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             Quem 
              é 
              Natural de Hokkaido, Shigehiro Ikegami é professor do Departamento 
              de Política Cultural da Universidade de Arte e Cultura de 
              Shizuoka. Formado em Antropologia Cultural, pesquisou a tribo Batak 
              (do norte da ilha indonésia de Sumatra) na Universidade de 
              Hokkaido. 
            Em 
              1996, mudou-se para Hamamatsu (Shizuoka) e iniciou estudos sobre 
              o convívio multicultural na região. Atualmente, 90% 
              de seus trabalhos giram em torno desse tema. 
            A 
              partir de 2002, Ikegami começou a fazer também estudos 
              comparativos da situação dos estrangeiros em outras 
              regiões e países. Nesse sentido, ele diz que não 
              é um especialista em estrangeiros. Apenas faço 
              análise dos dados do ponto de vista de um morador, 
              diz. 
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      (Reportagem 
        e Foto: Helena Saito/ipcdigital.com) 
       O pesquisador 
        Shigehiro Ikegami, da Universidade de Arte e Cultura de Shizuoka, defende 
        a criação de cursos de japonês com participação 
        do governo e de empresas para atender estrangeiros. A proposta está 
        embasada em mais de uma década de estudo sobre a realidade desses 
        trabalhadores, especialmente brasileiros. 
      Segundo uma 
        pesquisa coordenada pelo professor, os brasileiros reconhecem a importância 
        de dominar o idioma para continuar no mercado de trabalho, mas a maioria 
        reclama da falta de tempo. Ikegami afirma que essa falta de habilidade 
        com a língua tem atravancado a mobilidade social dos estrangeiros. 
         
      O trabalho 
        de campo foi realizado em 11 cidades de Shizuoka com população 
        brasileira acima de mil pessoas, nos meses de setembro e outubro de 2007, 
        e levantou dados sobre oito tópicos, como questões relacionadas 
        à formação familiar, seguro-saúde, trabalho 
        e educação.  
      Na opinião 
        de Ikegami, a província de Shizuoka não tem intenção 
        de recusar a entrada de estrangeiros. Porém, para a relação 
        ser harmoniosa, ele destaca a necessidade de os estrangeiros também 
        buscarem assimilar as regras da sociedade local. 
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       International 
        Press: Como a pesquisa foi desenvolvida em Shizuoka?  
        Shigehiro Ikegami: Enviamos correspondências e distribuímos 
        questionários em escolas públicas. Foram abordadas 5.438 
        pessoas, mas desse total 1.922 (35,3%) responderam. Observamos que entre 
        pessoas com filhos em escolas japonesas, o retorno foi mais positivo: 
        56,3% participaram. São esses que demonstram maior intenção 
        de permanecer no país por um longo tempo. 
      IP: Um dos 
        dados surpreendentes é que mais de 10% dos entrevistados possuem 
        casa própria. Como se chegou a esse resultado? 
        Shigehiro: Por meio do levantamento por cidade, constatamos que, em 
        algumas regiões, mais de 20% dos brasileiros têm casa própria. 
        De acordo com esse estudo, 14,1% dos entrevistados que possuem imóvel 
        têm filhos em escolas japonesas. Mesmo entre os que receberam os 
        questionários por correspondência, o percentual chegou a 
        quase 10%. A procura por casa própria é grande na região 
        e os anúncios de construtoras são uma prova disso. 
      IP: O que 
        leva estrangeiros a adquirir imóveis no Japão? 
        Shigehiro: O Japão registra o envelhecimento de sua população, 
        a baixa taxa de natalidade e a redução de pessoas na faixa 
        etária de 30 a 40 anos, enquanto, na comunidade brasileira, é 
        alto o percentual de gente na faixa de 20 a 30 anos e com tendência 
        a permanecer mais tempo no país. Esse é um mercado muito 
        visado por comerciantes e imobiliárias. Um outro aspecto relevante 
        é que os estrangeiros estão muito tempo no país. 
        Os que moram de 15 a 17 anos no Japão representam 24% do total 
        das pessoas que responderam ao questionário.  
