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ESPECIAL - ZASHI
Matéria publicada no Zashi edição 1 - Setembro de 2007

Páginas da história através da música

Trajetória japonesa foi marcada por canções que viraram símbolos de suas
épocas e ajudaram o povo nos momentos mais difíceis

(Por Equipe Zashi*)

Um país com percurso histórico dos mais antigos do planeta. Guerras, conquistas, grandes construções, mudanças sociais, unificação do território, todos esses processos de queda e apogeu fizeram parte do desenvolvimento do Japão. Foram episódios de uma nação que hoje é conhecida como uma das mais sábias, tradicionais e exemplares do globo.

O que os japoneses viveram foram momentos históricos; alguns deles se tornaram cenas paradoxais inclusive para povos de outros países. Prova disso são as lições da guerra, cujos efeitos horrorizantes foram vividos pelos japoneses durante as explosões nucleares que destruíram Hiroshima e Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial. Esses são alguns dos episódios que abalaram completamente os habitantes do país do Sol Nascente. Diante desse contexto, onde os japoneses foram buscar a força de que necessitavam para reerguer o seu país?

Melodias para não esmorecer

“É claro que um país como o Japão, que tem uma história de 2 mil anos, desenvolveu estreita ligação com a música não apenas como forma de arte, mas também como uma espécie de recurso para superação nos momentos mais difíceis”, explica o musicólogo japonês Shuhei Hosokawa. Dessa forma, a música em si e também seus compositores e intérpretes adquiriram importância ao longo dos séculos. E, em meio a essa produção ininterrupta, que assumiu características diversas, de acordo com o contexto vivido pelo país no decorrer de suas eras, conseguiu eternizar importantes melodias, geniais compositores e brilhantes cantores.

Assim, a música, uma das formas de expressão artística de maior alcance social, desempenhou papel determinante para o seu povo em momentos-chave de sua história. Em relação a isso, para Hosokawa parece não haver dúvidas: “O momento em que a música foi mais importante para os japoneses foi no pós-guerra. Nessa época, tudo o que pôde oferecer forças para impulsionar a população foi de grande valia”.

Uma voz de esperança pelas ondas do rádio

Logo após os bombardeios nucleares, ocorridos nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, o Japão protagonizou o pior momento de sua história em todos os sentidos: social, econômico e emocional. O povo se viu destruído diante da desgraça provocada pelas ações americanas, resposta ao ataque japonês a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941. Entretanto, mesmo diante desse fato, era preciso que os japoneses se recuperassem para, assim, reerguerem também o seu país.

Foi nesse período que a música japonesa deu ao seu povo um de seus maiores ídolos: Misora Hibari. Demonstrando talento musical desde criança, Hibari logo despontou no cenário da música japonesa do pós-guerra. Personalidade extremamente popular, a cantora gravou mais de 1.100 canções ao longo de sua carreira e recebeu, do governo japonês, o prêmio de Honra ao Mérito do Cidadão. “Nos anos 50, quando morei no Japão, o país vivia desesperada situação econômica gerada pelo pós-guerra. Para reerguer a pátria, os japoneses trabalhavam três vezes mais que atualmente e recebiam menos que a metade do salário atual. Nessa situação de penúria e subexistência, Misora Hibari foi uma voz santa que, por meio do rádio, dos discos e, depois, do cinema, levou consolo e esperança de dias melhores. Passados 50 anos, ainda hoje me vem a imagem de velhos e cansados trabalhadores da construção civil ouvindo ‘Hibari-chan’ nos primeiros rádios portáteis e derramando lágrimas de emoção”, relata o escritor, ilustrador e pesquisador da cultura japonesa Cláudio Seto.

Nodojiman, um tributo à música do arquipélago

Uma das atrações mais antigas da TV japonesa teve seu início logo após o final da Segunda Guerra. Em 1946, iniciaram-se as transmissões do Nodojiman, o popular programa de calouros japoneses primeiro pelo rádio e, posteriormente, pela televisão. Se hoje o programa já não tem a função fundamental de revelar com seriedade grandes talentos musicais, reservando-se mais ao papel de levar ao palco desconhecidos amadores apaixonados pela música – de perfil muitas vezes cômico e curioso –, o Nodojiman marcou o início da era democrática japonesa, com a proposta contínua de, por meio de uma competição, eleger o melhor calouro toda semana.

(*Com pesquisa de Andreano Takahashi e reportagem de Erika Horigoshi e Suzana Sakai)

Ídolos brasileiros no ritmo do Japão

A música japonesa no pós-guerra atingiu tamanha magnitude, que encantou até mesmo os brasileiros. Prova disso são os ídolos da Jovem Guarda da década de 60 que regravaram diversas canções da terra do Sol Nascente.

