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Opinião - Edição 581 - Jornal NippoBrasil

2011 e o longo prazo

Teruo Monobe*

Muitos preveem que em 2011 começa uma nova história do Brasil. Concordamos com a ideia, pode ser isso mesmo. Não é pelo fato inédito de que o máximo mandatário do País seja uma mulher. Não existe diferença de gênero em se tratando de dirigir os rumos de uma nação. Muito menos que o sexo feminino seja incapaz de gestão hoje em dia. Pelo contrário, existem muitos exemplos de competência: Angela Merkel (Alemanha) e Michele Bachelet (Chile) são alguns deles. Acertos e erros não são privilégios de gente de um gênero ou de outro. Portanto, não é por aí que se deve começar a pensar no novo governo.

Esquecem as pessoas que, para se fazer uma comparação, é preciso retroceder no tempo. Mais precisamente, a 1994, com o Plano Real, um marco na economia do País. Depois de 1994, foram dois mandatos do PSDB e dois do PT. Então, se formos falar em partidos, há um empate. A história não pode ser vista de outra forma. Se um derrubou a inflação a níveis civilizados e projetou um novo país, o outro prosseguiu o combate à inflação ao pé da letra, então, pode-se dizer que um completou o outro. Agora, é diferente mesmo que a presidente seja do PT.

Explicando, depois da derrubada da inflação no mandato de FHC e o desenvolvimento econômico caracterizado nos dois mandatos do presidente Lula, resta saber o que vem pela frente. Principalmente, porque a inflação começa a atormentar os economistas oficiais, a crise mundial continua a todo o vapor e o Brasil precisa deixar de ser um emergente para se tornar um país desenvolvido econômica e socialmente. Quer dizer, vai ser preciso pensar em um novo modelo? Para tanto, seriam necessárias novas reformas. Mas que reformas?

Aqui a velha ladainha: o País tem baixa poupança, resultando em baixo nível de investimento e, como dizem os analistas, uma paixão pelo curto prazo. Isto é, o imediatismo é a regra. Difícil dizer qual a ordem dessas variáveis. Se o Brasil precisa de mais poupança (para poder investir), é preciso frear o consumo. Mas o PIB não tem crescido em razão do consumo? Ou cabe ao governo a tarefa de investir? Mas aí, como investir se o próprio governo não consegue conter os gastos? E as obras do PAC, da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada do Rio em 2016?

E não acabam aqui os problemas. Até agora, a propaganda oficial exagerou naquilo que o governo diz ter realizado. Muitos problemas não foram tocados, e logo o novo governo vai ter de prestar contas ao povo. Como disse o comentarista Marco Antonio Rocha, do Estadão, o novo governo recebe um “presente de grego”, ou seja, tudo o que contribuiu para a vitória eleitoral pode trazer muitas dores de cabeça em todo o mandato: câmbio sobrevalorizado, crédito farto, aumento real dos salários, redução da pobreza, excesso de dólares no Brasil.

Ao se enumerarem os problemas, começa-se a acreditar em ajuste. Fica a conotação de um plano para colocar a economia no lugar. Se for mesmo para corrigir os problemas, então, é sinal de que as coisas estavam erradas. O ajuste ou plano, porém, não vai ser possível cumprir no curto prazo, talvez um mandato seja insuficiente para isso. A não ser que seja “meia boca”. Pois bem, o ajuste geral deveria ser de política: fiscal, monetária, de crédito, cambial, salarial e industrial. É muita política pela frente. Então, o problema não é político, é de política.

Alguns comentaristas enfatizam que a tarefa mais difícil não está na gestão da economia, está muito mais na restauração moral das instituições, que estão assoladas pelos inúmeros escândalos nos últimos anos. Está, principalmente, nos maus costumes políticos. Infelizmente, trata-se de uma tarefa de longo prazo. Comandar o processo de recuperação moral é uma tarefa inglória, além de oferecer pouca visibilidade. Mas é coisa de estadista. Talvez algum dia seja possível recordar que houve alguém se esforçou em ser estadista. Pelo menos no início.




*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP

 

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