Páginas
da história através da música
Trajetória
japonesa foi marcada por canções que viraram
símbolos de suas
épocas e ajudaram o povo nos momentos mais difíceis
(Por
Equipe Zashi*)
Um
país com percurso histórico dos mais antigos
do planeta. Guerras, conquistas, grandes construções,
mudanças sociais, unificação do território,
todos esses processos de queda e apogeu fizeram parte do
desenvolvimento do Japão. Foram episódios
de uma nação que hoje é conhecida como
uma das mais sábias, tradicionais e exemplares do
globo.
O
que os japoneses viveram foram momentos históricos;
alguns deles se tornaram cenas paradoxais inclusive para
povos de outros países. Prova disso são as
lições da guerra, cujos efeitos horrorizantes
foram vividos pelos japoneses durante as explosões
nucleares que destruíram Hiroshima e Nagasaki durante
a Segunda Guerra Mundial. Esses são alguns dos episódios
que abalaram completamente os habitantes do país
do Sol Nascente. Diante desse contexto, onde os japoneses
foram buscar a força de que necessitavam para reerguer
o seu país?
Melodias
para não esmorecer
É
claro que um país como o Japão, que tem uma
história de 2 mil anos, desenvolveu estreita ligação
com a música não apenas como forma de arte,
mas também como uma espécie de recurso para
superação nos momentos mais difíceis,
explica o musicólogo japonês Shuhei Hosokawa.
Dessa forma, a música em si e também seus
compositores e intérpretes adquiriram importância
ao longo dos séculos. E, em meio a essa produção
ininterrupta, que assumiu características diversas,
de acordo com o contexto vivido pelo país no decorrer
de suas eras, conseguiu eternizar importantes melodias,
geniais compositores e brilhantes cantores.
Assim,
a música, uma das formas de expressão artística
de maior alcance social, desempenhou papel determinante
para o seu povo em momentos-chave de sua história.
Em relação a isso, para Hosokawa parece não
haver dúvidas: O momento em que a música
foi mais importante para os japoneses foi no pós-guerra.
Nessa época, tudo o que pôde oferecer forças
para impulsionar a população foi de grande
valia.
Uma
voz de esperança pelas ondas do rádio
Logo após os bombardeios nucleares, ocorridos nos
dias 6 e 9 de agosto de 1945, o Japão protagonizou
o pior momento de sua história em todos os sentidos:
social, econômico e emocional. O povo se viu destruído
diante da desgraça provocada pelas ações
americanas, resposta ao ataque japonês a Pearl Harbor
em 7 de dezembro de 1941. Entretanto, mesmo diante desse
fato, era preciso que os japoneses se recuperassem para,
assim, reerguerem também o seu país.
Foi
nesse período que a música japonesa deu ao
seu povo um de seus maiores ídolos: Misora Hibari.
Demonstrando talento musical desde criança, Hibari
logo despontou no cenário da música japonesa
do pós-guerra. Personalidade extremamente popular,
a cantora gravou mais de 1.100 canções ao
longo de sua carreira e recebeu, do governo japonês,
o prêmio de Honra ao Mérito do Cidadão.
Nos anos 50, quando morei no Japão, o país
vivia desesperada situação econômica
gerada pelo pós-guerra. Para reerguer a pátria,
os japoneses trabalhavam três vezes mais que atualmente
e recebiam menos que a metade do salário atual. Nessa
situação de penúria e subexistência,
Misora Hibari foi uma voz santa que, por meio do rádio,
dos discos e, depois, do cinema, levou consolo e esperança
de dias melhores. Passados 50 anos, ainda hoje me vem a
imagem de velhos e cansados trabalhadores da construção
civil ouvindo Hibari-chan nos primeiros rádios
portáteis e derramando lágrimas de emoção,
relata o escritor, ilustrador e pesquisador da cultura japonesa
Cláudio Seto.
Nodojiman,
um tributo à música do arquipélago
Uma das atrações mais antigas da TV japonesa
teve seu início logo após o final da Segunda
Guerra. Em 1946, iniciaram-se as transmissões do
Nodojiman, o popular programa de calouros japoneses primeiro
pelo rádio e, posteriormente, pela televisão.
Se hoje o programa já não tem a função
fundamental de revelar com seriedade grandes talentos musicais,
reservando-se mais ao papel de levar ao palco desconhecidos
amadores apaixonados pela música de perfil
muitas vezes cômico e curioso , o Nodojiman
marcou o início da era democrática japonesa,
com a proposta contínua de, por meio de uma competição,
eleger o melhor calouro toda semana.
(*Com pesquisa de Andreano Takahashi e reportagem
de Erika Horigoshi e Suzana Sakai)
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Ídolos
brasileiros no ritmo do Japão
A
música japonesa no pós-guerra atingiu tamanha
magnitude, que encantou até mesmo os brasileiros.
Prova disso são os ídolos da Jovem Guarda
da década de 60 que regravaram diversas canções
da terra do Sol Nascente.
