiro, vamos recordar
no que consiste o tanka. Trata-se de um poema dividido
em versos de estrofe superior (kaminoku) de 5, 7, 5 sílabas
e de estrofe inferior (shimonoku) de 7, 7 sílabas.
No renga, por sua vez, a estrofe superior é composta
por uma pessoa iniciando um tema e a inferior é
lida por outra pessoa para concluí-lo, para que
possa formar um tanka. Daí continuam os demais
versos, seguindo a forma. O renga foi praticado como diversão,
na qual duas ou mais pessoas participam reciprocamente.
História
O primeiro renga de que se tem notícia está
na antiga obra literária japonesa chamada Manyoshû,
na qual, no volume 8, Otomo no Yakamoti, um dos talentos
do tanka na época elaborou um tanka com uma monja,
jogando-lhe a estrofe superior e ela respondendo, para
formar um tanka completo.
Essa
forma da diversão de linguagem ganhou popularidade
e foi praticada principalmente na corte. O auge do renga
praticado entre aristocratas, intelectuais e monges
pode ser observado nas Eras Kamakura e Muromachi.
Nessa época, o renga superou o tanka em popularidade.
Surgiram, durante esse período, especialistas do
renga, como o monge aprendiz Gússai, o qual, em
1356, ajudou seu aprendiz de renga, Nijo Motoyoshi, a
compilar a primeira coletânea especializada de renga,
chamada de coletânea Tsukuba.
O
renga praticado por especialistas como Gússai era
chamado renga de chão (jiguê
renga). Porém, como Nijo era aristocrata de hierarquia
alta pois trabalhava como regente de um imperador
, ocorreu uma fusão do renga de chão
com renga lido por aristocratas, gerando o renga
consciente (ushin renga). Na Era Muromachi, o renga
foi elevado até criar suas próprias normas
e teoria literária.
Na
Era Edo, o renga ingênuo (mushin renga),
praticado por pessoas comuns, era um tipo renga livre
de normas e que tinha como principal intuito o riso com
piadas, a graça e a sutileza inteligente, isto
é, o renga de descontração. Independentemente
do renga artístico, ele seguiu outro caminho e
se estabeleceu no mundo literário, ficando conhecido
como renga de riso (haikai renga).
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Elaboração
Tecnicamente, a elaboração de renga caracteriza-se
pela improvisação. Na primeira estrofe de
5, 7, 5 sílabas, é chamado hokku e deve
conter a palavra de estação (kigo) e o kireji.
Na próxima estrofe, de 7 e 7 sílabas, é
chamado agueku. A norma importante do renga é evitar
repetição (rinnê). Alguns rengas
vieram a ser lidos por 10, 20 ou até 100, 300 estrofes
superiores e inferiores reciprocamente.
Para
finalizar, a respeito do renga consciente, cito um exemplo
da famosa coletânea 300 versos de Minase (Minase
sanguin hyakuin), compilada por Sougui, Shôhaku
e Sôchô em 1488:
Anoitece,
a neve escamoteia montanhas se escurecerem,
por Soushi, (hokku, 1º verso)
Porém,
água do riacho chegará longe a aldeias
com o cheiro de primavera, a flor de ameixa,
por Sôhaku (2º verso)
O
vento do rio revela a chegada da primavera, balançando
os galhos de salgueiro,
por Sôshô (3º verso)
O
barulho de barco se escuta na madrugada,
por Guí (4º verso)
A
lua ainda fica no céu coberto de neblina,
por Kashiwa (5º verso)
Yukinagara,
yamamotokasumu yûbekana
Yukumizu tooku, ume niou sato
kawakazenihitomura yanagiharumiete
funesasuotomo shirukiakegata
tukiyanao, kiriwataruyoni nokoruran
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