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Edição 300 - 16
a 22 de março de 2005 - Especial - Portal NippoBrasil
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Simbologia japonesa: as flores e as árvores
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Japoneses
possuem símbolos naturais relacionados a fatos históricos.
Na próxima edição, teremos o significado
dos animais na cultura daquele país
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SAKURA
- A tradição em torno da flor símbolo do
Japão está calcada em lenda e crenças, especialmente
da época dos samurais
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(Texto:
Erika Horigoshi/NB | Fotos: Arquivo - NippoBrasil)
O
povo japonês sempre procurou formas de associar a natureza
com suas crenças, opções e vivências.
É provável que tal fato se deva a características
físicas do arquipélago, que possui sempre suas quatro
estações muito definidas, com interpretações
bem simplificadas. O professor e pesquisador Hajime Nakamura,
em seu livro Ways of thinking of Eastern Peoples (ainda sem tradução
no Brasil), lista traços do modo de pensar japonês,
como a inclinação ao intuitivo e ao emocional; a
tendência não racionalista; e a simplificação
da expressão dos pensamentos por meio da simbologia.

ORQUÍDEA - Típica do verão, ela simboliza
a filosofia
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Muitas
são as teorias, entretanto, o que se sabe a respeito dessa
civilização milenar é que sua cultura é
enriquecida pelos símbolos naturais relacionados a fatos
históricos, lendas e crenças do povo japonês,
algumas valorizadas até hoje. Foi pensando nisso, que o
NB realizou esse primeiro levantamento com os significados das
flores e das árvores tão cultuadas no país
do sol nascente. Na segunda parte desse especial, a temática
recairá sobre os animais no imaginário cultural
do Japão.
Os
simbolismos obtidos pelas feições visíveis
das plantas não são numerosos. Todavia, um grande
número deles é resultado de lendas, mitos e fatos
históricos nos quais as plantas têm um papel importante,
diz o escritor, ilustrador e pesquisador da cultura japonesa,
Cláudio Seto. A paixão dos nipônicos pelas
alternativas artísticas oferecidas pelas plantas tem fama
internacional, com seu maior expoente nas técnicas de ikebana
e no cultivo do bonsai. Essa forte ligação com as
plantas encontrou reflexos culturais ao longo da história
do país e conseguiu eternizar-se em lendas e crenças
populares entre os japoneses.
De
acordo com a professora, escritora e pesquisadora Cecília
Saito, essa ligação dos nipônicos com esses
elementos naturais tem raízes abstratas. É
uma característica do japonês essa familiaridade
com a natureza refletindo o seu interior. Desde os tempos mais
antigos, a atitude ante a natureza é seguida de uma indubitável
melancolia. Alguns exemplos disso são as cerejeiras e suas
flores na primavera e o cair das folhas coloridas do momiji no
outono. São as falas da natureza e sua transitoriedade
no espírito do povo japonês, define.
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Algumas
figuras simbólicas
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Sakura (flor de cerejeira) A tradição em
torno da flor nacional símbolo do Japão está
calcada em lendas e crenças. Sakura é uma modificação
do nome sakuya, proveniente da princesa Kono-hana-sakuya-hime, a
qual os japoneses veneravam no topo do Monte Fuji. Acredita-se que
as princesa tenha caído dos céus sobre uma cerejeira.
Outro aspecto de forte significado do sakura é sua ligação
com os samurais. No período feudal, a vida desses guerreiros
era comparada à efemeridade da flor de cerejeira, que durava
apenas três dias na primavera. Da mesma forma eram os samurais,
sempre dispostos a dar suas vidas em nome de seus mestres. Também
conhecida como flor das flores no arquipélago,
hoje o sakura faz parte da padronagem de quimonos e acessórios
decorativos.

