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Matéria
publicada no Zashi edição 6 - Fevereiro de
2008
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Bonsai
pelo mundo
Levantamento
mostra a situação atual de um dos maiores
tesouros culturais do Japão em várias partes
do planeta
(Erika
Horigoshi)
Nós
acreditamos que o bonsai seja um passatempo internacional,
que deve ser desfrutado em paz e com um forte clima de amizade.
E desejamos que nossos colegas brasileiros continuem cultivando
a arte do bonsai e lhes mandamos nossos sinceros votos de
companheirismo. Essas são as palavras do britânico
Reginald Bolton, presidente da European Bonsai Association
(EBA), quando indagado sobre uma mensagem para enviar a
seus colegas bonsaístas brasileiros.
À
primeira vista, a declaração acima pode até
soar de maneira estranha. Afinal, um inglês incentivando
a prática do bonsai a colegas brasileiros e chamando
a tradicional arte oriental de passatempo internacional
pode parecer um tanto quanto globalizado demais.
Entretanto, o mapa atual do bonsai pelo mundo
mostra exatamente isso: de milenar arte oriental ao status
de passatempo internacional, o bonsai conseguiu romper fronteiras,
alcançar todos os outros continentes do planeta e
inspirar admiradores de nacionalidades diversas na organização
de associações e de intensos calendários
de atividades durante os 365 dias do ano para celebrar a
arte e a beleza desses exemplos de natureza em miniatura.
Reiventando
a arte
O
bonsai é uma cultura da qual o Japão
se orgulha, explica Yuji Tamura, da Japanese
Bonsai Association
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O
bonsai é uma arte originária da China, mas
desenvolvida no Japão, para onde foi levada posteriormente.
Hoje, esse símbolo da sabedoria oriental está
presente em grande parte dos países ao redor do globo,
mas assumindo diferentes aspectos. Uma arte que precisa
de dedicação e apreciação, mas
que não pode ser copiada, pois depende diretamente
do material natural encontrado em cada região. Por
esse motivo, a difusão do bonsai pelo mundo implicou,
diretamente, a releitura de suas características
e a recriação de suas tradições
na forma de novos estilos, elaborados com plantas nativas
de cada continente.
Positivo
ou negativo, o que importa é que reinventar, nesse
contexto, também significa manter viva uma tradição
de milênios de existência e que, em qualquer
parte do mundo, vai remeter à imagem do Japão.
O bonsai é uma cultura da qual o Japão
se orgulha. Hoje, tornou-se uma arte amada pelo mundo e,
em todas as partes do planeta, estão surgindo estilos
próprios e bonsais adaptados ao clima de cada país.
Há muito para se aprender sobre o bonsai japonês,
mas não se deve imitá-lo. É possível
criar um notável bonsai a partir de uma semente encontrada
em um parque, ou a partir de uma muda achada em uma montanha,
explica Yuji Tamura, da Japanese Bonsai Association.
A
seguir, veja um pouco sobre a origem do bonsai e o que a
Zashi conseguiu apurar sobre as atividades de bonsaístas
de várias partes do mundo.
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Entenda melhor conceito e classificações
São
várias as classificações do bonsai,
com
grupos de estilos de características semelhantes
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Traduzido
ao pé da letra, bonsai significa árvore
em bandeja, uma planta resultante da criação
humana, uma verdadeira obra de arte muitas vezes herdada
por gerações. Popularmente interpretado como
uma espécie de árvore, o bonsai é,
na verdade, um trabalho meticuloso de miniaturização
que busca o resultado ideal de harmonia e equilíbrio.
O verdadeiro bonsai é uma árvore ou um arbusto
em miniatura, e não uma muda plantada em vaso raro.
Há muitos estilos de bonsai, imitados de circunstâncias
naturais de vegetações encontradas às
margens de cachoeiras, árvores imponentes em vales,
em solos erosivos, etc. Um dos estilos mais populares
de bonsai é o Moyo-Gi, a árvore com movimento
no tronco, por ser a forma mais comum de as árvores
apresentarem-se na natureza, explica o bonsaísta
e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Bonsai, André
Romay.
