Opinião
- Edição 575 -
Jornal NippoBrasil
Esperando o Plano Dilma
Teruo Monobe*
Tão
logo saiu o resultado das eleições, que não foi surpresa,
os analistas começaram a especular sobre a possibilidade de um
Plano Dilma. Verdade que está um pouco cedo ainda para um plano
(ou pacote?) econômico, já que nem foi escolhido o ministro
da Fazenda. Mas, como dizia um famoso narrador esportivo de sucesso nas
décadas de 1960 e 1970, o tempo passa: faltam pouco
mais de 40 dias para a posse e ainda por cima estão aí as
festividades de Natal e Ano Novo. Urge resolver os problemas da economia
logo.
Como se diz
o ditado popular, onde há fumaça há fogo.
Se os analistas especulam sobre um possível plano é porque
na campanha não se discutiram os problemas brasileiros. A crise
mundial está brava e o Brasil não é exceção
à regra. Sempre se falou que as coisas estavam tranquilas por aqui,
falar diferente era torcer contra do Brasil. A verdade é
que existem muitos problemas provenientes dos excessos cometidos nos oito
anos passados, e muitos deles derivados da grave crise financeira mundial
que não vai ser fácil de resolver.
Embora não
confesse (e nunca vai confessar) que a situação está
difícil, o presidente Lula está deixando alguns problemas
que devem ser resolvidos logo. Não é por acaso que a presidente
eleita já esteja no olho do furacão, participando da reunião
do G-20, que já estava marcada há muito tempo para o mês
de novembro. O curioso é que o G do G-20 atualmente está
mais para G de Guerra, tal o clima reinante na reunião, depois
que os países começaram a se acusar uns aos outros. E, pior,
vem aí logo uma guerra comercial com todas as consequências
possíveis.
Algumas semanas
atrás o Banco Central norte-americano (FED) comunicou ao mundo
que iria emitir US$ 600 bilhões para recomprar os títulos
de longo prazo para que os juros, que (no curto prazo) estão próximos
de zero, caiam ainda mais. Semelhante decisão vai fazer com que
o dólar se desvalorize ainda mais, o que vai contra os interesses
de chineses e brasileiros, só para citar alguns países emergentes.
Na falta do novo ministro da Fazenda e também do novo presidente
do Banco Central, vai ficar para a presidente eleita uma decisão
difícil.
As questões
de discussão nesta reunião do G-20 afetam sobremaneira o
Brasil. Não fosse só isso, agora surge a discussão
da CPMF, uma contribuição maldita, que só prejudica
a economia e as empresas brasileiras. Todos sabem que os argumentos pró
são ridículos, difíceis de defender, que continuam
saindo todo o dia. O único pensamento aceitável é
que, com a maioria no Congresso, o Executivo pode aprovar qualquer coisa.
A CPMF tem um histórico horrível no Brasil, e parece que
a presidente quer mesmo de volta. Melhor nem pensar.
Outra grande
questão é se o País deve continuar com a política
de juros elevados, já que, entre outros, esta política castiga
a economia. Como temos insistido, a questão não é
tão simples de resolver, caso contrário, já teria
sido resolvida. Ocorre que é muito fácil para um analista
dizer que o País deve baixar os juros, mas na prática não
é tão simples assim. Da mesma forma, não é
fácil parar com a valorização do real, pois isso
depende dos investidores (e especuladores) estrangeiros que ficam procurando
mercados imperfeitos para poder auferir polpudos lucros.
Talvez um dos
maiores desafios da presidente é com o gasto público que
está subindo muito e rapidamente. Talvez esteja aqui a verdadeira
herança maldita, por mais que se negue. Os ministeriáveis
estão em cima do muro, não podem dizer verdades antes da
hora. Mesmo depois da posse, alguns ficariam constrangidos de dizer que
existe uma herança maldita. É como a expressão em
espanhol: eu não creio em bruxas, mas que elas existem, isso
sim. O presidente Lula está deixando o governo com um índice
de popularidade nunca antes gozado por nenhum governante, mas, como já
dissemos, está deixando muitos problemas também.
Como o leitor
pôde ver, existe muito campo para especulação. Novo
governo sempre pressupõe algo que mude o status quo. Não
é possível copiar por mais quatro anos a política
de FHC. Se o governo Lula seguiu a cartilha de FHC por dois mandatos,
não houve nenhuma herança maldita. Agora, se o novo governo
criar o Plano Dilma, então, entra em contradição,
significa que há uma herança maldita que precisa ser vencida.
Este é o primeiro grande desafio do governo da nova presidente:
é muito mais político do que econômico.
*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP
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