Um campeonato de pesca realizado no final de maio, em Nanto,
distrito de Watarai (Mie), comprovou que a pesca continua em
alta entre os brasileiros. A competição reuniu
nada menos que 75 participantes no pesqueiro Denpachi.
Mais
do que uma aventura que começa na boca da madrugada,
o evento é uma revelação de que o máximo
dos exageros das histórias de pescadores pode ser pouco
quando o objetivo é desvendar as razões que provocam
a paixão pela modalidade. Acredite quem quiser, mas o
campeonato comprovou que nem todo peixe morre pela boca. E,
surpreendentemente, que há seres aquáticos com
tendência vegetariana, fissurados em tomates.
Pescador
desde os 12 anos de idade, Mário Saito, 33, que mora
na cidade de Yokkaichi (Mie), conseguiu uma proeza inédita.
Ele pegou um hamati de 5 kg pela cauda. Já fisguei
pela barriga, mas pelo rabo foi a primeira vez, conta.
A façanha, contudo, deixou o brasileiro envergonhado.
É triste, dolorido, incluir a experiência
em meu currículo, porque considero que foi apenas um
golpe de sorte e não domínio de técnica.
Saito
acredita que o peixe estava atrás da isca, virou de repente
e acabou prendendo a cauda no anzol. É mais difícil
ter o controle de um peixe fisgado por trás. Pela boca,
embora ele perca um pouco da força, a disputa é
mais emocionante. É preciso vencê-lo pelo cansaço
e pelo conhecimento técnico, diz. Entre todos,
Saito pescou a maior amostra, porém, não competiu
por que era integrante da equipe organizadora.
O inusitado teve direito a repeteco com Seijo Massani Kuwahara,
34, de Suzuka (Mie). Com um hamati de 4,85 kg, pescado pela
traseira, conquistou o título de campeão, na categoria
Peixe Maior. O pescador assina outra façanha curiosa.
Ele é o único que utiliza tomates cerejas como
isca e por isso ganhou o apelido de Tomateiro. Vi um pé
de tomate no estacionamento do pesqueiro. Apanhei alguns e comecei
a utilizar como isca e a coisa funcionou. Eu, que nunca conseguia
nada com a isca de dango (massa), peguei sete grandes Tais naquele
dia, conta.
Os
amigos, diz Kuwahara, não param com a gozação
sobre os peixes vegetarianos. Acho que eles são
atraídos pela cor vermelha dos tomates, a mesma da isca
de massa. O único inconveniente é que os frutos
são moles e, algumas vezes, a presa escapa, esclarece.
O
brasileiro descobriu o hobby só há seis meses,
por intermédio de um amigo que o convidou para conhecer
um dos muitos pesqueiros de Mie. Só para matar a curiosidade,
ele explicou que a ostentação aurífera
não se trata de mandinga de pescador calouro, mas o hábito
de nunca se separar do investimento conquistado com o prêmio
de loteria.
A
multiplicação dos peixes não foi igual
para todos. Thiago Makimoto, 17, de Kuwana (Mie), saiu com o
saldo de zero peixe. Para outros desencantados, não voltar
para casa boozu (carecas de peixe) foi uma questão de
honra.
Caso
de Hitoshi Furuga, o Chicão, 49, de Yokkaichi, pescador
veterano, mas em água doce. Costumo pescar no lago
Biwa (Shiga) e nos rios de Suzuka, porque considero que os peixes
fluviais são mais saborosos. As técnicas de pesca
para mar e rio são bem diferentes. Aqui, não estou
conseguindo encontrar a isca certa, diz.
Furuga
conseguiu salvar a honra quase no final da competição.
Seu colega, Marcos Imoto, 34, passou pelo mesmo apuro. Quando
pegou, não conteve a emoção. Olha,
Gabi, o peixe que o papai conseguiu pegar, disse o brasileiro,
ao exibir como criança o troféu à filha
Gabriela.