MOMIJI - Conhecido como bordo, é uma planta cujas
folhas ficam avermelhadas e caem sempre na época
do outono
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Momiji Conhecido como bordo, momiji é uma planta
cujas folhas ficam avermelhadas e caem sempre na época
do outono, sendo, ao lado do sakura (na primavera), um outro espetáculo
muito apreciado pelos japoneses.
Kiku (crisântemo) Kiku é a flor que designa
a família real japonesa (Trono do Crisântemo), desde
a Era Kamakura. Sua chegada ao arquipélago aconteceu na
Era Nara; e sua popularização, na Era Heian, quando
difundiu-se que uma de suas propriedades seria o prolongamento
da vida.
Fuji Conhecida no Brasil como clêmatis, de seus
galhos nascem cachos de flor que se agarram como videira, simbolizando
a fortuna, a vida longa e a fidelidade. Essas flores são
muito utilizadas em padronagens de cerâmica e de tecelagem
japonesas.
Flor de ume (ameixa japonesa) Fonte de inspiração
para muitos poetas do gênero tanka, na realidade, a tradução
mais apropriada à ume não seria ameixa, pois os
frutos dessa árvore não podem ser consumidos in
natura, em razão de uma toxina neles contida, esclarece
a professora e pesquisadora Cecília Saito. No Japão,
é feita uma conserva com esses frutos (umeboshi), um licor
(umeshu) e as balas de ume. Sua beleza é muito apreciada
pelos nipônicos, quase se igualando à do sakura.
É uma espécie muito admirada por conseguir florescer
calmamente durante uma época fria (fevereiro a março).
Hanashobu (íris) A íris é uma
flor marcante no Japão desde a Era Edo, quando passou a
ser cultivada pelo xogum Matsudaira Sadatomo (1773~1858) e seu
significado está relacionado ao poder e à felicidade.
No final da Era Edo, tornou-se muito comum o cultivo dessa espécie
nos jardins.
Asagao (glória da manhã) Assim como o
sakura e o crisântemo, esta flor tem uma forte presença
na cultura japonesa. Ela floresce nas primeiras horas da manhã,
e suas sementes germinam com facilidade, sendo levadas pelo vento,
crescendo como flores do campo. No passado, também foi
usada com fins medicinais, já que se acreditava no poder
laxante do óleo de sua semente.
Matsu (pinheiro) Essa árvore é
tida como a de vida mais longa pelos japoneses, explica
o escritor, pesquisador e ilustrador Claudio Seto. No oriente,
a longevidade é sinônimo de sabedoria, e a sabedoria
é o elemento básico para a verdadeira felicidade,
afirma. No Japão, em ocasiões de nascimentos e casamentos,
é comum usar padronagens de pinheiros em quimonos, cartões
de felicitações, embalagens de presente e lembrancinhas.
Yanagui (salgueiro) O significado desta árvore
está relacionado à misericórdia divina. No
Japão, era freqüente a comparação de
mulheres bonitas com salgueiros.
