Após
secagem, o lodo, rico em nitrogênio e fósforo, é
removido do leito e está pronto para ser usando na plantação
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Estação de tratamento de esgoto: local pode se transformar
em fonte de resíduos para fabricação de adubo
orgânico, rico em nitrogênio
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(Foto: Divulgação)
A
utilização de lodo de esgoto na adubação pode
substituir em 100% o adubo mineral nitrogenado. Além dos benefícios
ambientais e ecológicos, a técnica pode aumentar a produtividade
e diminuir custos. Essas são as conclusões da pesquisa coordenada
pelo professor Cassio Hamilton Abreu Junior, do Centro de Energia Nuclear
na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba.
Pela vantagem
de eliminar ou minimizar o uso de adubos minerais, a utilização
do lodo de esgoto no solo brasileiro para fins agrícolas é
estudada há quase 30 anos. Apesar desse tempo todo de pesquisa,
o assunto é relativamente recente no Brasil quando comparado com
Estados Unidos, Europa e Ásia, onde a prática é mais
antiga, afirma Abreu Junior. Porém, a preocupação
do pesquisador em estudar o assunto ultrapassou o processo de produção
agrícola: abordou a contaminação do solo, dos lençóis
freáticos e dos próprios alimentos.
Segundo o professor,
a atividade humana nas cidades gera dois importantes resíduos:
lixo urbano e lodo de esgoto (oriundo do tratamento dos esgotos domésticos).
Lembrando que os solos brasileiros são pobres em matéria
orgânica, a utilização de composto do lixo para fins
agrícolas vem sendo difundida por estudos acadêmicos porque,
além de rica fonte de matéria orgânica, elimina ou
minimiza o uso de adubos minerais, destaca Abreu Junior. No
caso do uso agrícola do lodo de esgoto doméstico, sua aplicação
é controlada por autorização da Companhia Ambiental
do Estado de São Paulo (Cetesb). Apesar de o lodo possuir
matéria orgânica e nutrientes importantes para o crescimento
das plantas como nitrogênio e fósforo, também pode
conter patógenos, metais pesados e compostos orgânicos,
explica.
Outra importante
vantagem ambiental é o prolongamento da vida útil dos aterros
sanitários, destino dos resíduos domésticos. Se
o lixo e o lodo possuem matéria orgânica e nutrientes benéficos
para o solo, além de atenderem às normas para uso agrícola,
por que jogar no aterro algo que é nobre?, questiona o pesquisador
ao se referir aos altos custos de implantação de aterros
controlados. Isso sem contar o impacto ambiental causado por estes
locais. Ninguém quer um aterro perto de casa, completa.
Por enquanto,
os estudos são conduzidos em plantações de eucalipto
e na cultura de cana-de-açúcar. Dados já confirmados
nessas culturas dão como certa a capacidade de o lodo substituir
o adubo mineral que contém nitrogênio e fósforo.
Os experimentos
com cana estão mais adiantados em comparação ao ciclo
do eucalipto, que dura sete anos. Na cana, há o aumento de
12% da produtividade nos locais que receberam o lodo aplicado como substituto
do nitrogênio e complementado com adubo contendo potássio
(o lodo é pobre nesse nutriente), esclarece o professor.
Com relação à cana, podemos afirmar que 100%
do adubo mineral nitrogenado que deveria ser aplicado pode ser substituído
pelo lodo de esgoto, garante o pesquisador, ressaltando que as doses
de fósforo são supridas em até 30%.
Eucalipto
Em eucalipto,
esse tipo de adubação substitui totalmente o uso de nitrogênio
e supre 66% do fósforo necessário. O pesquisador alerta
que os resultados devem ser interpretados com cautela. Apesar da
farta abundância nas estações de tratamento de esgoto,
o lodo deve ser aplicado seguindo os critérios exigidos pela norma
do Conama. Outro subproduto gerado pelas estações
de tratamento de esgoto e que pode ser muito utilizado na agricultura
é a água residuária, rica fonte de irrigação
por conter nutrientes. O lodo e a água provenientes de estações
de tratamento, quando gerados de forma correta, têm uso agrícola
interessante. Basta tratá-los de forma adequada. O mais importante
é que o esgoto seja urbano e não industrial, alerta
Abreu Junior.
Mais uma vantagem
ambiental dessas pesquisas são as alternativas para a substituição
do fósforo na adubação, material que está
se tornando escasso.
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