Dá para perguntar: o que é o que é que o
fogo não queima, que a água e o vento não levam?
É a nossa alma, o que caracteriza a nossa vida, o nosso verdadeiro
ser. Foi o que eu disse no culto póstumo de sétimo
dia, celebrado às vítimas do terremoto da região
nordeste do Japão, realizado no salão da Província
Miyagui, no bairro da Liberdade no último dia 17 de março.
O ambiente era de extrema tristeza, muitos jovens estavam com a
camiseta Gambare Nippon (Avante Japão!) e alguns
oradores, devido à profunda dor, não conseguiram fazer
o uso da palavra. Também dizer o quê? Tem horas que
é melhor chorar mesmo. Além de orar, era a minha mais
forte vontade. Mas havia sido solicitado para transmitir o ensinamento
para aquela ocasião.
No Sutra Lótus, consta: Não existe tranqüilidade
nos três Mundos (Mundos dos desejos, do material e do imaterial).
É como se estivesse vivendo dentro de uma casa em chamas,
foi o ensinamento do dia. O que agora é um terremoto, amanhã,
pode ser um maremoto, uma doença ou qualquer outro infortúnio.
É só questão de tempo e de pequenas diferenças
circunstanciais. Então, como viver nessa casa sem sair queimado?
A resposta é se fortalecer espiritualmente e não viver
só em função daquilo que a própria morte
possa lhe tirar instantaneamente. Não importa quando nem
como partimos. É claro que gostaríamos que a nossa
partida fosse depois de uma longa vida e cercado pela família.
Mas, e se isso não for suficiente para nos garantir a eternidade?
Portanto, a questão é o que fazemos enquanto em vida.
Tenha sido ela curta, média ou longa e, acima de tudo, termos
vivido pela fé, com gratidão e devoção
no coração. É o que faz valer a pena viver
ou ter vivido. É o que Buda nos ensina ser uma vida verdadeiramente
digna, que por si só se eterniza. É essa a vida eterna
a qual devemos servir de todas as formas enquanto pudermos. Caso
contrário, simplesmente estaremos vivendo de modo a esperar
que um dia sejamos varridos e desintegrados pela água, fogo
ou por algo tão transitório quanto um modo de viver
superficial.
Para muitos, já passou da hora de refletir sobre a verdadeira
razão de existir e viver. É dito Antes tarde
do que nunca, mas agora é sempre melhor. Que possamos
viver e passar por este período de luto com muita fé,
serenidade e consciência de que, pelo Darma Sagrado de Buda,
somos responsáveis e que podemos transformar uma realidade
permanentemente.
|