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Matéria
publicada no Zashi edição 10 - Junho de 2008
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Taikô:
Som e sentimento
Tambor
japonês é envolto em lendas e misticismo
(Por
Equipe Zashi | Colaboração: Andreano Takahashi
e Suzana Sakai)
Desde
um ritual para atrair a deusa do Sol até um simples
instrumento de comunicação. São diversas
as histórias que tentam explicar a origem do taikô,
o tambor japonês que possui relação
com cerimônias religiosas e eventos festivos.
Registros
históricos mostram que o taikô já era
utilizado no Japão há cerca de 2 mil anos,
nas Eras Jomon e Yayoi, como instrumento de comunicação.
No entanto, ele passou a ser conhecido pelo encantamento
e o misticismo que o envolve. Supõe-se que
esse instrumento tenha sido utilizado amplamente em festividades
e cerimônias religiosas. Temos como exemplo a mitologia
japonesa, que conta que, para despertar a atenção
da deusa do Sol, que vivia escondida em uma caverna rochosa,
um dos deuses dançou sobre um tambor para que ela
saísse. Histórias como essa nos dão
a idéia da antiguidade das origens dos taikôs
religiosos e festivos. O taikô também era considerado
a morada dos deuses e das almas dos antepassados que se
encontravam instalados nos templos como objeto sagrado,
afirma o professor Daihati Oguti, no Manual de Taikô.
Mundo
da arte
No final do século XIV, o uso do taikô, que
até então se restringia às comemorações
religiosas, passou também a ser utilizado como instrumento
musical nas artes cênicas, em especial no teatro Kabuki.
Na Era Edo, difundiu-se o efeito do som no Kabuki
como instrumento de música folclórica. A partir
de então, surgiram em outras regiões do país
[Japão] os diferentes estilos de taikô, com
diversas denominações alusivas aos nomes dos
respectivos locais ou aos nomes das festividades a que se
destinavam, explica Oguti em um dos textos do Manual
de Taikô.
No
Brasil
A difusão do taikô no Brasil começou
há cerca de nove anos. No primeiro ano, os tocadores
de taikô passaram por etapas de recepção
dos tambores, programas de treinamento, organização
de festivais e a realização do 1º Campeonato
de Taikô.
Em
2002, a Associação Brasileira de Taikô
(ABT) iniciou oficialmente suas atividades, com apoio da
Nipon Taiko Foundation. A ABT conta, hoje, com 72 grupos
associados em diversas regiões do país. Nosso
objetivo é dar oportunidade às crianças,
adolescentes e aos jovens de conhecer e transmitir os valores
tradicionais milenares do Japão, declara o
presidente da ABT, Pedro Yano.
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Vibração e disciplina
O principal atrativo do taikô japonês é
a sua vibração. Soltar a voz, dar aquele
grito no meio da apresentação, mostrar a vibração
é muito importante, diz Mitsuko Ishibashi,
funcionária da Associação Brasileira
de Taikô (ABT) e líder do grupo Fukuhaku.
Postura
em frente ao tambor e disciplina no palco são alguns
pontos que também chamam atenção durante
as apresentações. Na troca de música,
os movimentos devem ser rápidos e disciplinados,
revela Mitsuko.
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Curiosidades
Nos tempos remotos, o taikô era considerado
um instrumento precioso que possibilitava a comunicação
entre os deuses, as almas e os seres humanos. Acreditava-se
que, após um período de abstinência
e purificação, ao tocar o taikô com
a alma, os deuses surgiam para atender os desejos humanos.
No arquipélago, pesquisadores defendem a tese de
que, na era pré-histórica, os habitantes da
região do Lago Nojiri, atacavam os elefantes emitindo
gritos e batendo em um objeto semelhante ao taikô.
A forma de tocar taikô nos dias de hoje, em especial
o sistema de toques múltiplos, tem origens no Jindaiko
(tambor de guerra), que os comandantes da era bélica
japonesa inventaram com o intuito de conquistar e fazer
emergir a força mística que o taikô
possui para levantar a moral dos comandantes.
O estilo do taikô varia de grupo para grupo, pois,
sempre que alguém ensina esta arte, passa junto um
pouco de si.
