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Arquivo NippoBrasil - Edição 094 - 8 a 14 de março de 2001
 
Verão: Ode à Hototoguissu

“Os dois apaixonados e o hototoguissu”. Gravura de Buncho.
Início da década de 1770. Uma rara estampa onde aparece o hototoguissu.

(Por Claudio Seto)

Hototoguissu é uma das mais interessantes personagens da história do Japão. Ela faz parte da cultura japonesa há séculos e sempre foi cantada em prosas e versos. Hototoguissu é uma ave japonesa que se alimenta de insetos. Seu canto, além de raro, é breve e agudo por isso muitas vezes é descrito como choro ou grito. Essas características fizeram dessa ave e seu canto, símbolo de tempo, no sentido de momento decisivo ou hora esperada. É comum na literatura japonesa frases como: “ouço o canto do hototoguisu, chegou a minha hora de partir” e o herói parte para uma nova aventura. Ou mesmo em contos épicos, quando um batalhão de samurais sitiavam o castelo inimigo, ficavam a espera do canto do hototoguissu, para o ataque final. Há casos de casais suicidas que diante um amor impossível, por questões sócio-familiares, ficaram a espera do hototoguissu para cometerem o shinju amoroso (suicídio por paixão). Frustrados pela ausência do canto, fugiram para região distante e iniciaram nova vida.

A palavra hototoguissu é formada por dois ideogramas que separados significam tempo e ave, por isso tem sido traduzido quase sempre como “cuco”. Porém no Brasil o cuco não tem qualquer valor simbólico, associação sentimental ou mesmo estado de espírito que possa fazer ligação a sua figura. Nós só conhecemos como passarinho de relógio antigo. Portanto na tradução dos haikais, optamos por manter o nome no original por ser uma palavra de cinco sílabas e até mesmo para preservar a conotação onomatopaica do nome japonês. Além disso, em japonês, basta dizer hototoguissu, que subentendeu o canto dessa ave.

O romantismo que sugere “a espera do canto do hototoguissu” foi muito explorado como tema de verão na poesia japonesa, tanto no estilo tanka como no haikai. Kobayashi Issa o maior haicaista japonês depois de Basho, que viveu entre os anos 1763 e 1827, foi quem melhor apreendeu o hototoguissu em seus poemas mínimos.

Issa fala do tempo, da passagem da primavera para o verão, marcado pela canto dessa ave:

Azaléias vestem
Chapéus de palhas
Hototoguissu.

Ou da chuva de verão:

Após tanta chuva
Ostensivo como sempre
Hototoguissu

A longa espera pelo canto do hototoguissu em algum momento deixou Issa desacorçoado:

Hototoguissu
Para o dia da minha morte
Guardas o seu choro

E a espera do canto do pequeno pássaro passou a integrar a vida do poeta. Issa expressava até nos momentos de pequenos prazeres:

Rôossoku de
Tabako sui keri
Hototoguissu

com a chama da vela
acendo meu cachimbo
hototoguissu

Se hototoguissu contribuiu com a inspiração de Issa para torná-lo um dos maiores poetas do Japão; Kobayashi Issa o reverenciou em seus versos para agradecer a cumplicidade:

Apesar de tudo
Grita rasgando o céu em brilho
Hototoguissu

Antes de Issa muitos poetas cantaram o hototoguissu. Entre eles o grande Bashô:

Hototoguissu
Com um só grito
cruzou as águas

ou ainda:

No o yoko no
Uma hikimuke yo
Hototoguissu

Ao longo do campo
conduza meu cavalo
Hototoguissu

Aqui Bashô invocou o canto da ave para orientar o cavalo em direção da mesma. Esse haikai integra a famosa obra Oku no Hoshomichi de sua autoria. O cavalo foi emprestado por seu amigo e senhor de Kurobane, e o criado que o conduzia, pediu a Bashô que lhe ensinasse um poema. Admirado em ver uma pessoa tão simples com o gosto tão refinado, o mestre invocou o canto de hototoguissu.

São incontáveis os poetas que invocaram o canto dessa ave. Dos tantos haicaistas que navegaram neste tema, entre os mais conhecidos estão:

Hototoguissu
Desde pequeno grita alvorada
Ao rumo do mar
(Shira-o - 1739/1791)

Hototoguissu
A amanhecer no biombo
Comprado novo
(Kikaku – 1661/1715. Discípulo de Bashô e amigo de Ransetsu)

Inesperadamente
Em dia de chuva
Hototoguissu
(Buson – 1715/1783)

Ao vir da marola
Um pequeno hototoguissu
Na beira da água
(Gyodai – 1732/1792)

Um dos mais famosos haikai sobre o tema hototoguissu é de uma mulher. A jovem Chiyo (Chiyo-jo), natural de Kaga no Kuni (hoje província de Ishikawa), tornou-se conhecida como Kaga no Chiyo em seu tempo de aprendiz. Depois, tornou-se monja e poeta andarilha e passou a ser chamada de Chiyo-ni. Portanto os haicais dessa autora tanto podem estar assinados Chiyo-jo ou Chiyo-ni, servindo para identificar fases de sua vida.

Consta em antigos livros escolares do Japão, que Kaga no Chiyo, quando freqüentava aulas de haikai, a professora deram como dever de casa, fazer poesia com o tema hototoguissu. Chiyo escreveu alguns haicais mas nenhuma agradou sua mestre. Voltando para casa, passou a noite tentando escrever outras melhores, porém sem sucesso. Havia passado a noite inteira murmurando hototoguissu, hototoguissu com o pincel na mão até que...

Hototoguissu
Hototoguissu to te
Akenikuri

Murmurando
Hototoguissu, hototoguissu
Amanheceu!

A repetição da palavra Hotoguissu lembra aqui, um mantra budista. É como se estivesse rezando Hotoguissu, Hototoguissu e a poesia aparecendo como uma iluminação.
“A espera do canto de hototoguissu” serviu também para descrever a personalidade e o modus operandi de três famosos shogun do Japão feudal, Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyassu, através do grau de paciência de cada um. Senhores da guerra e contemporâneos, eles tinham em comum a ambição de dominar o Japão pela força militar.

Continua...

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