O Movimento
Político Nikkei, idealizado por Hatiro Shimomoto, ex-deputado
estadual, realizou o seu nono simpósio, neste dia 26 de
março, de forma virtual devido a pandemia.
Nesta
edição, o evento abordou sobre a história
da atual política japonesa, a necessidade de modernização
das ações das entidades nipo-brasileiras em relação
aos projetos e temas políticos e, apresentou as recentes
inovações da Jucesp, na gestão do ex-deputado
federal Walter Ihoshi. Os palestrantes desta edição
foram: o Cônsul-geral do Japão em São Paulo,
Ryosuke Kuwana; o presidente do Bunkyo de São Paulo, Renato
Ishikawa e, o atual presidente da Junta Comercial do Estado de
São Paulo (Jucesp) e ex-deputado federal, Walter Ihoshi.
Um
pouco sobre a política atual japonesa e a relação
Japão-Brasil
O cônsul-geral
do Japão em São Paulo, Ryosuke Kuwana, que foi muito
atuante nos países da América Latina, como Bolívia,
Chile e México, além dos E.U.A, e agora no Brasil,
explicou um pouco sobre a política moderna japonesa em
sua apresentação.
O Japão,
assim como o Reino Unido, a Alemanha e alguns outros países,
possui o sistema de governo parlamentar. O parlamento (Dieta)
possui duas câmaras: a Câmara dos Representantes,
com mandato de 4 anos, similar a nossa Câmara dos Deputados;
e a Câmara dos Conselheiros, com mandato de 6 anos, equivalente
ao nosso Senado. Os membros do parlamento são escolhidos
diretamente pelo povo, porém o primeiro-ministro é
eleito pelo parlamento, e a maioria dos ministros são membros
do parlamento.
O atual
primeiro-ministro Yoshihide Suga, foi eleito oito vezes como membro
da Câmara dos representantes e antes foi vereador da cidade
de Yokohama. O vice-ministro e ministro das finanças Taro
Aso, foi eleito 13 vezes.
Após
a Segunda Guerra Mundial, e com o início da Guerra Fria,
o governo japonês iniciou um esquema político chamado
de sistema do ano de 1955, que continuou por muito tempo. O Partido
Liberal Democrata ficou no poder e os partidos considerados de
esquerda, como o socialista, ficaram na oposição.
Os temas principais da época eram muito relacionados à
segurança nacional, como a criação de forças
de autodefesa ou o rearmamento. O esquema durou cerca de 40 anos,
e o período, além da Guerra Fria, coincidiu com
a Guerra da Coreia, da década de 1950, e a Guerra do Vietnã,
que se estendeu até a década de 1970. Esse era o
contexto geopolítico na Ásia da época. Com
o fim dos conflitos, já na década de 1990, o sistema
de 55 também sofreu mudanças.
Em
1993, o Partido Liberal Democrata (PLD), perdeu a maioria na Câmara
dos Representantes, e nasceu um novo governo com a coalisão
de oito partidos da oposição, contudo permaneceu
por pouco tempo. O Partido Liberal Democrata fez coalisão
com o Partido Socialista e voltou ao poder entre 1996 e 2009.
Em 2009, o Partido Liberal Democrata perdeu para o Partido Democrático
do Japão, um evento que foi muito marcante, mas que durou
somente três anos, ocorrendo em sua gestão, o grande
terremoto do leste de 2011. Em 2012, já com Shinzo Abe,
o Partido Liberal Democrata voltou ao poder. Hoje, o PLD é
considerado o partido que permanece por mais tempo na política
moderna do Japão. Recentemente Shinzo Abe renunciou por
motivo de saúde, e segue Yoshihide Suga, seu companheiro
de partido.
"No
Japão pós-guerra, as transições entre
os governos ocorreram de forma pacífica, embora não
com muita frequência, e a política doméstica
está muito relacionada à política internacional",
explicou o Cônsul-Geral Kuwana.
Em
janeiro deste ano, o ministro de Relações Exteriores
do Japão, Motegi, esteve no Brasil e se reuniu com o presidente
Bolsonaro e o ministro Ernesto Araújo, para compartilhar,
não apenas os laços de amizade entre os dois países
e com a comunidade nipo-brasileira, mas também, os valores
básicos da democracia, liberdade e do Estado de direito,
assim como, concordaram em trabalhar juntos como parceiros globais
estratégicos. "Em um mundo globalizado, tudo está
relacionado, nenhum país pode vive sozinho" disse
o Cônsul-Geral, e finalizou, "junto com a comunidade
nikkei, nós nos empenharemos para um maior desenvolvimento
da comunidade, para o maior fortalecimento das relações
entre o Japão e o Brasil e para a paz e prosperidade da
comunidade internacional".
Necessidade
de modernização das entidades
em relação a projetos e questões políticas
Para
o palestrante Renato Ishikawa, atual presidente da Sociedade brasileira
de Cultura japonesa (Bunkyo), que já participou de simpósios
anteriores, apresentou sugestões para modernizar as atuações
das entidades e consequentemente melhorar a representatividade
dos nipo-brasileiros na política.