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Taikô no Eisá de Okinawa
Pela
sua história e localização, Okinawa
tem sua própria cultura. Uma delas é Eisá,
a dança tradicional de dia dos finados, que existe
há mais de 400 anos. Ela foi introduzida como uma
dança de oração para Buda, Jangara-Nenbutsu-Odori,
por um monge da ilha principal japonesa.
No
começo, a coreografia tinha um movimento muito
lento e era acompanhada com o sanshin, instrumento okinawano.
Com o tempo, foram criados outros estilos, mais modernos,
movimentados e vivos. O primeiro ponto decisivo para essa
mudança ocorreu com a modernização
do Japão. Eisá, que antes era acompanhada
de músicas budistas, passou a adotar melodias folclóricas
e ganhou o som do taikô. O segundo momento acontece
após a Segunda Guerra Mundial. Durante a reconstrução
das cidades destruídas, o Eisá motivava
os jovens okinawanos. Reunidos em grupos, eles passaram
a concorrer uns com os outros com sua dança e seu
desempenho no taikô.
Hoje,
o estilo ainda está em evolução.
O grupo de Eisá Sosaku Geidan Requios, que esteve
recentemente no Brasil para realizar seus shows, mostra
a evolução da cultura okinawana. O grupo
liderado por Tadatoshi Teruya, reconhecido no meio, apresentou
suas inovações, como por exemplo, a introdução
de rock na dança tradicional. A cultura okinawana
é uma cultura Chanpú [misturada].
Ela se mantém viva enquanto preserva a parte tradicional
e cria novas formas mescladas com outros estilos. Eisá
também está nessa mistura disse Teruya.
Ele indica os charmes da dança. Eisá
tem movimento. Com os taikôs, os tocadores mostram
a dança movimentada, agressiva. Isso dá
uma grande diferença com outros estilos de taikô.
Além disso, no final, sempre ocorre a dança
Kachashí, que faz o público dançar
junto. Eisá é um símbolo de mistura
e harmonia. Isso mostra a arte do entretenimento popular
de Okinawa explica Teruya.
Perfil
do Grupo
O grupo de Eisá Sosaku Geidan Requios foi fundado
em 1998 por Tadatoshi Teruya. Ele é composto por
15 membros adultos e 30 adolescentes. Com arranjamento
e criação, o grupo estabeleceu um novo estilo
de Eisá e se apresenta em várias localidades
no Japão e no exterior. Além dos shows,
os membros do Sosaku Geidan Requios ainda
orientam as crianças das creches de Okinawa.
Show
em São Paulo
Comemorando o centenário da imigração
japonesa no Brasil, o grupo realizou shows em quatro cidades
brasileiras no mês de maio.
Em
São Paulo, o público lotou o grande auditório
da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo).
O evento teve a participação do cantor Hidekatsu
e outros grupos de Okinawa, tendo no final o Kachashí,
que fez o público vibrar de alegria.
1,2
mil tocadores no Anhembi
Um dos grandes desafios da Associação Brasileira
de Taikô (ABT) é a apresentação
com 1,2 mil tocadores de taikô no Anhembi, durante
as comemorações do centenário da
imigração japonesa no Brasil.
O
evento contará com a participação
de tocadores de diversas partes do país, que foram
selecionados pelo professor japonês Toshiyasu Minowajica.
A princípio, eram para ser mil tocadores,
mas esse número acabou estourando. Recebemos cerca
de 1,4 mil inscrições e, destas, foram selecionadas
1,2 mil, por meio de apresentações,
explica a funcionária da ABT e líder do
grupo de taikô Fukuhaku, Mitsuko Ishibashi.
Na
ocasião, será executada a música
Kizuna, que significa laços de amizade.
A canção foi composta por Dai Hachi Oguchi
e Youichi Watanabe e homenageia o centenário da
imigração japonesa no Brasil.
Segundo
o presidente da ABT, Pedro Yano, a apresentação
representa a amizade entre o Brasil e o Japão.
A comemoração do centenário
não é a finalização e sim
o começo de um laço que irá permanecer
por toda a eternidade, afirma.
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