Dr.
Valdir Yuki: pesquisa identificou vírus
que atacava as hortências azuis |
(Fotos: Kyodo
e Yoko Fujino/NB)
Os estudos
sobre a saúde das plantas deram ao pesquisador Valdir Atsushi Yuki,
do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o prêmio Grupo
Paulista de Fitopatologia, um dos mais importantes do setor. A premiação
foi em fevereiro, durante o Congresso Paulista de Fitopatologia. Yuki,
da equipe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade do
IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, tem realizado pesquisas
na área de virologia, especificamente na transmissão de
vírus por insetos-vetores, com várias culturas de importância
econômica como alface, algodão, batata, citros e feijão.
Atualmente ele tem pesquisado também maracujá e plantas
ornamentais, especialmente hortênsias.
Em 2008, uma
pesquisa liderada por ele identificou o vírus que reduz o tamanho
das flores de hortênsias azuis e causa manchas às folhas.
Esses efeitos diminuem o valor de mercado da principal variedade comercial
da flor. O número de mudas plantadas caía ano a ano e todas
as matrizes (plantas que originam as mudas) estavam comprometidas por
um vírus nunca identificado no Brasil. O trabalho inédito
do nikkei salvou a espécie da extinção no País.
As matrizes
livres de vírus foram entregues à Aflord (Associação
dos Floricultores da Região da Via Dutra). Em janeiro, a associação
tinha cerca de 300 materiais livres de vírus, protegidos em uma
grande estufa. Atualmente o trabalho é ampliar ainda mais esse
número. No final de 2009, Yuki chegou a novas descobertas que contribuíram
para o setor. Segundo o pesquisador, foram identificadas outras três
variedades de hortênsias livres de vírus. Esse resultado
ainda requer a continuidade de testes para só então liberar
o material aos produtores.
A área
de virologia é carente de pesquisadores no Brasil e Yuki é
uma referência no País. Apesar disso, ele se diz surpreso
com o prêmio. Em maio já tenho tempo
para me aposentar, receber esse prêmio agora é uma satisfação,
afirmou. O nikkei já conquistou os três prêmios existentes
na área. Muitos pesquisadores almejam esse reconhecimento.
Recebê-lo no final da carreira representa o resultado de todos esses
anos de trabalho, é o reconhecimento de colegas.
O prêmio
Grupo Paulista de Fitopatologia é outorgado, anualmente, à
pessoa de reconhecida contribuição científica na
área de fitopatologia, pela Associação Paulista de
Fitopatologia, sociedade científica fundada em 1974. O agraciado
é escolhido por uma comissão designada anualmente pela Diretoria
do Congresso Paulista de Fitopatologia. A premiação foi
criada em 1975 e, desde então, 24 profissionais foram homenageados.
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Hortênsia
azul atacada pelo vírus que
causa mancha nas folhas e reduz o tamanho das flores |
Cultivo
de meristemas livres do vírus
para formação de novas matrizes |
A beleza das
hortênsias azuis já não estava tão admirável
antes das descobertas de Valdir Yuki. O tamanho reduzido das flores e
as manchas nas folhas depreciavam o produto no mercado. Para piorar, o
número de mudas vinha caindo ano a ano. E os produtores desconheciam
a causa do problema. Em busca de solução, enviaram amostras
ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que após quatro
anos de estudos identificou o vírus causador das perdas e acenou
com a salvação dos floricultores: o IAC fez a limpeza
da variedade chamada Renat Blue, a principal no mercado, obtendo matrizes
isentas do vírus, denominado cientificamente Hydrangea ringspot
virus, também chamado de mancha anelar da hortênsia. Foi
a primeira vez que esse vírus foi estudado no Brasil.
O atestado
de isenção desse problema foi entregue aos floricultores
em 2008, em Arujá, região que produz cerca de 80% das hortênsias
de vaso no estado de São Paulo. Foram liberadas dez matrizes isentas
do Hydrangea ringspot virus para a Associação dos Floricultores
da Região da Via Dutra (Aflord), que reúne 84 produtores
de plantas ornamentais, dentre eles os principais de hortênsias
do estado. O resultado é inédito no Brasil, principalmente
na parte de obtenção de planta sem vírus, afirma
Yuki.
O IAC recebeu
as amostras da Aflord em 2004. Naquele momento, 100% das matrizes estavam
contaminadas. Segundo a associação, a quantidade de mudas
de hortênsias vinha caindo, problema chamado degenerescência
da planta. Esse efeito, observado há cerca de seis anos, agravava
ainda mais a já existente carência de mudas no mercado de
hortênsias. Também em queda estava a qualidade do produto
final para o consumidor, já que o vírus reduz o tamanho
da flor e mancha as folhas.
Por se tratar
de um vírus novo no País, a ocorrência foi comunicada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Nesse trabalho, foram parceiros do IAC, além da Aflord, a Unesp
Botucatu e o Instituto Biológico. O resultado mostra a importância
da interação entre o setor produtivo e a pesquisa,
diz Yuki. Ações isoladas de produtores, sobretudo
os pequenos, não conseguem mudar uma realidade, por isso valorizamos
parcerias e formação de grupos, em todos os sentidos,
afirna Silvia Kato, da Aflord.
Yuki dedicou-se
ao trabalho de limpeza da planta, a fim de obter ao menos
uma sadia. Por meio da técnica de termoterapia, feita no IAC, e
de cultura de tecidos, realizada na Aflord, os resultados chegaram em
dois anos: em 2006, foram obtidas várias plantas. De lá
para cá, foram feitos testes para confirmar a sanidade do material
obtido. Dez plantas isentas de vírus foram confirmadas.
Essas são
as matrizes básicas e, a partir delas, é feita a multiplicação.
Das dez plantas isentas serão originadas todas as mudas dos produtores,
sendo que apenas um deles produz 20 mil vasos.
O pesquisador
do IAC conta que orienta constantemente os produtores, cuja ação
é fundamental no sentido de preservar a sanidade das plantas, que
podem se contaminar novamente, caso não sejam adotadas as medidas
corretas de manejo. Por exemplo, o cuidado no corte de mudas, já
que a tesoura pode transmitir o vírus, que é bastante específico
de hortênsias. Os cuidados com as estufas também são
essenciais e, nesse caso, recomenda-se a proibição de entrada
de estranhos. Explico para eles que o valor de uma planta sadia
é incalculável já que dela depende toda a produção,
diz o pesquisador.
O conhecimento
sobre o vírus identificado está sendo repassado para todas
as regiões produtoras de hortênsias, inclusive no Japão
e Alemanha, os principais países nesse segmento. Yuki explica que
o vírus não tem cura, não há controle químico
a ser feito, mas que a planta convive com o problema, apesar dos sintomas
da contaminação. De acordo com o pesquisador, os estudos
terão continuidade com o objetivo de identificar novas formas de
contágio do vírus.
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