O
surgimento do hiragana e katakana
Na
edição anterior, foi visto que o manyôgana
consistia na forma de emprego dos ideogramas chineses
ora como ongana, ora como kungana. Com o decorrer de seu
uso, surgiu a grafia cursiva e corrida do manyogana,
chamada sôgana, que foi amplamente difundida entre
as damas da aristocracia da Era Heian (794-1192). Gradativamente,
o sôgana foi estilizado e abreviado, dando origem,
ainda na Era Heian, à escrita silábica de
formas arredondadas que, hoje, conhecemos como hiragana.
No
início do século X, o hiragana já
era empregado em correspondências, diários
e poemas, como os da coletânea Kokin Wakashû
(Antologia de Poemas do Presente e do Passado)
de 905, considerada a primeira obra escrita em hiragana.
Mas foi no final desse mesmo século que surgiu
a primeira obra literária de autoria feminina que
faz o uso dessa grafia: Kagerô nikki (Diário
da Efemeridade, c.974-78), escrita pela mãe
de Fujiwara-no-Michitsuna.
Estudos
budistas
Pelo fato de o hiragana ter sido produzido e ter se desenvolvido
largamente por mãos femininas, muitas vezes ele
é chamado de onnade (escrita feminina). No entanto,
os pesquisadores acreditam que o hiragana teve origem
nas mãos de oficiais do governo e de estudiosos
das elites que, devido à necessidade de escreverem
com maior agilidade, exigência imposta pelo ofício
de escribas, desenvolveram a forma cursiva de traçar
os ideogramas. Assim, acredita-se que o precursor do hiranaga
seja Kino Tsurayuki, autor de vários escritos,
como Tosa Nikki (Diários de Tosa) de
935.
Concomitante
ao hiragana, o katakana foi ganhando espaço nos
estudos budistas. A fim de facilitar as leituras dos sutras,
os monges deixavam algumas marcas nos ideogramas, conhecidas
como kunten, para indicar partículas e flexões
verbais características da língua japonesa
e que não havia no original chinês. Além
desse método, ocorria também a abreviação
dos caracteres chineses, utilizando-se somente partes
(os radicais) dos kanji. No início, essas duas
formas ocorriam paralelamente, mas a abreviação
acabou prevalecendo, levando à criação
do katakana, que teve sua consolidação por
volta do século XI, mantendo os traços retos
e angulosos originários dos ideogramas.
(Colaboração: Ayako Akamine e Anderson Missao
Morishita)
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