Estima-se
que a primeira menção conhecida de um bonsai
seja uma pintura de 800 anos descoberta em um antigo templo
na China. Com os chineses, os japoneses aprenderam a cultivar
o bonsai e desenvolveram novos estilos de árvores.
A árvore de bonsai é criada de tal forma que
não cresce, mas adquire uma aparência realmente
antiga. Dessa forma, no início, não se cultiva
um bonsai, e sim uma planta que, com os devidos cuidados,
vai se tornar um bonsai. São os pré-bonsai,
plantas que ainda não foram refinadas, com definição
de formas ou estilizadas, mas que já passaram por
pelo menos uma poda de raiz, afirma Romay. É
preciso ter consciência de que a naturalidade buscada
no bonsai só é alcançada quando respeitada
a aptidão da planta com a qual se está trabalhando.
Existem
diversos tipos de bonsai, classificados pela observação
minuciosa de seu tronco e suas raízes. Veja alguns
estilos mais convencionais:
Tachi-Gi
Este grupo reúne estilos de bonsai que
possuem apenas um tronco reto. O Chokkan tem o tronco vertical
e galhos em várias direções, representando
o auge do equilíbrio. O Moyo-Gi é o estilo
mais popular, seu tronco, mesmo reto, possui ondas que criam
movimentos em várias direções. O Shakan
tem o tronco reto, porém fora de seu eixo, ou seja,
inclinado. A busca de equilíbrio em um Shakan dá-se
pela oposição dos galhos em relação
ao tronco. Já o Fukinagashi tem como resultado uma
árvore exposta ao vento. Ela tem o tronco inclinado
e sua copa não é volumosa. O Bunjin-Gi é
um estilo elegante e que acolhe características de
outros estilos em suas miniaturas. O Hokidachi tem o tronco
reto e dividido em galhos que formam uma só copa.
Kengai
Os estilos agrupados aqui têm em comum
um tronco que se projeta para a parte de baixo da bandeja.
O estilo Kengai, que nomeia o grupo, é uma cascata
que se projeta para baixo da bandeja, com sua parte externa
passando o fundo da bandeja. O Han-Kengai, por sua vez,
também tem tendência a projetar-se para baixo,
só que de forma mais discreta.
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Bonsai em todos os continentes
América
do Norte
A American Bonsai Society é a maior
entidade dedicada ao bonsai na América do Norte.
Congrega Estados Unidos, Canadá e México.
Atualmente, é presidida pela americana Pauline
Muth e conta com uma movimentada agenda de eventos. Nosso
calendário é bem intenso e isso tira um
pouco o nosso tempo para dedicação a outras
atividades, comenta Pauline.
A
ABS, como é chamada por seus membros, é
uma organização sem fins lucrativos que
também mantém uma publicação
trimestral chamada Bonsai Journal, com o objetivo de divulgar
novidades, livros, eventos e premiações
para a comunidade associada.
Na
agenda da ABS, já há eventos programados
até o mês de novembro deste ano, incluindo
a grande novidade para os bonsaístas norte-americanos:
o First National Bonsai Exhibition, previsto para acontecer
entre os dias 13 e 14 de outubro em Nova York.
América
latina
A Federación Latinoamericana y Caribeña
(Felab) é o órgão que reúne
países das Américas Central e Sul que se
dedicam ao bonsai. São eles: Argentina, Brasil,
Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicada,
Equador, Guadalupe, Guiana Francesa, Martinica, México,
Panamá, Peru, Porto Rico, Santa Lucia e Venezuela.
O
Brasil é um dos membros mais ativos da organização.
Nossos bonsaístas participam do Encontro
Anual da Felab e também de concursos de fotografia
organizados pela World Bonsai Friendship Federation,
explica o presidente da Associação Brasileira
de Bonsai, Cláudio Continentino Ratto. Em razão
do centenário, o Brasil é um dos países
cuja associação está mais ativa na
organização de eventos. Estamos estreitando
relações com o ICBJ Instituto Cultural
Brasil Japão para desenvolver uma exposição,
seguida de palestras de demonstrações para
o público, diz Ratto.
