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Matéria
publicada no Zashi edição 3 - Novembro de
2007
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Tradição
na ponta dos pés
Danças
folclóricas são precioso tesouro cultural
japonês
e um dos maiores símbolos da identidade de seu povo
(Por
Equipe Zashi | Fotos: JNTO/Divulgação)
O
Bunka no Hi é um dos feriados nacionais do calendário
japonês. Comemorado no dia 3 de novembro, em português,
a data é chamada de Dia Nacional da Cultura.
Nesse contexto, nenhum momento parece mais sugestivo do
que este para enfatizar aquilo que o povo do arquipélago
tem de mais precioso: suas tradições culturais.
Assim, nesta edição, em homenagem ao Bunka
no Hi, a equipe Zashi selecionou apenas um dos aspectos
culturais mais marcantes do Japão para ser o assunto
desta e das próximas páginas: as danças
folclóricas do arquipélago. Se você
não sabe muito sobre esse assunto, leia atentamente
a matéria a seguir: provavelmente você vai
se encantar com a riqueza que envolve essas tradições
milenares. No entanto, se você já conhece o
tema, aproveite a leitura para celebrar a importância
de se manter vivo o folclore que faz parte da história
de uma das sociedades mais antigas do planeta.
Diversidade
Cultural
As
danças folclóricas japonesas são um
dos patrimônios culturais de maior importância
do Oriente. Um assunto que, além de antigo, é
repleto de minúcias, particularidades regionais e
de gêneros. Como manifestação cultural,
elas são parte da vida dos japoneses desde tempos
imemoriáveis.
Os
festivais organizados para celebrar colheitas, início
de estações, proteção dos deuses
e muitos outros temas típicos do calendário
do arquipélago são marcados pelas danças
de origem folclórica, populares até os dias
de hoje algumas delas não só no Japão,
como também fora dele, em países como o Brasil,
por exemplo, que concentra uma das maiores comunidades de
descendência japonesa fora do arquipélago (veja
quadro Curiosidade: Bon Odori ocidentalizado). Nesse caso,
a adaptação da cultura oriental aos costumes
dos imigrantes em terras estrangeiras também se reflete
na dança.
Porém,
com o surgimento do teatro kabuki, durante a Era Edo (1603
a 1867), a dança adquiriu uma faceta mais sofisticada,
dando origem a modalidades chamadas de clássicas,
praticadas por pessoas especializadas e objeto de arte apreciado
pelas camadas mais nobres da sociedade da época
fato este que, guardadas as devidas proporções
de séculos mais tarde, pode-se dizer que perdura
entre os japoneses, haja vista que o kabuki constitui, hoje,
um gênero teatral prestigiado pelas camadas mais abastadas
dentro e fora do Japão, sendo extensamente aclamado
em países como a França, por exemplo.
Entretanto,
dentro da perspectiva das danças folclóricas,
é importante ressaltar que essa popular forma de
integração e celebração entre
os japoneses foi evoluindo, dando origem a outras modalidades
também populares e criadas de acordo com as particularidades
de cada região. Nesse aspecto, é preciso entender
que cada localidade e o Japão tem 47 províncias,
além das muitas cidades desenvolveu, ao longo
da história do país, tradições
próprias em vários sentidos e, no que se refere
às danças folclóricas, não foi
diferente. Assim, hoje, o turista que visita o arquipélago
pode se encantar com danças regionais de fama nacional,
mas executadas apenas em suas províncias de origem.
O Awa Odori (veja o quadro Algumas danças folclóricas)
de Tokushima é um exemplo desse fato.
Manifestações
folclóricas desenvolveram-se de forma espontânea
em diversas localidades do arquipélago
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Odori
Gestos
ligados a elementos da natureza compõem a coreografia
das danças
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A
palavra acima indica danças populares no Japão.
De acordo com as pesquisas históricas, odori também
designa um estilo de dança que se popularizou durante
a era medieval no arquipélago. Conta-se que o odori
influenciou de maneira muito intensa o kabuki. No entanto,
várias manifestações folclóricas
japonesas desenvolveram-se espontaneamente por todo o país
e não têm um especialista de origem acadêmica
para estudo do assunto. Trata-se de um fenômeno antes
de tudo social, cultural, e uma das sínteses da expressão
tradicional do povo japonês.