Em 1963, o Trio Esperança – formado pelos irmãos Mário, Regina e Evinha – gravou uma versão brasileira da música Sukiyaki, de Ei Rokosuke e Nakamura Hachidai, que ficou conhecida no Brasil como Olhando para o Céu. Cinco anos depois, eles gravariam uma nova canção japonesa: Sayonara, de Maki e Nakamura.

No entanto, não foi apenas na voz do Trio Esperança que Sayonara chegou aos ouvidos brasileiros. No mesmo ano, em 1968, Os Incríveis – outra banda de peso da Jovem Guarda – também gravaram uma versão da música de Maki e Nakamura. O grupo, inclusive, lançou um compacto (o que era muito comum na época) dedicado às canções orientais. O álbum, intitulado de Os Incríveis no Japão, apresentava as versões das músicas Kokorono-Niji, de Inoue e Hashimoto; I Love You Tokyo, de Gossaku e Hakutuki, além de Sayonara.

AS 10 MAIS
No pós-guerra, algumas canções fizeram tanto sucesso no Japão, que marcaram sua história musical. A seguir, saiba mais sobre algumas delas:
1946
Ringo no Uta

letra: Satou Hachiro composição: Manjoume Tadashi cantores: Namiki Michiko, Kirishima Noboru

Foi a música-título do filme Soyokaze (1945) e a primeria a fazer sucesso no pós-gerra. Deu força ao povo japonês por causa de sua letra, que mostrava o desejo de uma menina por uma maçã vermelha em meio ao cenário de destruição causado pela Segunda Guerra e o sentimento de liberdade do povo.

1947
Tokyo Bigiugi

letra: Suzuki Masaru composição: Hattori Ryouichi cantor: Kasagi Shizuko

A música renovou o sentimento de liberdade do povo arruinado pela guerra. A cantora ficou conhecida como a “rainha do Boogie” e conquistou o mundo da música japonesa até o aparecimento de Misora Hibari. Tokyo Bigiugi é cantada por torcedores do FC. Tokyo, clube da J.League.

1948
Akogare no
Hawai Kouro

letra: Ishimoto Miyuki composição: Eguchi Yoshi cantor: Oka Haruo

Marca o recomeço rota de navegações em 1951. As viagens civis foram liberadas em 1964. Mesmo assim, essa música fez muito sucesso, em 1948, três anos depois da guerra. O autor escreveu a letra usando do olhar infantil, imaginando as cenas do exterior por meio dos navios comerciais.

1957
Yuurakucho de Aimashou

letra: Saeki Takao composição: Yoshida Masaru cantor: Frank Nagai

Yurakucho é uma área de bairro de Chiyoda em Tóquio. No ano em que a música foi lançada, nesta área, Sogo, uma das maiores lojas de departamentos da época, foi aberta. A música foi como um tema da loja e, como conseqüência, atraía os clientes para o estabelecimento.

1961
Uea wo Muitearukou (Sukiyaki)

letra: Ei Rokusuke composição: Nakamura Hachidai cantor: Sakamoto Kyu

A música conquistou o primeiro lugar no ranking de venda de discos de vinil de novembro de 1961 janeiro de 1962, além de ter sido o maior sucesso do Sakamoto Kyu. Também conhecida como Sukiyaki, essa canção também chegou a fazer sucesso no Brasil e nos Estados Unidos da década de 60.

1964
Tokyo Gorin Ondo

letra: Miyata Takashi composição: Koga Masao cantores: Minami Haruo, Hashi Yukio, Misawa Akemi, Mihashi Yukio, Sakamoto Kyu, Kitajima Saburo, Hatakeyama Midori, Oki Nobuo, Tsukasa Tomiko, entre outros.

Gravada por vários cantores, essa música foi tema dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Foi um dos maiores sucessos de Minami Haruo.

1965
Kimi to Itsumademo

letra: Iwatani Tokiko composição: Dan Kousaku cantor: Kawaya Yuzo

Foi lançada como a música-título do filme Ereki no Wakadaishou e vendeu cerca de 3,5 milhões de cópias.

1978
Iihi Tabidati

letra: Tanimura Shinji composição: Tanimura Shinji cantor: Yamaguchi Momoe

A música foi tema da campanha da Empresa Nacional de Ferrovia do Japão em 1978. Naquela época, Yamaguchi Momoe já era um dos maiores cantores do mundo da música japonesa.

1973
Kandagawa

letra: Kitajou Makoto composição: Minami Kousetsu cantor: Kaguyahime

A música é um folk song (música folclórica). Suas vendas chegaram a 1,6 milhão de cópias e se tornou o maior sucesso do grupo Kaguyahime. Ficou conhecida como uma obra-símbolo da cultura jovem japonesa da década de 70.

1978
UFO

letra: Aku Yû composição: Tokura Shunichi cantor: Pink Lady

Na época de seu lançamento, UFO era a base de arranjos para dança entre os japoneses. Sua venda alcançou 1,55 milhões de cópias e entrou para a história como o maior sucesso de Pink Lady.


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