O
poço das violetas
Na
província de Yamato, existe uma bela montanha, muito famosa...
(Por
Cláudio Seto*)
Pela
abundância de cerejeiras na primavera e por ter sido cenário
de batalhas sangrentas ao longo da história. Ao pé
da montanha, fica o penhasco Shimizu, apelidado de poço
das violetas, por estar cheio de flores.
Há
muitos e muitos anos, Hime, uma bela princesa de 16 anos, filha
de Asano Zembei, o senhor feudal da região, chegou ao vale,
acompanhada de suas damas para colher flores campestres.
Quando
Hime esticou sua mão para colher as violetas roxas, uma
grande serpente da montanha surgiu entre as plantas, fazendo-a
gritar e desmaiar de susto.
Matsu, uma das acompanhantes, ouviu o grito da princesa e, ao
vê-la desmaiada, constatou que uma serpente verde estava
enrolada ao lado de sua cabeça. Instintivamente, atirou
seu cesto de flores na serpente, que fugiu, deslizando pela relva.
As
meninas esfregaram as mãos da princesinha e tentaram recuperar
seus sentidos. Porém, ela foi ficando mais pálida.
Nesse
momento, ouviram uma voz:
Não se desesperem. Posso ajudar a princesinha, se
me permitirem.
Quando elas levantaram as cabeças, viram um belo jovem
vestido como onmyoji (mestre do Ying e Yang em chinês).
Parece um tennin (anjo celeste) comentou baixinho
uma das meninas.
O jovem
tomou o pulso da princesa. No pé esquerdo, encontrou marcas
das presas da serpente. Tirou do bolso um frasco com um remédio
que, com a ajuda de Matsu, fez a Princesinha beber.
Algum tempo depois, Hime despertou e, aos poucos, foi ficando
boa.
Graças ao seu medicamento, estou salva. Posso saber
o seu nome?
O curandeiro
não respondeu, mas deu um sorriso de satisfação
e afastou-se até desaparecer nas névoas da primavera.
No palácio e sabendo do ocorrido, os pais de Hime ficaram
satisfeitos pela recuperação da filha. Nos quatro
dias que se seguiram, Hime recuperou a saúde. Mas, no quinto
dia, ficou acamada. Não conseguia dormir, não tinha
vontade de falar e foi enfraquecendo dia a dia.
Asano Zembei e sua esposa fizeram de tudo para salvar a filha.
Naquele clima de lamúrias Matsu pediu audiência com
o senhor feudal. Diante das circunstâncias, ele consentiu
em ouvi-la.
Matsu
contou ao senhor feudal que a doença de Hime não
se curava com remédios. Disse que ela estava completamente
apaixonada pelo seu jovem benfeitor.
E quem é esse moço? Qual é o nome
dele? perguntou Asano.
É um curandeiro jovem, educado, mas não disse
seu nome. Deve ter nascido nas classes sociais mais baixas. A
classe dos párias, dos etas. Seu nome deve ser Yoshisawa,
estava escrito no frasco de remédio que ele deu à
Princesinha.
A mãe de Hime sugeriu ao marido dizer à filha que
entrevistariam o moço como pretendente à sua mão
em casamento.
Sabemos que esse casamento é impossível. Porém,
devemos guardar segredo e ganhar tempo para que ela se recupere.
Isso vai devolver as energias a nossa filha!
Hime
soube por sua mãe que seu pai entrevistaria seu amado como
seu pretendente e sua vida voltou ao normal. Então, ela
foi à sala de audiências do palácio.
Minha querida disse Asano é impossível
sua união com seu amado. Embora ele seja um moço
de excelente qualidade, tem origem eta. A partir de hoje, o nome
dele não deve ser mencionado.
Na
manhã seguinte, Hime havia desaparecido. Três dias
depois, encontraram seu corpo coberto pelas violetas do vale.
Inconsolável, Yoshisawa, atirou-se do penhasco Shimizu.
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