A
Felab também tem uma publicação para
associados, o Felab Informa. No site da associação,
é possível ler a edição mais
recente e também as anteriores.
Europa
A European Bonsai Association (EBA) é
a maior organização dedicada ao Bonsai no
Velho Mundo. Ela congrega 18 países: Áustria,
Bélgica, República Tcheca, Dinamarca, França,
Alemanha, Itália, Luxemburgo, Mônaco, Holanda,
Polônia, Portugal, San Marino, Eslováquia,
Eslovênia, Espanha, Suíça e Reino
Unido. A presidência da entidade é ocupada,
atualmente, pelo britânico Reginald Bolton. Membros
enviados pelos 18 países encontram-se no EBA Meet
anualmente em convenção para os arranjos
do calendário da EBA. Fazemos uma mesa-redonda
e decidimos inclusive mudanças nas regras da organização,
explica Bolton.
No
calendário da EBA, ganha destaque um evento para
o qual todos os associados estão se preparando:
a EBA Convention 2008, que será realizada em Viena
(Áustria) entre os dias 25 e 27 de abril.
África
A South African Bonsai Association (Saba)
é a entidade que reúne os bonsaístas
mais famosos do continente, como Charles Ceronio, Rudi
Adam e Carl Morrow. Dentre eles, destaca-se Ceronio, artista
que mantém intenso intercâmbio de trabalhos
e eventos com bonsaístas da Ásia, da Europa
e das Américas. Sou um pioneiro do bonsai
em meu país, assim como da região da Namíbia
e do Zimbábue, diz Ceronio. Os contatos
que mantenho me leveram a vários países,
como a Holanda, a Eslováquia, a Alemanha e também
o Brasil, conta.
A
Saba divulga galerias com fotos de trabalhos de seus bonsaístas
associados e mantém agenda de eventos nacionais
e internacionais. Sua Annual Exhibition está prevista
para os dias 24 a 26 de outubro.
Ásia
No continente que é o berço
original do bonsai, o que se encontra na atualidade são
associações nacionais difusoras dessa arte
em seus respectivos territórios. Coréia
do Sul, Índia e, claro, Japão, destacam-se
nesse cenário. Porém, é possível
encontrar todos os países asiáticos com
atividades de bonsaístas pelo Bonsai in Asia Guide,
um verdadeiro guia que reúne China, Índia,
Indonésia, Japão, Coréia do Sul,
Malásia, Paquistão, Filipinas, Cingapura,
Taiwan, Tailândia e Vietnã.
No
Japão, especificamente, a arte do bonsai continua
com todo o prestígio que se pode imaginar. A
Exposição de Estilos Japoneses de Bonsai,
realizada em fevereiro no Museu de Arte Metropolitano
de Tóquio, é o evento mais antigo do Japão
e o nível das obras lá exibidas é
alto. Esse evento conta com cerca de 260 trabalhos selecionados
dentre aproximadamente 500 inscrições. Por
sua reputação, para qualquer bonsaísta
japonês, ser aceito para essa exposição
é um grande sonho, afirma Yuji Tamura, da
Associação Japonesa de Bonsai. Isso parece
dar uma dimensão de quão importante continua
sendo o bonsai no universo cultural do arquipélago.
Oceania
Tanto a Austrália quanto a Nova
Zelândia possuem bonsaístas organizados em
associações nacionais. Na Austrália,
destaca-se a Bonsai Federation of Australia, que se divide
em Norte e Sul e trabalha pela
promoção do ensino do bonsai no país
e na união de clubes e associações
menores de bonsai na Austrália. A associação
realiza conferências anuais na cidade de Victoria.
A
New Zealand Bonsai Association (NZBA), por sua vez, congrega
informações de clubes, organizações
e outras associações existentes no país
dedicadas ao bonsai. Trimestralmente, a NZBA publica uma
newsletter com as novidades interessantes sobre o bonsai
no país e no restante do mundo e realiza, anualmente,
uma convenção nacional que acontece, a cada
edição, em um local diferente da Nova Zelândia.
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