Em
todos os lugares do mundo, qualquer movimento natural ritmado
é chamado de dança, explica
Hiroyuki Ikema, em seu livro Folk Dance of Japan (Danças
folclóricas do Japão, inédito em português).
Ainda de acordo com ele, não há, na antiga
língua japonesa, uma palavra específica para
significar natureza. Homem e natureza
são inseparáveis e existem como unidade, uma
só coisa, então as pessoas não precisam
ter uma palavra específica para natureza, justifica.
Assim, ele prossegue dizendo que os gestos naturais que
compõem as danças folclóricas no arquipélago
freqüentemente têm relação com
elementos da natureza. No Japão, usamos as
mãos e seu movimento são a primeira coisa
na dança. Esses passos geralmente representam árvores,
flores e plantas cultivadas, como a dos arrozais, que balançam
ao vento, descreve em seu livro.
Dessa
forma, segundo Ikema, é possível reconhecer
diversos movimentos que compõem as danças
folclóricas no Japão, particularmente aqueles
que têm significados ligados a cerimônias e
costumes de veneração da natureza realizados
em tempos antigos. Na dança folclórica
japonesa, antes de começar a coreografia, você
deve segurar as palmas das mãos juntas, unidas em
frente ao tronco, e então bater palma. À parte
à questão das danças, os japoneses
costumeiramente batem palmas juntos em diversas ocasiões,
por exemplo, ao fim de um encontro de grupo de pessoas,
para simbolizar unidade e amizade, contextualiza o
pesquisador.
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Algumas danças folclóricas
Bon
Odori
Essa coreografia faz parte de um festival
homônimo realizado anualmente durante o verão,
em todo o Japão, em respeito aos espíritos
dos que já morreram. É tida como uma das
danças foclóricas mais populares do arquipélago.
Possivelmente, é a dança que mais conseguiu
ultrapassar as fronteiras do Japão e, atualmente,
também é executada em países como
o Brasil, a China, a Malásia, os Estados Unidos
e o Canadá.
O
Awa Odori, de Tokushima: cultura e plasticidade
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Awa
Odori
Dança-tema do festival folclórico
de Tokushima. Trata-se de um estilo livre, criado nessa
província como uma maneira especial de se comemorar
o Obon, ou seja, de celebração aos espíritos
dos antepassados. Hoje, o Awa Odori é capaz de
atrair cerca de mil grupos de todo o país em Tokushima
durante alguns dias da primeira quinzena de agosto, quando,
normalmente, o festival se realiza.
Gujo
Odori
É a principal atração
do festival de dança de mesmo nome e um dos principais
do Japão. Sua origem data de cerca de 400 anos atrás
e, hoje, o Gujo Odori é um dos patrimônios
culturais intangíveis do arquipélago, dada
a sua proeminência. Esse festival é definido
como a dança para ser dançada,
em oposição à dança para
ser vista. Seu festival é grandioso e costuma
se estender entre os meses de julho e setembro, quando dez
tipos de danças são executadas em turnê
por toda a cidade.
Hanagasa
Odori
Realizada em Yamagata, essa dança também
é considerada uma das mais tradicionais do país.
A onda dos kasa, chapéus de bambu, e
a dança dinâmica e vívida atraem o público.
A coreografia era, na verdade, uma música folclórica
e se modificou para a forma que tem até os dias de
hoje no início da Era Showa (1926 a 1988). O festival
de Yamagata atrai 1 milhão de pessoas em seus três
dias de duração.
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Curiosidade:
Bon Odori ocidentalizado
Quando
os imigrantes japoneses trouxeram o Bon Odori para o Brasil,
certamente não imaginavam que a dança típica
do Japão serviria como base para a criação
de um novo estilo no Ocidente: o Matsuri Dance.
Considerado
uma versão moderna do Bon Odori, ele mescla elementos
da dança japonesa com alguns toques do Ocidente.
A coreografia é realizada em círculo e todos
os participantes fazem os mesmos passos, que variam desde
o Bon Odori até o funk. A dança é embalada
por um som eclético, que mistura ritmos como pop,
funk e rock com o tradicional taikô e o moderno J-pop.
O
novo estilo que já integra a programação
da maioria das festividades japonesas foi criado
em 2003, pelo grupo Sansey de Londrina, que o considera
uma genuína dança da integração,
sem restrição de idade, sexo e nacionalidade.
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