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Matéria
publicada no Zashi edição 8 - Abril de 2008
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Além
do Imperador
Situação
dos japoneses no período pós Segunda Guerra
foi resultado de uma série de acontecimentos marcantes
(Por
Suzana Sakai | Colaboração: Erika Horigoshi)
Com
Brasil e Japão em lados opostos durante a Segunda
Guerra Mundial, reuniões de imigrantes passaram
a ser proibidas pelo governo verde-amarelo
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Processo de ocidentalização entre a
comunidade imigrante foi responsável
pelo racha que solidificou os grupos kachigumi e makegumi
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Notícia
da rendição do Japão na guerra
desestruturou a colônia japonesa
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Membros
da Shindo Renmei ameaçavam suas futuras vítimas
escrevendo seus nomes em ihai (tabuletas memoriais)
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Escolas estrangeiras foram proibidas pelo governo
brasileiro
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Já
era noite quando sete japoneses vasculhavam a cidade de
Tupã, armados com catanas afiadas, bastões
de madeira e o forte desejo de vingança contra o
gaijin (estrangeiro, em japonês) que teve a ousadia
de limpar as botas com a bandeira do Japão. Souberam
que ele estava no Tênis Clube e seguiram para o local.
Lá, foram cercados por policiais armados de fuzis.
Explicaram que não desgostavam dos brasileiros ou
do exército, mas que precisavam assassinar o homem
que havia maculado a bandeira do arquipélago. Ao
serem colocados frente a frente com ele, um dos japoneses
não se conteve e partiu para cima do gaijin. Os sete
foram presos e interrogados. Apesar da situação,
sentiam-se tranqüilos e felizes. Foram aclamados pela
colônia japonesa. Tinham honrado a bandeira do Japão.
O
episódio acima, que se refere à história
dos Sete Samurais de Tupã, foi um dos estopins para
o desenvolvimento da sociedade secreta Shindo Renmei, a
Liga dos Seguidores do Caminho dos Súditos, que entrou
para a história da imigração japonesa
e do período pós-guerra no Brasil. Adjetivos
como fascismo e fanatismo sempre foram associados à
Shindo Renmei. Para esclarecer um pouco mais sobre esse
assunto, que dividiu a comunidade imigrante nesse período
conturbado da história, a equipe Zashi decidiu mergulhar
fundo no passado e trazer um novo olhar sobre esse fato
histórico, que você acompanha a partir de agora.
Perseguições
e divisões
Década de 40. O Brasil transforma-se no país
que abriga o maior número de descendentes japoneses
fora do arquipélago. Entretanto, as duas nações
encontram-se em lados opostos na Segunda Guerra Mundial.
Os nipônicos, que já sofriam discriminação
étnica por parte dos brasileiros, passam a ser alvo
de constantes perseguições. Jornais e escolas
de língua estrangeira são censurados, ou seja,
todas as fontes de comunicação consideradas
confiáveis pelos japoneses são vetadas. Milhares
de nipônicos, em especial os que viviam em regiões
litorâneas, são obrigados a deixar suas residências
e partir para um local designado pelo governo estado-novista.
Nesse
difícil contexto, os imigrantes japoneses também
brigam entre si e se dividem em dois grupos: os kachigumi
(nacionalistas ou vitoristas) e os makegumi (impatriotas
ou derrotistas). Os imigrantes japoneses foram vítimas
de preconceito logo que aportaram, em 1908, em Santos. Não
demoraria para que brasileiros começassem a rotulá-los
como preguiçosos, falsos, traiçoeiros, etc.
Contudo, foi durante o Estado Novo, ditadura instaurada
por Getúlio Vargas, que os japoneses mais sofreram
com o preconceito eram acusados por representantes
governamentais, como o próprio Francisco Campos,
ideólogo da Constituição de 1937, de
serem formadores de quistos étnicos,
explica o pesquisador e historiador Leonardo Bahiense, autor
da dissertação Em nome do imperador: reflexões
sobre a Shindo Renmei e sua campanha pela preservação
da etnicidade japonesa no Brasil.
Provavelmente
você deve estar se perguntando: Por que os japoneses
se separaram em um momento tão difícil?.
A resposta, segundo Bahiense, é: Os nipônicos
não se uniram porque alguns deles e também
seus descendentes passaram por um processo de ocidentalização,
isto é, incorporaram traços da cultura brasileira.
