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SEMPRE ZEN
Matéria publicada no Zashi edição 7 - Março de 2008

Inspirações da Lua

(Por Venerável Mestre Hsing Yun*)

Certa vez, um ladrão dirigiu-se à casa de um homem rico para roubar, levando seu filho para que aprendesse os artifícios da prática do furto. Antes de entrar sorrateiramente, o ladrão disse ao filho: “Fique aí vigiando e me avise caso alguém nos veja.” Quando estava prestes a colocar suas habilidades em prática, seu filho gritou: “Papai! Tem alguém vendo a gente!”

Ao ouvir isso, o ladrão fugiu com seu filho, veloz como um raio, e, depois de correr por uma longa distância, os dois pararam para recuperar o fôlego. “Quem foi que viu a gente?” – perguntou a seu filho. O menino respondeu: “Foi a Lua, papai!”

Essa fábula nos ensina que, por mais que pensemos que ninguém tem ciência dos maus atos que praticamos, os céus e a terra sabem de tudo. Você acha que os maus atos podem escapar da lei de causa e efeito e do conhecimento dos Budas e bodhisattvas? Como diz o ditado chinês: “um sábio não teme nem o testemunho de dez pares de olhos nem o castigo de dez mãos”.

A Lua sempre foi objeto de admiração dos amorosos e dos benevolentes, dos amantes e dos poetas. O brilho da Lua alta no céu inspirou muitos literatos a compor e a cantar seus sentimentos. “Com que freqüência podemos apreciar a luminosa Lua e as estrelas do céu?” Esta simples pergunta mostra que, em meio ao lamento sobre à brevidade da vida, há pesar e angústia por tantos desejos não realizados. Ao longo da história, muitos tiveram de enfrentar injustiças, sem ter a quem se reportar, e sofrimento, sem ter com quem falar. Só a Lua os podia ouvir. Que tristeza!

Simbologia

A Lua é símbolo de luz e completude. Os amantes, banhados pela incandescência de sua afeição um pelo outro, fazem juras de amor eterno, tendo-a como testemunha. Mas, sendo a vida repleta de impermanência, nem mesmo a Lua é capaz de controlar os acontecimentos. Como diz o poema: “A Lua brilha por sobre a vastidão da terra. Quantos lares estão felizes? Quantos estão tristes?” A Lua cresce e míngua, brilha e desvanece, assim como a vida é repleta de dor e alegria, de encontros e desencontros. Com o crescer e o minguar da Lua, observamos o fluxo das marés dos acontecimentos da vida e nossa própria impotência.

Há um poema que diz: “Os antigos não viam a Lua de hoje, mas a Lua de hoje já brilhava por sobre os antigos.” A Lua permanece a mesma através dos tempos. Assim como brilhava para os antigos, também brilha para nós, imparcial. Enquanto a Lua dos antigos existe até hoje, os antigos se foram há tempos! Quanto aos habitantes do futuro, a Lua que vemos agora ainda estará brilhando. Mas como pode a Lua do futuro brilhar sobre nós? Por meio da compreensão da passagem do tempo e da impermanência das pessoas e dos fatos. Não é de admirar que os poetas tenham a Lua como confidente!

Há outro poema que, espirituosamente, diz: “A Lua é especialmente brilhante no meio-outono, mas quantos meios-outonos poderemos celebrar?” A Lua míngua, mas volta a crescer. Ela desvanece, mas volta a brilhar. E quanto à vida? Quando ela se extinguir, quando retornará? Os antigos costumavam dizer: “A Lua cresce e míngua, mas está sempre ali. Se ela desvanecesse, de fato, por que voltaria a brilhar?” Para nós a Lua cresce e míngua, desvanece e brilha. Mas a verdade é que esse é o resultado da rotação do planeta ou de nuvens que obstruem nossa visão. A Lua, em si, não cresce nem míngua, não desvanece nem brilha. É a mesma Lua, o tempo todo resplandecente.

Cresça ou míngüe, desvaneça ou brilhe, a presença constante da Lua está além de qualquer suspeita. Assim, “como o Sol paira alto no céu e a resplandecente Lua brilha em nossos corações, com o Sol e a Lua dentro de nós, não há porque temer a falta de luz!”

 
Pensamentos

“Ao visitar um lugar novo, procure aprender sobre ele.
Fazendo perguntas, você aprenderá.”

“A mente que se ilude é fisgada pelo anzol.
A mente que se purifica é iluminada pela lua cheia.”


* É o 48º patriarca do budismo chinês da escola
Ch’an. Fundador do Monastério Fo Guang Shan,
em Taiwan, e do Templo Zu Lai, em Cotia (SP),
cujas raízes são do Budismo Mahayana, que enfatiza a aproximação
da natureza búdica ao alcance de todos.

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