O delicado acorde do kotô em contraste com
o pesado som da guitarra
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Os integrantes da banda Diafanes
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Zashi
- Você toca kotô há três anos.
Como surgiu o interesse por esse instrumento oriental?
Lorena Hollander - Meu primeiro contato com o kotô
foi em uma apresentação de música japonesa
no conservatório onde estudava. Não conhecia
nenhum instrumento tradicional japonês. Na época,
conhecia pouco da música japonesa e o recital me
impressionou muito. Mas o que realmente me marcou foi o
kotô e a minha atual professora, Tamie Kitahara, tocando.
Saí do recital pensando quando tiver tempo
para aprender mais um instrumento, será o kotô.
Zashi
- Qual foi a primeira vez que você tocou o kotô?
Você já fazia parte da banda Diafanes?
Lorena - Quando comecei a aprender a tocar kotô
já tinha até um álbum lançado
com a Diafanes. Minhas primeiras aulas foram ótimas,
foi um grande mergulho no universo japonês, pois
aprendi muito sobre o Japão e a cultura japonesa,
além de aprender a tocar o kotô. A inclusão
desse instrumento é um grande diferencial no segundo
CD da banda.
Zashi
- A faixa-título do álbum Obviously clear
é uma homenagem ao centenário da imigração
japonesa. Além do kotô, a canção
ainda apresenta alguns trechos em japonês. Você
estuda a língua, ou apenas aprendeu algumas palavras
para compor a música?
Lorena - Eu estudei um pouco de japonês para
cantar algumas músicas japonesas, mas aprendi muito
pouco. A língua é bastante complexa. Na
música Obviously Clear, compus um trecho em português
e a Tamie Kitahara e sua aluna Naomi Ueda fizeram a tradução
para mim. Ficou muito bonito, porque é uma parte
bem lenta na qual ficam só o kotô e a voz,
a guitarra vai entrando junto com tambores e depois o
kotô faz um solo junto com a guitarra. Fica um diálogo
muito interessante e a sonoridade da língua japonesa
acrescenta muito neste trecho.
Zashi
- Como surgiu a idéia de mesclar o kotô com
a guitarra? Como foi a reação dos outros
integrantes da banda?
Lorena - Quando comecei a tocar kotô já
tinha a intenção de usá-lo com a
banda, mas demorou um pouco porque eu nem tinha um kotô
quando comecei a tocar. A idéia era fazer algo
diferente, fazer uma mistura inusitada e não tinha
idéia de como seria o resultado. Compor no kotô
era um desafio, mas acabou dando tudo muito certo e o
resultado superou as expectativas. Nos primeiros ensaios
com a banda, já deu para perceber que ia ficar
muito legal. Quando a música ficou pronta, foi
uma grande e ótima surpresa para todos!
Zashi
- Em abril, a Diafanes participou do The National Cherry
Blossom Festival, em Washington DC. Na ocasião,
vocês tocaram Sakura, Sakura, uma famosa canção
japonesa. Como foi a participação e a adaptação
da música?
Lorena - Participar do National Cherry Blossom Festival
foi uma experiência única e maravilhosa.
Para nós, foi uma grande honra receber um convite
para tocar em um festival tão importante, que existe
há 73 anos, e que comemora o florescimento das
cerejeiras doadas pelo governo japonês aos EUA em
1912. Especialmente para o festival, fizemos uma versão
da música Sakura, Sakura para homenagear as cerejeiras.
Neste arranjo, utilizamos kotô, violão, percussão
e baixo e eu canto a letra original em japonês.
Zashi
- Vocês já realizaram alguma apresentação
no Japão?
Lorena - Ainda não, mas queremos muito tocar
no Japão. Será ótimo se for ainda
neste ano, o ano do intercâmbio entre o Brasil e
o Japão. De vez em quando, recebemos mensagens
de japoneses no nosso site no Myspace pedindo para tocarmos
por lá! O Ciro Visconti, guitarrista da banda,
morou em Osaka por um ano e eu aguardo ansiosamente por
essa oportunidade.
Zashi
- Como o público reage quando escuta a mistura
do kotô com a guitarra?
Lorena - O público sempre fica muito interessado
e surpreso quando vê e escuta o kotô, pois
as pessoas não conhecem o instrumento e ficam muito
admiradas. Quando a guitarra e a banda entram, após
uma introdução de kotô, a surpresa
fica ainda maior, pois toda delicadeza e suavidade do
kotô constrastam com um som mais pesado, soa bem
diferente e original.
Zashi
- Você já pensou em incluir outro instrumento
oriental na Diafanes?
Lorena - Na verdade, já utilizamos outros instrumentos
orientais na banda, como os snujs e o derbake (instrumentos
de percussão árabe). Além disso,
tocamos outros instrumentos exóticos, como castanholas,
theremin, lap steel e o Ciro pretende aprender a tocar
o shamisen. Nossa intenção é continuar
adicionando instrumentos como esses em nossas músicas,
para criar climas e sonoridades diferentes e continuar
fazendo experimentos e misturas sonoras.
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