Tal processo engendrou enfrentamentos e clivagens que possibilitaram
o surgimento de sociedades clandestinas, como a Shindo Renmei.
Só
para se ter uma idéia, cerca de 85% dos nipônicos
faziam parte dos kachigumi. Esse fator propiciou o nascimento
de diversas sociedades secretas, que visavam à preservação
do yamato damashii (espírito japonês). No entanto,
devido à sua grande organização, a
Shindo Renmei, que foi fundada em Marília, em 1942,
tornou-se a mais forte entre elas. A meu ver, a Shindo
foi uma sociedade que tinha, inicialmente, o objetivo de
manter aspectos culturais japoneses [o espírito japonês
e culto ao imperador] e que acabou se desvirtuando ou se
desviando do caminho original, devido à falta de
controle da sede em São Paulo com relação
às mais de 60 filiais no interior do Estado, ao fanatismo
de uma facção [minoria] dentro da própria
Shindo e à má-fé de alguns que se aproveitaram
do momento de crise para cometer atos ilícitos contra
os próprios conterrâneos, afirma Rogério
Dezem, historiador e autor do livro Shindô-Renmei:
Terrorismo e Repressão.
Fatos
e fatores
Aqui, cabe uma pausa para explicar que, apesar de a Shindo
Renmei sempre ter sido associada a atos extremistas por
parte de alguns integrantes da organização,
ela não nasceu com esse ideal. Houve, na realidade,
um conjunto de fatores que impulsionaram a sua difusão.
Alguns deles estão ligados às condições
em que viviam os nipônicos e às perseguições
da ditadura Vargas. Genericamente falando, a maioria
dos japoneses que migraram para os trópicos foram
para as fazendas de café do interior de São
Paulo e adjacências. Eram homens de pouca cultura
[muitos não falavam a língua portuguesa],
mais conservadores, homens que foram seduzidos pelo discurso
dos integrantes da Shindo Renmei. Tal discurso oferecia
um sentido às suas vidas. Os derrotistas, de sua
parte, viviam em esferas urbanas, apresentavam um nível
cultural mais elevado [falavam o português]; eram
representantes da classe média [médicos, comerciantes,
tradutores] e estavam integrados ou semi-integrados à
sociedade brasileira. Por isso, promoveram uma campanha
contrária à Shindo Renmei e a outras associações
vitoristas, revela Bahiense. Outro fator que foi determinante
no surgimento da sociedade foi a educação
japonesa e o culto ao imperador como uma divindade. A
quase totalidade dos japoneses que vieram para cá
foram educados a partir da Era Meiji [1868-1912], que tinha
como base o Reescrito Imperial da Educação
[1890]. A notícia da derrota do imbatível
Japão, em agosto de 1945, causou espanto e tristeza
para muitos japoneses aqui radicados. No entanto, para a
maioria deles, ela causou confusão e apreensão.
Seria propaganda norte-americana? Provocação
das autoridades brasileiras? Como o Japão havia sido
derrotado? Impossível, pois o imperador Hirohito
ainda vivia. Caso a notícia da derrota fosse verdadeira,
o imperador seria o primeiro a cometer seppuku. Era dessa
forma que, no Brasil, muitos fiéis súditos
japoneses raciocinavam naquele momento, conta Dezem.
Momentos de tensão
Os japoneses sofriam perseguições étnicas,
estavam destituídos de fontes de informação
confiáveis e ainda brigavam entre si. Mas a situação
estava prestes a piorar e foi o que aconteceu quando o imperador
Hirohito comunicou a rendição do arquipélago
pela rádio japonesa.
Os
imigrantes, que nunca haviam escutado a voz do imperador
e acreditavam que o Japão era invencível,
pois dispunha de proteção divina, não
aceitavam a rendição do país. A
notícia da derrota do Japão e a repressão
vivida pelos japoneses no período vão gerar
uma grande confusão no seio da colônia japonesa.
No final de 1945, a Shindo toma a dianteira nos atos de
violência [lista negra, ameaças de morte],
no entanto, cabe ressaltar que uma ínfima parte [menos
de 5%] dos supostos 120 mil associados tem ligação
com atentados e atos de violência, revela Dezem.