      IP: Que 
        outro fator tem contribuído para o aumento do tempo de permanência 
        no Japão? 
        Shigehiro: Pesa o fato de os filhos não se adaptarem à 
        vida no Brasil e os pais não suportarem a idéia de rebaixar 
        seu nível de vida se retornarem. A pesquisa constatou que o total 
        de brasileiros com visto permanente (eijuusha) foi de 49,6%, bem mais 
        do que a média do país. Também observamos que, mesmo 
        quem ainda não conseguiu esse tipo de visto, mais de 75% têm 
        intenção de obtê-lo. 
      IP: Com 
        base nos dados coletados, quais as medidas ao estrangeiro precisam ser 
        revisadas? 
        Shigehiro: Há dois pontos: um é o conhecimento de japonês. 
        Até então, eu próprio vinha enfatizando em palestras 
        que o conhecimento do japonês não era tão importante 
        assim para quem mora em Hamamatsu, mas o relatório mostrou o contrário. 
        Embora estejam em um ambiente que permite aos brasileiros sobreviver apenas 
        com o português, os entrevistados disseram que sentem a necessidade 
        de falar o japonês no trabalho, no cotidiano. O governo central 
        precisa criar um programa que possa atender a essa necessidade e isso 
        precisa ser feito com urgência.  
      IP: E qual 
        é o outro ponto? 
        Shigehiro: A forma de trabalho. Antes de vir ao Japão, os brasileiros 
        exerciam funções diversas: autônomos, comerciantes, 
        administradores. Mas, aqui, foram quase todos trabalhar no setor manufatureiro 
        (produção) por intermédio de empreiteiras (72,5%). 
        De certa forma, essa situação continua ainda hoje. Precisamos 
        buscar um meio de elevar o nível de trabalho, aproveitando a habilidade 
        dos estrangeiros. Para isso, as pessoas precisam buscar alguma qualificação 
        (shikaku). Para isso, é importante o governo central criar um programa 
        e destinar uma verba para que os estrangeiros possam ter condições 
        de estudar japonês e obter a qualificação. Hoje, quem 
        faz esse papel são as prefeituras. 
      IP: Mas 
        já existem cursos de japonês em diversas partes do país... 
        Shigehiro: Sim, porém eles precisam ser ministrados de acordo 
        com a necessidade dos estrangeiros. Em Hamamatsu, por exemplo, há 
        cursos dados por brasileiros que dominam o idioma. A diferença 
        com as aulas dadas por professoras voluntárias é que elas 
        não conhecem a linguagem das fábricas.  
      IP: Como 
        criar oportunidades para os estrangeiros estudarem? 
        Shigehiro: Uma proposta do relatório é criar uma fundação 
        e dar subsídio para quem estuda o japonês. Por exemplo, um 
        prêmio de ¥ 10 mil. Como incentivo, criar um sistema de promoção 
        nas empresas para estrangeiros que querem aprender o idioma. Não 
        adianta criar cursos se não houver estímulo dando vantagens 
        ou benefícios. 
      IP: O que 
        as empresas pensam sobre os estrangeiros? 
        Shigehiro: No setor manufatureiro, além da redução 
        de horas extras, há uma tendência de a mão-de-obra 
        nikkei ser substituída por outros estrangeiros que aceitam trabalhar 
        quando as empresas querem. Segundo a Keidanren (Federação 
        das Organizações Econômicas do Japão), se a 
        situação continuar como está hoje, os brasileiros 
        correm o risco de ficar sem emprego. Por essa razão, para sobreviver 
        no Japão, a ferramenta importante é aprender o japonês 
        e buscar uma habilidade técnica. 
      IP: O que 
        o senhor acha do projeto de transformar o Japão num país 
        de imigrantes (como defende o PLD)? 
        Shigehiro: Essa proposta do governo central está fora da realidade. 
        Está apenas fundamentada em números, enquanto as sugestões 
        dos governos regionais e de entidades ligadas a estrangeiros trazem embasamento 
        em fatos. Por isso, acredito que os pesquisadores que atuam localmente 
        desempenham o importante papel de passar informações concretas. 
         
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