(Por
Cláudio Seto*)
Era
uma vez, aconteceu um fato insólito em Miho (hoje
província de Gifu). Havia um velho lenhador que morava
junto com sua velha companheira, numa pequena casinha ao
pé da montanha. Apesar de pobres, viviam agradecendo
aos deuses da Natureza por ter lhes dado muita saúde
e longa vida. Seu único lamento era o de não
ter tido filhos na juventude. Agora, com a idade avançada,
sentiam uma inexplicável solidão. Como se
faltasse algo para preencher os últimos anos de suas
vidas. Para consolar o irremediável, o casal mergulhava
nas lembranças românticas e trazia à
tona saudosos momentos dos tempos dourados da mocidade.
Certa
ocasião, o velho lenhador saiu para catar galhos
de árvores no mato e, levado por nostálgicas
lembranças, resolveu percorrer as antigas trilhas
do seu passado como jovem lenhador. À medida que
caminhava, foi notando que a paisagem estava se tornando
diferente do que conhecia, até que, em dado momento,
já não sabia onde estava.
Cansado
de andar, parou junto a uma fonte de águas cristalinas
e resolveu matar a sua sede. Com as mãos em formato
de concha, bebeu lentamente aquela água gostosa,
que desceu banhando sua seca garganta. De repente, sentiu
que sua canseira havia desaparecido e que seu corpo experimentava
uma sensação de vigor há décadas
perdida.
O
lenhador olhou para sua imagem refletida na água
e levou um susto. Sua farta barba branca havia desaparecido
juntamente com as rugas. No lugar da pele flácida
e enrugada, vibravam músculos cheios de energia.
Um milagre! O velhinho havia recuperado toda a sua mocidade!
Estava novamente com aspecto de quem tem 18 a 20 anos!
Feliz
da vida, com um sorriso que só os descobridores da
fonte da juventude possuem, o lenhador voltou para casa
cantarolando.
Lá chegando, quase matou a velhinha de susto. Ela
não acreditava no que via. Aquele moço lindo,
por quem se apaixonara há cerca de 50 anos, estava
sorridente em carne e osso a sua frente.
O
ex-velhinho tratou de tranqüilizá-la
contando toda sua milagrosa história. A velha botava
as mãos na cabeça e dizia, eufórica:
Onde fica essa fonte? Dessa água eu beberei
aos montes!. O lenhador explicou o caminho detalhadamente
e foi dormir. Queria descansar, pois a carga emocional havia
sido demais para um dia só.
Antes
mesmo de o sol raiar, a velhinha saiu em busca da juventude
perdida. Ela chorava e ria ao mesmo tempo. Não conseguira
dormir, pois estava ansiosa em saber que também se
tornaria bela e formosa.
Ao
despertar com o canto dos pássaros, o lenhador percebeu
que sua mulher tinha saído em busca do rejuvenescimento
nas límpidas águas da milagrosa fonte e ficou
em casa preparando um gostoso almoço para comemorar
uma nova lua-de-mel. Porém, o tempo foi passado,
passando, passando, a comida esfriando, esfriando, esfriando,
e nada de a velhinha voltar. Não agüentando
mais a pressão da ansiedade, o velhinho remoçado
correu para a floresta.
Gritou chamando a velhinha, porém somente o eco respondeu
o seu apelo.
Horas
depois, cansado de tanto procurar pela companheira, ele
fez uma pausa. Desiludido na procura, o lenhador aproximou-se
da fonte para descansar. Nisso, ouviu, em um arbusto, o
choro de um bebê. No primeiro momento, pensou que
se tratava de sua imaginação, mas, como o
choro persistia, resolveu verificar.
Entre
as folhagens que margeavam a fonte, havia uma criança
abandonada. Uma menina com poucos meses de vida. Quem
teria feito uma coisa desalmada dessas? Pensando isso,
o lenhador pegou o bebê.
A
menina era tão novinha, que ainda não sabia
falar, mas havia um magnetismo em seus olhos que revelava
uma experiência de longa data. Tomado de profunda
emoção, o moço entendeu tudo:
Essa não! É você, minha velhinha! Foste
muito afoita à fonte e bebeste água demais.
A sede da eterna juventude fez você beber com exagero,
agora és uma recém-nascida!
O
lenhador deu um suspiro e caminhou de volta para casa. O
amor romântico que o casal tanto sonhara não
seria mais possível. Com a menina nos braços
enquanto caminhava, o rejuvenescido lenhador começou
sentir um amor paterno. Compreendeu que era hora de cuidar
e proteger, como pai, aquela que, por tanto tempo, foi sua
companheira. Um presente da natureza: uma filha que nunca
tivera a oportunidade de ter.
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