Longe
de sua pátria e em território inimigo, era
muito difícil para os japoneses saberem em quem acreditar.
Uma pequena parte dos kachigumi falsifica fotos e notícias
para convencer os demais da suposta vitória do Japão.
Os makegumi, por sua vez, redigem textos esclarecedores
sobre a real situação do arquipélago.
Mal sabiam eles que, ao escreverem tais documentos, estavam
assinando uma sentença de morte.
A
Shindo Reimei foi a protagonista da crise vivenciada pela
colônia japonesa no pós-guerra. No entanto,
ela já estava destinada a acontecer, como explica
Dezem: A Shindo foi o epicentro da crise vivenciada
naqueles anos. É necessário deixar claro que
não foi a Shindo que desencadeou a crise; ela foi,
na realidade, o seu principal produto. A singularidade da
situação encontra-se, entre outros fatores,
no fato de que a Shindo Renmei foi um fenômeno único,
tanto na história das imigrações japonesas
mundo afora, como também na história das imigrações
que para cá aportaram. Um fenômeno complexo,
que, em minha opinião, está começando
a ser seriamente estudado.
Glossário
Shindo Renmei: Liga dos Seguidores do Caminho
dos Súditos
Kachigumi: Vitoristas, patriotas
Makegumi: Derrotistas, impatriotas
Yamato Damashii: Espírito japonês
Seppuku: Suicídio
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Cronologia
1937
Com foco na educação, o Estado
Novo inicia a campanha de nacionalização no
Brasil. O ensino da língua portuguesa passa a ser
obrigatório, assim como diretores e professores de
escolas deveriam ser brasileiros. As novas leis inviabilizam
as escolas estrangeiras.
1941
Ocorre o ataque a Pearl Harbor pela Marinha
Imperial Japonesa. Intensificam-se as perseguições
étnicas contra japoneses no Brasil.
1942
Jornais de língua estrangeira são
proibidos. A Shindo Renmei é fundada em Marília.
1943
Surgem boatos de que a menta e o bicho-de-seda eram exportados
para os EUA e utilizados como material bélico. O
Estado Novo inicia uma campanha de evacuação
de imigrantes japoneses do litoral paulista. O governo decide
que 7 mil nipônicos devem ser removidos para a capital
em um prazo de seis dias.
15/08/1945
O imperador Hirohito comunica a rendição
do arquipélago pela rádio japonesa. Ikuta
Mizobe, diretor-gerente da Cooperativa Agrícola de
Bastos, escuta a notícia por um radioamador e escreve
uma nota comunicando que o Japão teve que aceitar
a proposta das quatro potências.
02/09/1945
A rendinção incondicional do
Japão é assinada em Tóquio. Na mesma
data, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, surgem
boatos de que um diplomata japonês viria ao Brasil
ratificar a vitória do Japão.
11/09/1945
Cerca de 2 mil japoneses vindos de diversas
cidades de São Paulo deslocam-se para o Porto de
Santos, à espera de uma suposta esquadra da Marinha
Imperial Japonesa, que viria ao Brasil para repatriar os
nipônicos. Nenhum navio japonês apareceu.
28/09/1945
O delegado de Bastos, Luiz de Godoy e Vasconcelos,
impõe severas leis aos imigrantes japoneses. Entre
elas, a proibição de reuniões entre
nipônicos e a exigência da utilização
do idioma português em locais públicos.
05/10/1945
Os makegumi (derrotistas) produzem um texto,
escrito em japonês, com o intuito de revelar aos imigrantes
a verdadeira situação do Japão no pós-guerra.
O documento trazia também a Proclamação
Imperial.
13/12/1945
Chega ao Brasil, por meio da Cruz Vermelha
Brasileira, os textos do Édito Imperial e do ministro
dos Negócios Estrangeiros, Shigenori Togo, sobre
o término da guerra dirigido aos patrícios
no exterior.
03/01/1946
Os sete samurais de Tupã
partem em busca do gaijin que limpou as botas com a bandeira
do Japão. Não conseguem se vingar. São
presos, mas tornam-se heróis dentro da comunidade
japonesa.
30/01/1946
Membros da Shindo Renmei apontam a Cooperativa
Agrícola de Bastos como um centro de anarquia, devido
à campanha de seus diretores em favor da derrota
do Japão.
