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Matéria publicada no Zashi edição 8 - Abril de 2008

Amélie Nothomb, a mais japonesa das não japonesas

Escritora belga fala sobre seus livros que contam sua experiência como estrangeira no Japão

(Por: Erika Kobayashi*)

Filha de diplomatas belgas, a escritora Amélie Nothomb, 40, nasceu em Kobe, no Japão. Na sua infância, relatada no livro Metafísica dos tubos, ela se apaixonou pelo país, a ponto de considerar sua saída do Japão como um exílio. Aos 23 anos, ela decidiu retornar e conseguiu um emprego de secretária em uma seguradora. Apesar de ter adotado o Japão como seu país, foi educada como uma ocidental e viveu situações difícieis no ambiente de trabalho. Esse choque cultural é dissecado em Medo e Submissão, romance escrito em 1999 e publicado no Brasil em 2001. O livro conta seu dia-a-dia como secretária e foi transformado em filme (inédito no Brasil) pelo diretor francês Alain Corneau em 2003.

Ao mesmo tempo, Amélie teve um romance com um jovem japonês. Depois de 16 anos, ela decide contar essa experiência no livro Nem Eva nem Adão, lançado na França no ano passado e sucesso de crítica.

Seus romances foram traduzidos em 40 línguas e já venderam mais de 10 milhões de exemplares no mundo. Apesar de ser considerada excêntrica pela mídia, principalmente pelo seu visual (ela sempre aparece usando chapéus e luvas, além do indefectível batom vermelho) e por ter declarado em uma entrevista que comia frutas estragadas, ela se mostrou muito simples e acessível na entrevista que concedeu para a Zashi por telefone. Amélie Nothomb foi precisa como um samurai em suas respostas. Se não fosse por sua língua afiada e seu senso crítico, poderíamos dizer que Amélie-san foi quase uma japonesa.

(*de Paris especialmente para a Zashi)

Zashi - Você disse em várias entrevistas que só conseguiu escrever Medo e submissão depois de ter digerido essa experiência vivida. O mesmo se aplica ao seu novo romance, Nem Eva nem Adão?
Amélie Nothomb -
Absolutamente. Precisei de 8 anos para digerir uma experiência ruim e de 16 anos para digerir uma experiência boa. Eu descobri que levo muito mais tempo para assimilar as coisas boas. Estamos mais acostumados a esperar que aconteçam desgraças na vida.

Zashi - Como foi viver duas experiências tão diferentes ao mesmo tempo no Japão: o sofrimento no mundo do trabalho e uma história de amor?
Amélie -
Foi um contraste extremo. Acho que é por isso que o Japão é um país fascinante.

Zashi - Tenho a impressão de que Metafísica dos tubos fala de um encantamento e de uma visão ilusória sobre o Japão…
Amélie -
Sim, exatamente isso.

Zashi - …Medo e submissão é mais uma crítica e também uma decepção. Decidir escrever sobre o amor nesse novo romance seria uma reconciliação com o país?
Amélie -
Não penso que seja uma reconciliação, porque não fiquei chateada. Decidi escrever também sobre uma experiência amorosa, porque tinha o desejo de fazer um quadro completo do país. A vida profissional no Japão é terrível, ainda mais para uma mulher e estrangeira. Para mim, foi um inferno.

Zashi - Em Metafísica dos tubos, você diz que você decidiu ser japonesa. Como foi isso?
Amélie -
Eu era pequena, tinha 3 anos de idade. Foi quando percebi que meus pais não eram japoneses, eram belgas, e que havia os japoneses. Eu via meus pais, que me tratavam de maneira normal, e a governanta da casa, que era uma japonesa e me tratava como se eu fosse um pequeno deus, pois eu era uma criança e assim as crianças são tratadas no Japão. Foi assim que eu decidi ser japonesa.

Zashi - E houve uma mudança sobre o que é “ser japonesa” quando você voltou para o país, contratada como funcionária de uma grande empresa?
Amélie -
Completamente! Eu não tinha mais idade para ser tratada como deus. Ao mesmo tempo em que as coisas não eram tão simples na empresa, tudo ia bem no meu namoro com um japonês. Antes de eu ir para o Japão, todo mundo me dizia: “Cuidado com os caras japoneses, eles são muito machistas”. Não foi o caso. Eu o conheci e me apaixonei.

Zashi - Você ainda se considera “japonesa”?
Amélie -
Acho que sou uma “japonesa que deu errado”. O Japão é o meu país preferido, mas não posso ser uma japonesa.

Zashi - Eu acho que, de uma certa forma, você também é japonesa.
Você poderia ter pedido demissão na empresa e não o fez. Parecia questão de honra.
Amélie -
Foi uma questão de honra. Eu não estava lá para fazer uma revolução. Eu queria me integrar à sociedade. Não era humilhante para mim ter que limpar o banheiro. Mais humilhante teria sido pedir demissão.

Zashi - Então, neste aspecto, você foi uma “japonesa que deu certo”.
Amélie -
Com certeza.


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