Inspirações da Lua
(Por
Venerável Mestre Hsing Yun*)
Certa
vez, um ladrão dirigiu-se à casa de um homem
rico para roubar, levando seu filho para que aprendesse
os artifícios da prática do furto. Antes
de entrar sorrateiramente, o ladrão disse ao filho:
Fique aí vigiando e me avise caso alguém
nos veja. Quando estava prestes a colocar suas habilidades
em prática, seu filho gritou: Papai! Tem
alguém vendo a gente!
Ao
ouvir isso, o ladrão fugiu com seu filho, veloz
como um raio, e, depois de correr por uma longa distância,
os dois pararam para recuperar o fôlego. Quem
foi que viu a gente? perguntou a seu filho.
O menino respondeu: Foi a Lua, papai!
Essa
fábula nos ensina que, por mais que pensemos que
ninguém tem ciência dos maus atos que praticamos,
os céus e a terra sabem de tudo. Você acha
que os maus atos podem escapar da lei de causa e efeito
e do conhecimento dos Budas e bodhisattvas? Como diz o
ditado chinês: um sábio não
teme nem o testemunho de dez pares de olhos nem o castigo
de dez mãos.
A
Lua sempre foi objeto de admiração dos amorosos
e dos benevolentes, dos amantes e dos poetas. O brilho
da Lua alta no céu inspirou muitos literatos a
compor e a cantar seus sentimentos. Com que freqüência
podemos apreciar a luminosa Lua e as estrelas do céu?
Esta simples pergunta mostra que, em meio ao lamento sobre
à brevidade da vida, há pesar e angústia
por tantos desejos não realizados. Ao longo da
história, muitos tiveram de enfrentar injustiças,
sem ter a quem se reportar, e sofrimento, sem ter com
quem falar. Só a Lua os podia ouvir. Que tristeza!
Simbologia
A Lua é símbolo de luz e completude. Os
amantes, banhados pela incandescência de sua afeição
um pelo outro, fazem juras de amor eterno, tendo-a como
testemunha. Mas, sendo a vida repleta de impermanência,
nem mesmo a Lua é capaz de controlar os acontecimentos.
Como diz o poema: A Lua brilha por sobre a vastidão
da terra. Quantos lares estão felizes? Quantos
estão tristes? A Lua cresce e míngua,
brilha e desvanece, assim como a vida é repleta
de dor e alegria, de encontros e desencontros. Com o crescer
e o minguar da Lua, observamos o fluxo das marés
dos acontecimentos da vida e nossa própria impotência.
Há
um poema que diz: Os antigos não viam a Lua
de hoje, mas a Lua de hoje já brilhava por sobre
os antigos. A Lua permanece a mesma através
dos tempos. Assim como brilhava para os antigos, também
brilha para nós, imparcial. Enquanto a Lua dos
antigos existe até hoje, os antigos se foram há
tempos! Quanto aos habitantes do futuro, a Lua que vemos
agora ainda estará brilhando. Mas como pode a Lua
do futuro brilhar sobre nós? Por meio da compreensão
da passagem do tempo e da impermanência das pessoas
e dos fatos. Não é de admirar que os poetas
tenham a Lua como confidente!
Há
outro poema que, espirituosamente, diz: A Lua é
especialmente brilhante no meio-outono, mas quantos meios-outonos
poderemos celebrar? A Lua míngua, mas volta
a crescer. Ela desvanece, mas volta a brilhar. E quanto
à vida? Quando ela se extinguir, quando retornará?
Os antigos costumavam dizer: A Lua cresce e míngua,
mas está sempre ali. Se ela desvanecesse, de fato,
por que voltaria a brilhar? Para nós a Lua
cresce e míngua, desvanece e brilha. Mas a verdade
é que esse é o resultado da rotação
do planeta ou de nuvens que obstruem nossa visão.
A Lua, em si, não cresce nem míngua, não
desvanece nem brilha. É a mesma Lua, o tempo todo
resplandecente.
Cresça
ou míngüe, desvaneça ou brilhe, a presença
constante da Lua está além de qualquer suspeita.
Assim, como o Sol paira alto no céu e a resplandecente
Lua brilha em nossos corações, com o Sol
e a Lua dentro de nós, não há porque
temer a falta de luz!
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