12/02/1946
O Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) envia um relatório à Segunda Seção
do Estado Maior do Exército sobre as sociedades clandestinas
que se difundem na comunidade nipônica.
15/02/1946
Tadao Shiraishi, dirigente da Shindo Renmei
de Tupã, organiza um plano para conter as ações
dos derrotistas da cidade de Bastos.
07/03/1946
Ikuta Mizobe, diretor-gerente da Cooperativa
Agrícola de Bastos, é assassinado em sua própria
casa, atingido por um tiro nas costas disparado pelo professor
Satoru Yamamoto.
01/04/1946
O ex-diplomata Shigetsuna Furuya é ferido
em um atentado da Shindo Renmei. No mesmo dia, o ex-redator-chefe
do jornal Nippak Shimbun, Chuzaburo Nomura, é assassinado
em sua casa por membros da sociedade secreta.
08/05/1946
O líder da Shindo Renmei, Junji Kikawa,
é preso pelos policiais do Dops. Mesmo na prisão,
Kikawa continua a comandar os vitoristas.
02/06/1946
Os tokkotai (Grupo especial de ataque) assassinam
o ex-coronel Jinsaku Wakiyama.
19/07/1946
Autoridades brasileiras encontram-se com cerca
de 400 kachigumi no Palácio de Campos Elíseos.
O ex-embaixador e interventor federal em São Paulo,
Macedo Soares, faz a reunião com o intuito de conter
as atividades dos vitoristas.
30/07/1946
O motorista Pascoal de Oliveira, conhecido
como Nego, é assassinado pelo jovem Kababe
Massane. Os brasileiros de Osvaldo Cruz passam a atacar
os nipônicos da região.
10/08/1946
O Dops decreta a expulsão de 81 japoneses,
considerados mandantes das sociedades clandestinas do território
japonês.
27/08/1946
Os deputados Miguel Couto e José Augusto
apresentam, na Assembléia Constituinte, uma emenda
proibindo a entrada de novos imigrantes japoneses. A votação
acaba empatada.
1947
Período marcado pelo desgaste da Shindo
Renmei. Os líderes da sociedade são presos
e o Comitê de Socorro às Vítimas da
Guerra do Japão inicia sua campanha no Brasil.
1955
É fundada a Sociedade Paulista de Cultura
Japonesa, com o objetivo de integrar e representar a comunidade
nipo-brasileira.
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Eles
viveram...

Imigrantes mais próximos dos centros urbanos
compreendiam mais facilmente a situação
do Japão
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Em
meio a muitas pesquisas e entrevistas, a equipe Zashi conseguiu
conversar com duas pessoas que vivenciaram a crise de perto.
Confira um pouco sobre elas:
Shijuho
Horigoci
Idade atual: 81 anos - Profissão: Aposentado
O
que vivenciou na crise: Foi convocado para ser membro da
Shindo Renmei aos 14 anos. Os membros da Shindo Renmei
bateram na porta de casa e perguntaram ao meu pai se ele
era patriota. Ele respondeu que sim. Então, eles
disseram que o meu pai deveria permitir que eu me alistasse
para entrar no grupo em nome do imperador. Sem alternativas,
meu pai permitiu. Shijuho chegou a se apresentar para
treinamento no grupo da Shindo Renmei baseado na cidade
de Paraguaçu Paulista. Entretanto, na semana de sua
primeira investida, foram detonadas as bombas atômicas
em Hiroshima e Nagasaki. Os fatos mundialmente divulgados
causaram a dissolução desse recém-criado
agrupamento. Pouco tempo depois, amedrontada, a família
de Shijuho mudou-se para a capital paulista.
Hirotsugu
Tsukamoto
Idade atual: 90 anos - Profissão: Aposentado
O
que vivenciou na crise: Foi um dos japoneses perseguidos
na cidade de Oswaldo Cruz. Na época, eu tinha
um bar, em Inúbia Paulista. Então, fui até
a cidade de Oswaldo Cruz para fazer algumas compras. Quando
cheguei, uns quatro ou cinco brasileiros, armados com pedaços
de pau, já saíram correndo atrás de
mim. Eles falavam: Olha o japonês, pega ele!