"A
comunidade, que goza dos melhores conceitos junto a nossa sociedade,
por que tem poucos representantes junto ao poder político?
Historicamente, temos a tradição de trabalho coletivo,
de união, que foi uma das condições essenciais
para adaptar-nos às condições da nova terra,
e esse legado dos nossos pioneiros até hoje persiste na
maioria das entidades nipo-brasileiras......Por que esse coletivismo
não se traduz em votos para os candidatos descendentes
de japoneses?", questionou Ishikawa, de início.
Para
Ishikawa, a comunidade teve três grandes nomes na Câmara
dos Deputados com longos períodos de atividade. O primeiro
deputado federal nipo-brasileiro eleito, Yukishigue Tamura (SP);
Diogo Nomura (SP); e Antônio Ueno (PR). A nível estadual,
o próprio ex-deputado estadual Hatiro Shimomoto, que permaneceu
por seis legislaturas, de 1971 a 1999, e continua ativamente liderando
iniciativas como este simpósio.
Por
questões históricas, as entidades nipo-brasileiras
sempre mantiveram posturas neutras em assuntos político-partidários.
No passado, devido a participação do Japão
no Eixo, na Segunda Guerra Mundial, e em seguida, com a chegada
da ditadura, o estatuto das associações proibiu
manifestações de natureza política em suas
dependências.
Contudo,
para Ishikawa, os tempos e as gerações mudaram,
e hoje, ele apoia as discussões sobre política nas
entidades, porém de forma organizada e bem conduzida. "Está
na hora de deixar a antiga ideia de que não podemos manifestar
nosso apoio político. Precisamos sim, manifestar nosso
apoio e tentar eleger bons políticos nikkeis", disse,
frisando ser uma opinião pessoal. Concordando com Shimomoto,
o idealizador do Movimento Político Nikkei, Ishikawa acredita
que as entidades devam orientar, criar oportunidades e/ou incentivar
os associados a participarem de assuntos políticos em todos
os níveis, isto porque as leis são feitas por políticos,
e a sociedade brasileira precisa de bons políticos para
melhorar como país. A política faz parte do cotidiano.
Ishikawa
sugeriu modernizar as entidades, promovendo e difundindo mais
os valores da comunidade, e realizar ações em projetos
variados, não apenas culturais ou da comunidade, com ampla
participação de nipo-brasileiros. Alguns exemplos
foram citados, como organizar-se para a limpeza de ruas ou de
bairros, visando o bem estar na região; promover projetos
voltados a comunidades carentes, como o fornecimento de alimentos
durante a pandemia; promover a preservação do meio
ambiente; ou até promover algum outro projeto de abrangência
a nível nacional.
"O
projeto Geração, do bunkyo, levantou oito valores
da comunidade como legado de nossos ancestrais que persistem em
nossa comunidade: perseverança, integridade, gratidão,
coletividade, respeito, responsabilidade, gentileza e educação,
e acredito que estimular e difundir sua prática junto à
sociedade por meio de diferentes projetos, seria de grande valia
para os dias atuais. A iniciativa de desenvolvimento desses projetos,
carregam consigo a possibilidade de valorização
dos políticos nikkeis, como também traz à
tona o sentimento de pertencimento dos descendentes de várias
gerações, sentimentos esses profundamente comprometidos
com o destino desta nação" explicou Ishikawa.
Primeiro
presidente nikkei a assumir a Junta Comercial de São Paulo
Wlater
Ihoshi, ex-deputado federal e atual presidente da Junta Comercial
de São Paulo (Jucesp), que completou 130 anos de existência,
promove intenso trabalho de desburocratizar, simplificar e facilitar
a vida dos empreendedores de São Paulo. O objetivo da gestão
é de acompanhar a modernidade. Dentre a 27 juntas do País,
os registros da Junta Comercial de São Paulo representam
quase 41% do total. Em sua apresentação, Ihoshi
explicou um pouco sobre esses trabalhos.
Agora,
a abertura, baixa, ou mudança societária de uma
empresa podem ser realizados por via digital. Este ano foi criado
o sistema de balcão único, simplificando cinco etapas
de abertura de empresa em apenas uma, com a criação
de redes de integração de informações
entre os órgãos governamentais. Diversos outros
procedimentos como entrega de livros mercantis, traduções,
também passaram a ser via online, agilizando processos
e economizando tempo.
Abrir
mais empresas significa geração de renda ao país.
Essas mudanças permitirão ao Brasil subir de ranking
no Banco Mundial em torno de 40 a 60 posições, tornando
o país mais atrativo para os estrangeiros e brasileiros.
"Hoje é possível abrir uma empresa pequena
em apenas 30 minutos. Tudo isso vai ajudar os empresários
brasileiros a captar mais recursos para o nosso país",
explicou Ihoshi.
Veja
vídeo de seu trabalho
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