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Simbolismo
das flores e das árvores
Linguagem floral na filosofia zenchi
Primavera
Português |
Japonês |
Simbolismo |
Narciso |
Suisen |
Devoção |
Pinheiro
|
Matsu |
Felicidade,
longevidade |
Camélia
|
Tsubaki |
Castidade,
alegria |
Salgueiro |
Yanagui-no-yu |
Misericórdia
divina |
Crisântemo |
Kiku |
Realeza |
Ameixeira |
Ume |
Vitalidade |
Pessegueiro |
Momo |
Feminilidade |
Bambu |
Take |
Lealdade |
Abricó
|
Anzu |
Graça |
Cerejeira |
Sakura |
Virtude
masculina |
Calêndula |
Kinsenkua |
Ciúme |
Macieira |
Ringo |
Autoridade
divina |
Rosa-da-Índia
|
Chosan |
Serenidade |
Pereira
|
Nashi |
Benevolência |
Verão
Português |
Japonês |
Simbolismo |
Peônia
|
Shakuyako |
Aristocracia |
Clêmatis
|
Fuji |
Fidelidade |
Lírio
|
Yuri |
Castidade |
Íris
|
Kakitsubata |
Poder |
Azaléia
|
Tsutsuji |
Bondade |
Hortênsia
|
Ajisai |
Encanto
feérico |
Íris
kaempferi |
Hanashobu |
Felicidade |
Cedro
|
Sugui |
Constância |
Glória
da manhã |
Asagao |
Capricho |
Orquídea
|
Ran |
Filosofia |
Lótus
|
Hassu |
Perfeição
espiritual |
Ibíscus
|
Mokugue |
Glória
efêmera |
Cravo
|
Kaneshon |
Amor
ardente |
Amaranto
|
Hagueio |
Luto |
Junco
|
Futoi |
Valor |
Outono
Português |
Japonês |
Simbolismo |
Crisântemo
silvestre |
Noguiku |
Alegria |
Girassol
|
Himawari |
Adoração |
Amarilis
|
Amaririssu |
Esperança |
Rosa
|
Bara |
Fugacidade |
Dália
|
Daria |
Conquista |
Gérbera
|
Gabera |
Amor |
Copo-de-leite
|
Kayuri |
Coração
partido |
Flor
de laranjeira |
Kodemari |
Boas
festas |
Nandina
|
Nanten |
Alegria |
Tulipa |
Tyuripu |
Inconstância |
Inverno
Português |
Japonês |
Simbolismo |
Crisântemo
|
Kanguiku |
Sentimentos
nobres de inverno |
Narciso
|
Suisen |
Devoção |
Cerejeira
|
Sakura |
Audácia |
Pessegueiro
|
Momo |
Alegria
celestial |
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Lenda
do casal pinheiro
Diz
uma antiga lenda japonesa que na cidade de Takasago (Hyogo) vivia
um casal de velhinhos, modelo de felicidade e harmonia conjugal.
O velho chamava-se Okina; e a velha, Uba. Eram muito queridos
por todos, pela sua simpatia e bondade.
Um
dia, um mendigo muito velho e andrajoso que era um Kami
(semideus) disfarçado apareceu-lhes na porta da
choupana pedindo-lhes esmola. Okina e Uba mandaram-no entrar e
repartiram com ele sua frugal refeição. Enquanto
comia, o mendigo perguntou-lhes qual era o seu maior desejo. Eles
responderam:
Nosso maior desejo é ter meios para ajudar sempre os pobres
e, quando chegar o tempo de deixarmos este mundo, gostaríamos
de morrer juntos.
Conta-se
que, desde então, eles ficaram prósperos de repente,
viveram longos anos, sempre felizes, e morreram juntos, na mesma
hora.
Foi
então que seus corpos se transformaram em dois pinheiros.
O pinheiro é o símbolo da constância e da
felicidade conjugal. Ademais, o pinheiro significa a perpetuidade
do gênero humano, porque conserva-se sempre verde, mesmo
sob a neve. Estes pinheiros (aioi) em que Okina e Uba se transformaram
crescem dois a dois, em Takasago, e ainda hoje representam o emblema
da união feliz.
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Para
saber mais
BAIRD,
Merrely C. (2001).
Symbols of Japan: Thematic Motifs in Art and Design. Rizzoli Publisher.
COOPER,
J.C. (1978).
An Ilustrated Encyclopaedia of Traditional Symbols. Thames &
Hudson Ltd.
Enciclopédia
dos Museus,
Museu Nacional de Tóquio: Companhia Melhoramentos de São
Paulo.
GUTIÉRREZ,
Fernando G. (1967).
El Arte del Japón. Summa Artis, historia general del Arte,
Vol. XXI. Madrid, Espasa Calpe S.A
HIBI,
Sadao; et.all.(2001).
Snow, wave, pine: Traditional patterns in Japan Design. Kodansha
International, Japan.
WICHMANN,
Siegfried (1999).
Japonisme. Thames & Hudson Ltd. London.
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