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Capa
de Zen in Brazil: o caminho de modificações
do budismo em sua adaptação no País
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Cristina
Rocha
(Por
Erika Horigoshi | Foto: Jin Yonezawa)
Estudiosa
do budismo e do zen, Cristina é uma das pesquisadoras
mais respeitadas do País nesse segmento. Membro
do Centro de Pesquisa Cultural da Universidade de Western
de Sydney, Austrália, Cristina está constantemente
ministrando cursos sobre budismo no Brasil e no exterior.
Autora do livro Zen in Brazil, a pesquisadora mostra,
em sua obra, as modificações pelas quais
o budismo passou para se adaptar no País. Em meio
a sua atribulada agenda, Cristina encontrou um tempinho
para o bate-papo com a equipe Zashi reproduzido a seguir.
Zashi
- Como começou o seu contato com a cultura japonesa?
Cristina - Na verdade, comecei com ikebana, no início
dos anos 80, no templo da Soto Shu que fica no bairro
da Liberdade, na capital paulista. Na época, não
era reformado e grande como hoje. Só tinha eu de
brasileira no meio das batyans, era muito engraçado.
Eu comecei a ajudar lá e passei a fazer shodô.
Então, vi que não sabia japonês, daí
comecei a fazer nihongô. Comecei a estudar a cerimônia
do chá lá na USP; me formei em 1986 e percebi
que essa arte incorporava todas as outras artes japonesas.
Comecei o mestrado e escolhi como tema a cerimônia
do chá no Japão e no Brasil. Então,
pensei no que fazer para o doutorado e resolvi estudar
o zen.
Zashi
- Seria possível definir em linhas gerais
o budismo difundido no Ocidente? Há diferenças
entre ele e o budismo característico do Oriente?
Cristina - Sim, há diferenças. Uma delas
é que, no Ocidente, as pessoas misturam
os papéis do monge e do leigo. No Oriente, quem
medita é o monge. O leigo apóia o templo,
ajuda, faz doações, cozinha, presta apoio
para que os monges meditem e ajudem o templo. No Japão,
alguns templos tem sessão de meditação
para leigos. Lá, os monges também têm
outro comportamento: podem consumir carne, casar e ingerir
álcool.
Já no Ocidente, há forte influência
do feminismo, muitas mulheres viram monjas, ou viram professoras
de dharma. No Oriente, no tempo do Buda, as monjas sempre
foram subordinadas aos monges. É importante perceber
que existem vários budismos. Não é
como o catolicismo, unificado pela figura do papa. Cada
país desenvolve o budismo de maneira diferente.
Zashi
- Um artigo seu faz um paralelo entre a cerimônia
do chá e o budismo. De que maneira você acredita
que esses dois importantes momentos culturais/religiosos
do Oriente se assemelham?
Cristina - A cerimônia do chá japonesa
e está ligada ao zen japonês. Nesse artigo
(A cerimônia do chá e o zen-buddhismo),
eu falo da relação histórica estabelecida,
pela qual os comerciantes até então
casta baixa na sociedade japonesa , passaram a imprimir
toques refinados como um meio para adquirir prestígio
diante da elite. Esses comerciantes precisavam se estabalecer
socialmente. Para isso, foram estudar nos templos zen,
onde aprendiam escrita chinesa, caligrafia, apreciação
da pintura e o próprio zen. Criaram um contexto
para a apreciação do chá que recebeu
o status cerimonioso, criando vínculos com a filosofia
zen, daí o paralelo entre o chanoyu (cerimônia
do chá) e o zen-budismo.
Zashi
- De forma geral e utilizando-se de celebridades adeptas
dessa religião, a mídia acaba contribuindo
para o processo difusor do budismo no Ocidente. Você
considera essa contribuição mais positiva,
ou mais negativa?
Cristina - É sempre positiva, na medida em
que as pessoas ficam curiosas e querem saber mais a respeito
do budismo por meios próprios. Entretanto, é
uma ação negativa, quando o budismo é
tratado como uma simples questão de moda, como
uma tendência de decoração
de ambientes, enfim, tirando toda a sua seriedade.
Zashi
- Você acredita que, atualmente, o budismo no Ocidente
trilhe um caminho próprio, diferente do que acontece
no Oriente?
Cristina - Sim, é um caminho natural. Porém,
em razão da globalização, essa troca
de conceitos, dos trabalhos que são desenvolvidos
no Ocidente e no Oriente, acontece de maneira muito mais
rápida. E, de uma forma ou de outra, um acaba influenciando
o outro.
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