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Terça-feira, 19 de março de 2024 - 5h57
 

Rituais de Ano Novo Japonês

(Arquivo Jornal NippoBrasil)

No Brasil, as confraternizações de final de ano sempre foram sinônimos de festa. O Natal, por exemplo - data oficial do nascimento de Jesus Cristo, é a mais importante delas, já que no País há milhões de cristãos. Mas, ao contrário daqui, no Japão a data natalina é quase uma novidade. A festividade foi adotada no início do século passado e apenas as pessoas mais modernas - abertas às novidades de outros países - é que comemoram a ceia natalina em restaurantes badalados. E, apesar da pouca comemoração à data, é possível encontrar em algumas ruas de Tóquio, árvores de Natal decoradas com bolinhas brancas porém, nem tão enfeitadas como as do Brasil. Lá, a figura do bom velhinho de barbas brancas também sofre algumas adaptações. Santa Kurossu (Santa Claus, em inglês), como é conhecido pelos japoneses, não usa roupas vermelhas nem botas pretas, mas sim, quimono.

Porém, a data mais festejada no arquipélago é mesmo o Ano Novo - conhecido como Oshogatsu - que é comemorado entre os dias 1º e 3 de janeiro. Lá, a data representa mais do que uma confraternização, mas um período considerado sagrado para que as pessoas possam se purificar e fazer orações para o ano que se inicia.

Confira os rituais seguidos pelos japoneses para comemorar esta data tão especial.


Oosouji

O Ano Novo é para os japoneses um ponto de partida para uma “nova vida”. Por isso, já no início do mês de dezembro eles começam a se preparar para esta festividade e realizam o oosouji (palavra japonesa que significa, literalmente, “limpeza”) em cada casa, ou seja, uma limpeza doméstica rigorosa para tirar todas as impurezas do local acumulados durante o ano que se passou. Segundo a tradição, essa limpeza pode ser feita somente até o dia 31 de dezembro, e jamais deve ser realizada no dia 1º de janeiro. O oosouji é feito também em empresas pelos próprios funcionários.


Kadomatsu

Após o oosouji, as pessoas começam a enfeitar suas casas com decorações típicas do Ano Novo japonês.

A entrada das casas é decorada, geralmente, com um par de pinheiros denominados kadomatsu, que são colocados em ambos os lados dessa entrada. Os pinheiros, por sua dureza, simbolizam uma vida longa. Atrás deles são colocadas três hastes de bambu, que representam constância e virtude.

No alto do portão ou no telhado da casa é suspensa a shimenawa, uma corda feita de palha e tiras de papel branco (heisoku) que simbolizam um lugar sagrado.


Tsuru

Além do kadomatsu e da shimenawa, os japoneses utilizam também para a decoração de suas casas nesta época o tsuru (a tradicional cegonha de origami). Antigamente, costumava-se pendurar estas aves de papel no teto, principalmente para distrair as crianças e os bebês. Eram também oferecidas nos templos e altares, junto com orações, para pedir proteção.

Hoje, as dobraduras estão presentes não só no Ano Novo, mas também em casamentos, nascimentos e em comemorações festivas em geral. Quando uma pessoa está hospitalizada, por exemplo, é oferecido mil tsurus à ela para que se reestabeleça. Todo o dia 6 de agosto são depositados em mausoléus e monumentos da Paz inúmeros conjuntos de mil tsurus (vindos de todas as partes do Japão e do mundo) feitos em homenagem às pessoas que morreram vítimas da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, com a intenção de que isso jamais venha a se repetir.


Hatsuyume

O hatsuyume é o primeiro sonho do ano. Segundo os japoneses, quem tem um sonho bom em um dos três primeiros dias do novo ano, terá sorte durante todo aquele ano. Antigamente, para tentar atrair boas imagens durante o sono, as pessoas colocavam embaixo do travesseiro uma folha de papel em branco com o desenho do takarabune (barco tesouro), que é um barquinho com sete deuses (shichifukujin) que dão sorte.

 

Hatsumode

Já ao soar a meia-noite do dia 31 de dezembro, os sinos de todos os templos budistas do país começam a tocar 108 vezes. Este ato representa as preces budistas para libertar o homem dos seus 108 pecados e limpar sua mente e espírito para saudar o ano que entra.

Este costume é denominado hatsumode (primeiro culto do ano). Após o culto, em frente aos templos, as pessoas fazem uma enorme fogueira e, com uma vara de bambu, esquentam seus motis, para comerem em suas próprias casas. Durante todo o primeiro dia, os templos permanecem repletos, que vestem suas melhores roupas. Já nos outros dias, a cerimônia é comemorada junta dos familiares onde todos realizam alguma atividade que gostam.


Kakizome

O kakizome (primeira caligrafia do Ano Novo) é feito, geralmente, no segundo dia do ano. Neste dia, milhões de japoneses, inclusive crianças, pegam um papel branco e escrevem, com muito capricho, uma frase - que pode ser um desejo, um poema, etc. No dia 15 de janeiro, acontece um outro ritual, chamado de sagichô, onde é feita a queima das folhas de kakizome, juntamente com outros objetos utilizados na decoração do Ano Novo.

A tradição diz que, quanto mais alto subirem os pedaços de papel do kakizome durante a queima, mais talentosa será a pessoa. Há ainda aqueles que acreditam que a exposição a esta fogueira ajuda a rejuvenescer e a proteger contra doenças.

