A grande poetisa da Era Meiji
Artista polêmica, Akiko Yosano viveu sempre fiel
a si mesma, deixando muitas poesias lidas até os
dias de hoje
(Ilustração:
Cláudio Seto)
Uma
das mulheres mais brilhantes do mundo literário
japonês marcou o seu nome na história por
uma personalidade de inteligência aguçada
e de sensibilidade delicada e feminina. Nascida em Sakai
(Osaka), em 1878 (ano 11 da Era Meiji), Akiko Yosano
cujo verdadeiro nome era Shô veio de uma
família abastada, dona de uma tradicional confeitaria.
Sempre
muito ligada à leitura, Akiko, desde pequena, lia
todos os livros do acervo de seu pai, que também
apreciava a boa leitura. Assim, na idade adulta, ela começou
a participar de um grupo de aficionados por literatura
em sua cidade, o Naniwa Seinen Bungaku-ka (Associação
de Literatos Jovens de Naniwa). Amiga de Tetsunan Kono,
um dos jovens do grupo, por intermédio dele, Akiko
conheceu aquele que seria o seu grande amor, Tekkan Yosano.
Na verdade, Tekkan era um nome artístico; o verdadeiro
era Hiroshi. Yosano já era um poeta famoso e editava
a revista dedicada à poesia de nome Myojo, que
circulou entre 1900 e 1908, fazendo grande sucesso.
Akiko
logo se apaixonou por Tekkan Yosano, que já era
casado. Em 1901, ela abandonou sua família para
morar com Tekkan em Tóquio. Em outubro do mesmo
ano, ela se casou com Tekkan, que, além de um brilhante
poeta, era também um homem de muitos amores. Akiko,
mulher de inteligência aguçada e de grande
sensibilidade feminina, dedicou sua paixão imensurável
ao marido Tekkan durante toda sua vida.
Produção
literária
O primeiro livro de Akiko foi a coletânea de poemas
chamada Midare-gami (em português, traduzido como
Descabelados) em agosto de 1901. Trata-se de uma reunião
de poemas no estilo tanka, com 5, 7 ,5, 7, 7 sílabas,
totalizando 31, diferenciando-se, porém, dos tanka
tradicionais, nos quais se enaltecia a beleza da natureza,
a vida serena, ela expressa a paixão tórrida,
o sentimento de forma aberta e direta, empregando palavras
que, até então, não eram citadas,
tais como chibusa (seios), hada (pele), kuchibiru (lábios).
Sua poesia provocou o furor e a indignação
dos conservadores, entretanto, seu talento foi reconhecido
pelo círculo literário e por um grande número
de leitores.
Autora
engajada
Quando começou a Guerra Russo-Japonesa, o irmão
mais novo de Akiko, de nome Chusaburo, a quem a poetisa
dedicava grande carinho, foi recrutado para guerra. Ela,
então, publicou o seguinte poema na revista Myojo:
Ah, choro por você, meu irmão/Não
morras/Você, que nasceu como filho caçula/Teve
um amor maior dos pais/Criaram até os seus 24 anos/Seus
pais lhe ensinaram a pegar em armas?/E lhe disseram para
matar alguém e se matar?. O poema foi rotulado
como conteúdo perigoso, em uma época
na qual prevalecia o patriotismo que ensinava civis a
morrerem para salvar a pátria.
Akiko
defendeu a liberdade e a igualdade da mulher perante a
sociedade, escreveu críticas literárias,
traduziu para língua moderna o clássico
História de Genji (do japonês, Genji Monogatari)
e, para sustentar a família, deu aulas e muitas
palestras, nas quais sempre comparecia acompanhada do
seu marido, Tekkan. Poetisa polêmica, viveu sempre
fiel a si mesma, deixando muitos trabalhos lidos até
os dias de hoje. Faleceu em 29 de maio de 1942 (ano 17
da Era Showa), sete anos após a morte de Tekkan,
com quem teve 11 filhos.
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