Aí, tive que correr. Eu sou brasileiro, mas eles
nem perguntaram, nem quiseram saber, então, tive
que correr uns 2 km até ser salvo por um japonês
que também estava fugindo de caminhão.
Hirotsugu soube do final da guerra por intermédio
de seu professor, que ouviu a notícia por um radioamador.
Esse mesmo professor, entretanto, passou a acreditar nos
boatos da Shindo Renmei e a defender a causa dos kachigumi.
e
se...
Para mostrar que a Shindo Renmei foi resultado de um conjunto
de fatores, nossa reportagem questionou os historiadores
Leonardo Bahiense e Rogério Dezem sobre qual seria
o destino da sociedade se alguns fatos tivessem ocorrido
de maneira diferente. Confira as respostas:
Zashi
- O episódio dos setes samurais de Tupã ficou
marcado pelo fato de um brasileiro ter limpado as botas
com a bandeira do Japão. Será que, caso os
brasileiros tivessem despendido um pouco mais de respeito
aos japoneses, atos tão extremistas como os assassinatos
teriam sido evitados?
Bahiense
- É
sempre difícil tecer considerações
de ordem contrafactual. No entanto, parece-me que não.
Os atentados e assassinatos revelam uma tensão existente
entre os japoneses, leia-se, um problema intra-étnico.
Tal problema radica-se no fato de um grupo minoritário
(derrotistas) ter desqualificado a visão de mundo
preponderante no seio da comunidade nikkei no Brasil.
Zashi - A falta de informações confiáveis,
gerada pela proibição de jornais e rádio
japoneses, teria sido um dos fatores que propiciou a não
aceitação da derrota do Japão pelos
nikkeis no Brasil. Se essas informações não
tivessem sido vetadas, os imigrantes japoneses aceitariam
a derrota do arquipélago? Por quê?
Dezem
- Seria muito menos difícil de se aceitar a derrota,
no entanto haveria grupos que, com certeza, não aceitariam
a notícia. Haveria resistência e divisão
da colônia japonesa na época, não em
derrotistas (que propagam a notícia da
derrota) e vitoristas (que propagam a notícia
da vitória), pois a notícia real estaria ali:
o Japão perdeu a guerra.
Zashi
- Outro motivo que fez os imigrantes japoneses acreditarem
na vitória do Japão foi o culto ao imperador
como uma divindade, que, até então, nunca
havia dirigido a palavra ao público. Na sua opinião,
considerando os costumes da sociedade japonesa da época,
a forma como a notícia da derrota chegou para os
nikkeis no Brasil aparentava ser uma mentira?
Bahiense
-
Alguns nikkeis consideravam a derrota uma mentira (uma falsa
propaganda veiculada por norte-americanos). Outros reconheciam
a derrota, entretanto, não podiam aceitá-la,
porque isso representaria uma desorganização
completa de sua visão de mundo. Não foi por
outra razão que sócios da Shindo Renmei publicaram
matérias enfatizando a vitória do Japão
sem contar as fotos da rendição japonesa
aos Aliados, que foram adulteradas.
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Principais vítimas
A Shindo Renmei executou 23 pessoas e feriu 147. Conheça
algumas das vítimas da organização.
Ikuta
Mizobe
Presidente da Cooperativa de Bastos (CAB), Mizobe
tomou conhecimento da derrota do Japão por um radioamador
em 15 de agosto de 1945. Na mesma data, ele redigiu uma
nota afirmando que o Japão teve que aceitar a proposta
das quatro potências. Mizobe passou a receber ameaças.
Em 7 de março de 1946, foi assassinado com um tiro
nas costas, pelo professor Saturo Yamamoto, a mando do
líder da Shindo Renmei de Bastos, Tadao Shiraishi.
Jinsaku
Wakiyama
Ex-coronel e amigo de Junji Kikawa, líder
da Shindo Renmei, Wakiyama assinou um documento que afirmava
a derrota do arquipélago. Pelo fato de Wakiyama
ter integrado o exército imperial, o Grupo Especial
de Ataque da Shindo Renmei redigiu um documento que deveria
ser assinado pela vítima. O texto reconhecia a
vitória do Japão e indicava Wakiyama como
um traidor, que deveria praticar o seppuku para manter
a honra. O ex-coronel recusou-se e diante disso, levou
vários tiros à queima-roupa.
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