Esta prática do kakizome se difundiu durante o período feudal, graças à proliferação das terakoyas (escolas particulares, geralmente localizadas em templos), que ensinavam, além de várias disciplinas, a escrita japonesa. Já no período Menji, o kakizome voltou a ganhar forças devido ao crescente interesse pelo shodô, a arte da caligrafia japonesa


Hanetsuki, Takoage e Koma

O Ano Novo no Japão também é sinônimo de diversão. Enquanto os meninos empinam pipas (takoage) ou jogam pião (koma), as meninas, vestidas de quimono, jogam peteca (hanetsuki) com raquetes de madeira. Quem deixa a peteca cair, é punido com uma pincelada de nanquim no rosto.


Hyakunin Isshu

Já os adultos costumam brincar com o Hyakunin Isshu, um jogo de cartas típico de Ano Novo. As cartas têm impressas uma coleção de 100 poemas clássicos (os waka). São, no total, dois conjuntos de cartas: um com os poemas e outro com apenas as últimas 14 sílabas dos mesmos poemas. No jogo, a medida em que o jogador lê um poema do, os demais devem escolher a carta que completa o poema.


Moti

Os japoneses seguem à risca as tradições de Ano Novo inclusive na área gastronômica, sendo o arroz a comida mais respeitada por eles. Durante a maior parte da história do Japão, este alimento era tão valioso que apenas a aristocracia, os comerciantes e os samurais é que o consumiam regularmente. Para os japoneses, o arroz representa mais do que um alimento; é uma fonte essencial de energia vital que possui o poder de sustentar o renascimento e, por isso é servido principalmente em casamentos e funerais. Acredita-se que o onigiri (bolinho de arroz cozido) possui uma poderosa força espiritual e simboliza a forma da alma. Por este motivo, eles são colocados nos altares das casas e em santuários como oferenda aos deuses. Até mesmo a palha das espigas de arroz é tida como possuidora de poderes espirituais. Inclusive, é com ela que se fazem os shimekazaris; ornamentos que servem para demarcar os espaços sagrados e são colocados nas entradas das casas e dos prédios no Ano Novo, como um convite aos deuses para uma visita.

No Japão, há, inclusive, um ritual que deve ser seguido durante a comemoração chamado de motitsuki. Para esta preparação, o arroz deve ficar de molho na água durante uma noite e depois, cozido em banho-maria. Ainda quente, ele é colocado num pilão (chamado usu) e batido com um almofariz (kine). Depois de socado, o arroz se transforma numa massa uniforme e é dividido em pequenos bolinhos, formando assim os motis. Antigamente, os japoneses acreditavam que o motitsuki era um pedido de boa colheita, fertilidade e longevidade e, por isso, era feito sempre na vidada do novo ano. Hoje, eles acreditam que o moti traz sorte e, por isso, no dia 31 para o dia 1º, eles costumam espalhar motis em diversos pertences da família - como carros e casa.

No Ano Novo são feitas diversas receitas com o moti, todas com o significado de trazer boa sorte. Uma delas - e a mais apreciada - é o ozooni, uma sopa com moti que deve ser tomada no dia 1º de janeiro. Segundo a crença, o ozooni faz bem ao estômago, melhora o espírito da pessoa e, por ser um alimento oferecido aos deuses, quem comê-lo será protegido por eles pelo resto do ano.

Outro prato muito consumido durante a comemoração do Ano Novo é o kagami moti, um bolinho de arroz glutinoso que desde a antigüidade é oferecido aos deuses. Na verdade, são dois motis, um colocado em cima do outro, sendo o de cima, um pouco menor. Segundo a tradição, eles são chamados assim porque os motis são redondos como os antigos espelhos (kagami). Eles representam o sol e a lua ou o homem e a mulher, e são decorados com uma folhagem simbólica e frutos do mar.

O kagami moti é decorado com uma folhagem simbólica e frutos do mar e são deixados no altar das casas como uma oferenda aos deuses, já que simboliza a felicidade e a prosperidade no ano que se inicia. No dia 11 de janeiro, estes bolinhos são divididos em pequenos pedaços entre os membros da família num ritual chamado kagami-biraki (literalmente chamado de “abertura do espelho”), onde os motis são repartidos com a mão ou com um martelo.


Sobá

Além do moti, os japoneses consomem também o sobá. Trata-se de um macarrão de trigo que, literalmente, é chamado de toshikoshi-sobá (macarrão da passagem de ano). Antigamente, as pessoas acreditavam que este alimento atraía muito dinheiro. Hoje, o sobá simboliza a longevidade, já que pode ser comparado com a barba e os cabelos brancos dos deuses de longa vida.


Nengajou

No Japão, a tradição é enviar cartões para desejar boas entradas no Ano Novo. Estes cartões são chamados de nengajou. No Japão, não se deve enviar cartões após o dia 2 de janeiro, porque é considerado uma falta de educação. Também não se deve enviar à famílias que tenham tido algum falecimento durante o ano.


Otoshidama

O otoshidama é um presente dado às crianças normalmente pelos pais ou familiares no dia do Ano Novo. Trata-se de uma quantia em dinheiro para que elas possam comprar algo que realmente desejam. Essa quantia pode variar de mil a dez mil ienes.


Oseibo

É comum no Japão as pessoas presentearem outras como uma forma de agrado, carinho ou retribuição. Por isso, no Ano Novo, os empregados costumam presentear seus superiores com alguma lembrancinha. Este ato é chamado lá de oseibo.

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