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Especial
- Nippo no Campo
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Orgânicos:
regulamentação pode atrair mais produtores
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A
pouca oferta é a principal causa da alta dos
produtos ainda pouco consumidos no Brasil
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Orgânicos:
procura trava
nos altos preços dos produtos
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Instruções
para
quem vai começar
Obtenha
informações sobre o mercado potencial, os concorrentes
e a logística de comercialização. Procure obter
informações de agricultores, técnicos, associações
que já trabalhem com agricultura orgânica em sua região.
Além
da escolha planejada das atividades a serem desenvolvidas, os registros
de todos os produtos utilizados e das vendas são essenciais
a uma boa administração e à rastreabilidade
do produto.
Procure
estabelecer qual será sua estratégia de comercialização,
definindo antes o tipo (direta ou indireta) e a capacidade de vender
e de produzir; caso necessite de certificação, procure
certificadora idônea e conheça anteriormente suas normas
de produção orgânica.
Elabore
um plano* de conversão para sua propriedade.
*Um
bom plano deve conter informações como:
a) histórico da propriedade ou área de produção;
b) atividades desenvolvidas;
c) manejo utilizado em cada atividade: adubos usados; manejo de
pragas, doenças e dos rebanhos; procedimentos para processamento,
armazenamento, transporte e comercialização dos produtos;
pontos críticos e a forma com a qual estes devem ser trabalhados
durante o período de conversão.
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(Reportagem:
Suzy Murakami | Foto: Orlando Kissner/Divulgação)
Um
relatório divulgado pela Agência Brasileira de Vigilância
Sanitária em abril deste ano mostrou que o alface, o morango e
principalmente o tomate convencionais comercializados no País estavam
com excesso de agrotóxicos. O assunto foi amplamente divulgado
pela mídia e isso tem ajudado a disseminar a agricultura orgânica.
Cultivado sem
o uso de produtos químicos, esses alimentos têm atraído
o interesse de brasileiros preocupados com notícias como a anunciada
pela Anvisa. Porém, o preço deles ainda tem sido um obstáculo
para muitos consumidores.
Basta uma rápida
pesquisa em um site de um supermercado de uma grande rede para perceber
a diferença no valor e na quantidade. Na gôndola virtual
dos orgânicos, só é possível encontrar cinco
tipos de tomate. Enquanto na dos convencionais estão expostas 23
qualidades. Para comprar 1 kg do tomate-caqui orgânico, o comprador
teria de desembolsar R$ 11. Para quantidade igual do mesmo produto convencional,
seriam necessários R$ 6,97. Entre os alfaces, a diferença
é de quase 50%.
A pouca oferta
é a principal causa do alto custo. Entre os motivos para a baixa
adesão de produtores a esse tipo de agricultura, segundo especialistas,
está a falta de regulamentação da lei para esse nicho.
Eventos que
ajudam a divulgar os orgânicos também não têm
tanto apoio. Quando não é orgânico, as empresas
de produtos químicos patrocinam. A agricultura ecológica
depende mais de cooperativas, ONGs, afirma Issao Ishimura, pesquisador
da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios de São
Roque da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.
Apesar das
dificuldades, há razões para esperar que o setor cresça
cada vez mais. Além da crescente busca por produtos saudáveis,
existe a necessidade de preservação do meio ambiente. A
agricultura orgânica ajuda a recuperar o solo e mantê-lo produtivo.
Em relação
ao custo de produção, a vantagem é a não dependência
de insumos importados, comumente usados na agricultura tradicional. A
alta desses produtos tem diminuído o lucro do produtor. Na agricultura
orgânica, os adubos são basicamente resíduos vegetais
e animais.
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O
que fazer para iniciar a produção ecológica |
Todas
as terças, sextas e domingos, a Associação de Agricultura
Orgânica (AAO) invade o Parque da Água Branca,
em São Paulo, para que seus associados vendam seus produtos. O
local foi cedido pela prefeitura para a realização da feira
há cerca de 20 anos para agricultores que passavam por dificuldades.
Sem recursos
para adquirir insumos, os produtores cultivavam suas verduras e legumes
com adubos naturais. Segundo Issao Ishimura, a mão-de-obra é
o maior custo na agricultura orgânica. Além de feiras e supermercados,
o produtor pode fazer cestaria, que é a entrega direta em casas,
restaurantes e hospitais.
Para iniciar
na produção orgânica, Araci Kamiyama dá algumas
dicas. Em primeiro lugar, é preciso conhecer o processo de mudança
do manejo convencional para o orgânico do solo, chamado de período
de conversão. Esse período é variável
de acordo com a utilização anterior e a situação
ecológica atual. A regulamentação estabelece um período
para cada grupo de culturas. Para as culturas anuais e pastagem perene,
são 12 meses de manejo orgânico. Para culturas perenes, 18
meses.
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Lei dos Orgânicos |
As primeiras
associações de agricultores voltada para a produção
orgânica surgiram nos anos 80. Mas foi apenas em 99 que a Instrução
Normativa 07 do Ministério da Agricultura foi criada, para estabelecer
diretrizes para o cultivo desses produtos.
Em 2003, foi
aprovada a lei dos Orgânicos (Lei 10.831), que teve o decreto encaminhado
para a regulamentação em 2005. Em dezembro de 2007, foi
regulamentada. Falta, agora, a publicação das Instruções
Normativas (IN) que complementam a lei. Estas devem ser aprovadas pela
Câmera Setorial da Agricultura Orgânica depois de consulta
pública. Uma delas já foi aprovada e outras ainda estão
em análise ou elaboração.
Até
agora, os produtores seguiam as normas ou da IN 07, ou das certificadoras.
Com a nova lei, a expectativa é de melhora no setor. No resto
do mundo, onde houve a regulamentação, a produção
aumentou, porque passou a existir um instrumento claro de garantia ao
consumidor. Dessa forma, vamos ter mais informações, estatísticas
e poder verificar como os produtores estão trabalhando, declara
o agrônomo Marcelo Laurindo, coordenador da Comissão da Produção
Orgânica de São Paulo.
Araci Kamiyama,
engenheira agrônoma e gerente da Associação de Agricultura
Orgânica (AAO), destaca algumas mudanças que ocorrerão
com a nova lei. As mudanças referem-se tanto à comercialização,
à certificação, à fiscalização
ou à produção, além do estabelecimento de
responsabilidades. O Inmetro, por exemplo, deve creditar as certificadoras
que atuam no Brasil e também deve ser criado um sistema de cadastro
nacional e um único selo nacional, como na Europa, o que facilita
a identificação pelo consumidor.
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Serviço:
Para se associar a AAO, o interessado pode ter informações
pelo site www.aao.org.br,
ou telefone (0xx11) 3875 2625. A taxa de contribuição é
de R$ 60 por ano. As feiras da AAO acontecem às terças-feiras,
às sextas-feiras e aos domingos, das 7h ao meio-dia, na Rua Francisco
Matarazzo, 455, Perdizes, São Paulo.
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