Em
1963, o Trio Esperança formado pelos irmãos
Mário, Regina e Evinha gravou uma versão
brasileira da música Sukiyaki, de Ei Rokosuke e Nakamura
Hachidai, que ficou conhecida no Brasil como Olhando para
o Céu. Cinco anos depois, eles gravariam uma nova
canção japonesa: Sayonara, de Maki e Nakamura.
No
entanto, não foi apenas na voz do Trio Esperança
que Sayonara chegou aos ouvidos brasileiros. No mesmo ano,
em 1968, Os Incríveis outra banda de peso
da Jovem Guarda também gravaram uma versão
da música de Maki e Nakamura. O grupo, inclusive,
lançou um compacto (o que era muito comum na época)
dedicado às canções orientais. O álbum,
intitulado de Os Incríveis no Japão, apresentava
as versões das músicas Kokorono-Niji, de Inoue
e Hashimoto; I Love You Tokyo, de Gossaku e Hakutuki, além
de Sayonara.
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AS
10 MAIS
No pós-guerra, algumas
canções fizeram tanto sucesso no Japão,
que marcaram sua história musical. A seguir, saiba
mais sobre algumas delas:
1946
Ringo no Uta |
letra:
Satou Hachiro composição: Manjoume
Tadashi cantores: Namiki Michiko, Kirishima
Noboru
Foi
a música-título do filme Soyokaze (1945)
e a primeria a fazer sucesso no pós-gerra.
Deu força ao povo japonês por causa de
sua letra, que mostrava o desejo de uma menina por
uma maçã vermelha em meio ao cenário
de destruição causado pela Segunda Guerra
e o sentimento de liberdade do povo.
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1947
Tokyo Bigiugi |
letra:
Suzuki Masaru composição:
Hattori Ryouichi cantor: Kasagi Shizuko
A
música renovou o sentimento de liberdade do
povo arruinado pela guerra. A cantora ficou conhecida
como a rainha do Boogie e conquistou o
mundo da música japonesa até o aparecimento
de Misora Hibari. Tokyo Bigiugi é cantada por
torcedores do FC. Tokyo, clube da J.League.
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1948
Akogare no
Hawai Kouro |
letra:
Ishimoto Miyuki composição: Eguchi
Yoshi cantor: Oka Haruo
Marca
o recomeço rota de navegações
em 1951. As viagens civis foram liberadas em 1964.
Mesmo assim, essa música fez muito sucesso,
em 1948, três anos depois da guerra. O autor
escreveu a letra usando do olhar infantil, imaginando
as cenas do exterior por meio dos navios comerciais.
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1957
Yuurakucho de Aimashou |
letra:
Saeki Takao composição: Yoshida
Masaru cantor: Frank Nagai
Yurakucho é uma área de bairro de Chiyoda
em Tóquio. No ano em que a música foi
lançada, nesta área, Sogo, uma das maiores
lojas de departamentos da época, foi aberta.
A música foi como um tema da loja e, como conseqüência,
atraía os clientes para o estabelecimento.
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1961
Uea wo Muitearukou (Sukiyaki) |
letra:
Ei Rokusuke composição: Nakamura
Hachidai cantor: Sakamoto Kyu
A
música conquistou o primeiro lugar no ranking
de venda de discos de vinil de novembro de 1961 janeiro
de 1962, além de ter sido o maior sucesso do
Sakamoto Kyu. Também conhecida como Sukiyaki,
essa canção também chegou a fazer
sucesso no Brasil e nos Estados Unidos da década
de 60.
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1964
Tokyo Gorin Ondo
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letra:
Miyata Takashi composição:
Koga Masao cantores: Minami Haruo, Hashi Yukio,
Misawa Akemi, Mihashi Yukio, Sakamoto Kyu, Kitajima
Saburo, Hatakeyama Midori, Oki Nobuo, Tsukasa Tomiko,
entre outros.
Gravada
por vários cantores, essa música foi
tema dos Jogos Olímpicos de Tóquio em
1964. Foi um dos maiores sucessos de Minami Haruo.
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1965
Kimi to Itsumademo |
letra:
Iwatani Tokiko composição: Dan
Kousaku cantor: Kawaya Yuzo
Foi lançada como a música-título
do filme Ereki no Wakadaishou e vendeu cerca de 3,5
milhões de cópias.
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1978
Iihi Tabidati |
letra:
Tanimura Shinji composição: Tanimura
Shinji cantor: Yamaguchi Momoe
A música foi tema da campanha da Empresa Nacional
de Ferrovia do Japão em 1978. Naquela época,
Yamaguchi Momoe já era um dos maiores cantores
do mundo da música japonesa.
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1973
Kandagawa |
letra:
Kitajou Makoto composição:
Minami Kousetsu cantor: Kaguyahime
A música é um folk song (música
folclórica). Suas vendas chegaram a 1,6 milhão
de cópias e se tornou o maior sucesso do grupo
Kaguyahime. Ficou conhecida como uma obra-símbolo
da cultura jovem japonesa da década de 70.
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1978
UFO |
letra:
Aku Yû composição: Tokura
Shunichi cantor: Pink Lady
Na época de seu lançamento, UFO era
a base de arranjos para dança entre os japoneses.
Sua venda alcançou 1,55 milhões de cópias
e entrou para a história como o maior sucesso
de Pink Lady.
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