Opinião
- Edição 576 -
Jornal NippoBrasil
Novamente, a Europa em crise
Teruo Monobe*
Encerrada
a última reunião do G-20 em 2010, a notícia em evidência
é que dois novos países da União Europeia (UE) estão
quebrados. Para quem segue a crise na Europa, não se trata de nenhuma
novidade, pois Portugal e Irlanda já eram citados como países
prontos para pedirem socorro. Era uma questão de tempo. A situação
agora não é nada tranquila: ambos se acham encrencados com
o pagamento dos juros das suas elevadas dívidas, ou seja, estão
na marca do pênalti. Mas não é só
isso, eles têm outros graves problemas que vão ser revelados
logo.
Um parêntese:
como prognosticado, a reunião do G-20 não deu em nada. Pelo
contrário, o cenário do momento é pior do que na
ocasião de outras reuniões. Enquanto nas reuniões
passadas, a tônica era a busca de soluções para a
crise, agora é a discussão de quão ruins têm
sido as soluções dadas. Por exemplo, o Banco Central americano
(FED) está inundando o mercado com US$ 600 bilhões e repartindo
com o mundo os custos do ajuste. Quer dizer, todos vão ter de ajudar
(e pagar para) os norte-americanos a saírem da crise.
Bem, o resumo
é que a cúpula do G-20 deixou para o FMI resolver a grave
crise global. Quer dizer, os outros que se danem. Não adianta espernear.
Está voltando a era do salve-se quem puder. Os líderes
ganham quando as coisas estão boas e os liderados pagam quando
as coisas pioram, e fica por isso mesmo. Como foi derrotado nas recentes
eleições para a composição do Congresso, o
presidente Barack Obama tem agora de se preocupar com a política
interna. O pessimismo domina: dias piores virão para o comércio
mundial que será bastante prejudicado.
Voltando à
crise da Irlanda e de Portugal, a questão agora é o que
fazer para obrigar os ditos países a se enquadrarem
na política da União Europeia. A cobrança é
grande: que os países apresentem detalhes do que farão para
conter os gastos públicos e honrar o pagamento dos juros das elevadas
dívidas. Pior, a expectativa é que as medidas de austeridade
que precisam ser apresentadas não devem ser suficientes para resolver
a crise. A Grécia é prova disso: já está novamente
com problemas depois da ajuda da UE. A coisa pode se repetir com outros
atores.
Os brasileiros
sabem pouco sobre a economia portuguesa. Sabem apenas que o país
saiu de uma ditadura (de Salazar) de 36 anos, mergulhou na Revolução
dos Cravos (ou Golpe Militar de 25 de abril) de 1974, e depois deu independência
às suas colônias africanas. Com a adesão à
União Europeia em 1986, o país iniciou um período
de reformas e de altos investimentos em infra-estrutura, o que propiciou
crescimento econômico considerável. Portugal só foi
superado pela Irlanda em taxa de crescimento do PIB nos últimos
40 anos.
A Irlanda,
por outro lado, antes de a crise estourar, era um tigre celta,
tal o boom econômico experimentado nos últimos dez anos.
Por uma década, teve uma das mais elevadas taxas de crescimento
da Europa, atraiu investimentos na indústria de alta tecnologia
e, principalmente, passou de país de quem os ingleses faziam piada
a um respeitado exportador. Agora, o país se vê diante da
estagnação, e com a perspectiva de sofrer uma intervenção
branca da UE, não só tem o orgulho ferido, mas passa por
um baque na política econômica do país.
Agora, com
a intervenção da UE, as coisas mudam muito em Portugal e
Irlanda. Mais do que o ressurgimento da crise que não arrefece
na Europa, coloca em dúvida o fundo de estabilização
europeu, ou fundo temporário de socorro (criado após a crise
grega), se este fundo funciona mesmo. Ocorre que tanto a Irlanda como
Portugal tem a capacidade de tomar empréstimos mesmo bastante debilitada,
o que faz que os juros se elevem. Mais importante, os países ficam
nas mãos da UE, do FMI e do Banco Central Europeu. É muita
e burocracia a vencer.
Mais uma vez,
nada de final feliz (de ano). O ano do Tigre (no horóscopo chinês)
termina mal para os irlandeses, cujo país era o tigre celta. Comentários
maldosos ironizam que o tigre irlandês era de papel. O ano do tigre
era previsto como de desacordos e desastres de todo tipo. O próximo
ano é o do Coelho, cuja característica é a calma.
Mas, na cultura ocidental, o coelho é conhecido como um animal
veloz. Então, será que 2011 vai ser calmo ou veloz? Uma
coisa é certa: rapidez (principalmente de crescimento econômico)
está fora de cogitação.
*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP
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