(Por
Cláudio Seto*)
a
segunda década do ano mil, a aldeia de Kamiide,
na província de Suruga, no Japão, foi tomada
por um surto de varíola. As pessoas ficaram muito
mal e começaram a morrer seguidamente. Todos os
dias, havia lamentações pela perda de entes
queridos por parte de seus familiares. Nessa ocasião,
a mãe de um jovem aldeão chamado Yosoji
também caiu doente, trazendo-lhe grande preocupação.
Então, o moço procurou um mago de nome Kamo
no Yamakiko em busca de cura.
O
mago disse ao jovem que procurasse um riacho a sudoeste
do Monte Fuji.
Na nascente desse riacho, existe um santuário dedicado
a Okinaga Sukuneo, o deus da Longevidade. Tome dessa água
e leve-a para sua mãe beber. Essa água é
um santo remédio.
O
jovem, então, cheio de esperança, caminhou
mata adentro, enfrentando grandes perigos, pois, naquela
época, a floresta em torno do Monte Fuji era habitada
por animais selvagens.
Depois
de uma árdua e demorada caminhada, chegou a um
ponto onde a trilha se dividia em três rumos a tomar.
Enquanto tentava decidir em qual direção
deveria seguir, apareceu por lá uma belíssima
jovem vestida de branco, que disse:
Sei que você é um filho dedicado.
Não mede esforços em busca da cura para
enfermidade de sua mãe. Siga-me, que levarei você
até a nascente do riacho.
Os
dois penetraram na floresta e andaram durante muito tempo.
Finalmente, chegaram a um Torii (portal sagrado) próximo
de uma rocha de onde jorrava um fio de água. Essa
fonte era o santuário natural dedicado ao deus
da Longevidade.
Beba a água e encha a cuia para levar para sua
mãe disse a linda jovem.
Depois, ela acompanhou Yosoji até o ponto onde
se encontraram e recomendou:
Estarei lhe esperando daqui a três dias,
pois você vai precisar de mais goles desta água
para sua mãe.
Depois
de cinco visitas ao santuário do deus da Longevidade,
acompanhado da bela jovem, Yosoji estava muito feliz,
porque sua mãe havia melhorado e também
os vizinhos a quem ele distribuiu a água. Quando
contou a sua mãe todo o ocorrido, ela lhe disse
que gostaria de saber o nome de tão bondosa criatura.
Os
aldeões mostraram-se agradecidos e foram reverenciar
o bravo Yosoji e o mago Kamo no Yamakiko com muitos presentes.
O moço, porém, sentiu que deveria agradecer
à linda jovem que o guiou para que pudesse encontrar
a fonte sagrada. Assim, resolveu voltar ao santuário
do deus da Longevidade, na esperança de encontrar
a bela mocinha.
Ao
chegar no local, viu, surpreso, que a fonte havia secado.
Sentiu uma grande tristeza e, ajoelhado, rezou pedindo
ao deus da Longevidade que lhe proporcionasse um encontro
com aquela jovem, pois queria agradecer por tudo que ela
havia feito por sua mãe e pelos aldeões.
Quando se levantou, viu que a moça estava em sua
frente.
Você não devia ter vindo aqui. Sua mãe
e os aldeões estão curados, portanto não
há razão para você vir até
aqui.
Eu vim porque ainda não lhe agradeci suficientemente
pelo pronto restabelecimento de minha mãe e de
todos os aldeões.
Assim,
o moço agradeceu em seu nome e de toda aldeia pela
ajuda que ela havia prestado. Em seguida, expressando
um desejo de sua mãe, perguntou o nome dela.
Meu nome pouco importa. E o que fiz dispensa agradecimentos.
Eu guiei você até a fonte porque o deus da
Longevidade me pediu. Disse-me ele que seu amor de filho
é algo tão admirável que merecia
ajuda. De sorte, você ajudou toda a aldeia, tanto
que a fonte chegou a secar. Mas ela voltará a verter
águas sagradas quando o povo necessitar novamente
de ajuda e surgir outra alma bondosa como a sua querendo
auxiliar seus semelhantes.
Em
seguida, sem dizer seu nome, mas sempre com um sorriso
amável, a bela jovem de branco sacudiu um ramo
de camélias, como se estivesse chamando alguém.
Em resposta ao aceno florido, desceu uma pequena nuvem
do Monte Fuji na direção onde eles estavam.
A linda jovem subiu na nuvem e esta se locomoveu levemente
com uma pluma. Carregando a jovem, transportou-a em direção
do monte sagrado. Vendo-a flutuando no espaço sobre
a nuvenzinha, Yosojo entendeu que seu guia havia sido
ninguém menos que Sengen-sama, a deusa do Monte
Fuji. Então, caiu de joelhos e ficou claro porque
toda a aldeia havia recebido uma grande graça.
A deusa, como lembrança, atirou lá do alto
o galho de camélias floridas.
Yosoji
apanhou o galho e plantou-o com carinho. Em pouco tempo,
a planta transformou-se em uma grande árvore e,
perto dela, foi erguido um santuário. O povo passou
a adorar a árvore e dizem que o chá das
folhas desse pé de camélia é, ainda
nos dias de hoje, um santo remédio para muitos
males.
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