Os
três cientistas que participaram da pesquisa sobre o baru:
Roland Vencovsky (à esq.), Roberto Tarazi (ao centro) e Paulo
Yoshio Kageyama
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Os
três cientistas que participaram da pesquisa sobre o baru:
Roland Vencovsky (à esq.), Roberto Tarazi (ao centro
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(Fotos: Kyodo
e Yoko Fujino/NB)
Alguém
já ouviu falar em baru? Apesar de desconhecida da maioria da população,
a planta, da qual aproveita-se tudo, tem um grande potencial econômico.
O baru foi alvo das pesquisas de cientistas da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, em parceria com a Unesp
e Embrapa, que realizaram estudos genéticos com esta árvore
encontrada principalmente na região central do cerrado brasileiro.
As pesquisas resultaram em importantes subsídios que vão
ajudar no manejo e na conservação da própria planta
e podem servir de modelo para outras espécies. Os estudos foram
realizados no Laboratório de Reprodução e Genética
de Espécies Arbóreas (Largea), do Departamento de Ciências
Florestais da Esalq, sob a coordenação de Paulo Yoshio Kageyama.
Há
mais de 100 anos a planta é utilizada naquela região,
destaca o pesquisador Roberto Tarazi. A árvore tem múltiplas
utilidades: a madeira é usada para construção de
mourões, os frutos apresentam potencial farmacológico antirreumático,
e as sementes são utilizadas para a produção de farinha
e castanha de baru. O pesquisador lembra ainda que o cerrado tem
catalogado uma flora de 11.627 espécies. Destas, 561 apresentam
princípios ativos com potencial farmacológico, destaca.
Trata-se do segundo maior bioma brasileiro e é considerado
uma das 34 regiões
prioritárias para o estudo e conservação da biodiversidade
do mundo. Infelizmente, a devastação do cerrado já
atinge cerca de 50% de sua área.
Os pesquisadores
conseguiram mensurar a diversidade genética de amostras da espécie
por meio da biologia molecular. É a mesma técnica utilizada
para identificar o DNA humano. Fizemos exatamente como se faz os
testes de paternidade em humanos, explica Tarazi.
Diversidade
genética
Tarazi lembra
que o baru possui uma alta diversidade genética. A existência
de plantas geneticamente distintas uma das outras resulta de uma seleção
natural que ocorreu ao longo do tempo. Quanto maior a diversidade genética,
maior é a possibilidade de um tipo ter vantagem de adaptação,
por exemplo, para secas, inundações, doenças, etc.,
diz o pesquisador.
Os cientistas
também estudaram o sistema reprodutivo dos vários tipos
de baru e descobriram que a flor hermafrodita da planta tem a capacidade
de se autofecundar. Esse tipo de estudo permite verificar o percentual
de frutos produzidos por autofecundação e se estes são
originados por cruzamentos entre árvores aparentadas. Um aumento
na taxa de fecundação e no cruzamento entre árvores
aparentadas reduz a diversidade genética e, consequentemente, o
potencial evolutivo, explica Tarazi. Segundo o pesquisador, os dados
do estudo demonstram que a taxa de autofecundação no baru
varia muito entre plantas. Essa variação é
natural da espécie, mas pode trazer dificuldades para trabalhos
futuros que visem o melhoramento genético voltado para alguma característica
agronômica ou florestal.
Pólen
viajante
Por meio das
análises de paternidade, os pesquisadores descobriram que o pólen
do baru viaja a grandes distâncias. Mas, segundo Tarazi, esse pólen
é proveniente de poucas árvores, as quais originam a maioria
dos frutos, reduzindo a diversidade genética nas sementes. Isso
se deve, provavelmente, a uma baixa densidade da espécie no local
do estudo ou ao corte seletivo ocorrido no passado que deixou poucas e
isoladas plantas na paisagem, justifica o pesquisador.
Os estudos
com o baru tiveram início em 2006 e foram concluídos em
2008. Em 2007, durante o Congresso Brasileiro de Genética, a pesquisa
recebeu menção honrosa da Sociedade Brasileira de Genética.
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