Izumo-no-Okuni
Mulher
que revolucionou a arte cênica japonesa ao criar
as bases para o Kabuki teve uma vida envolta em mistérios
Sabe-se
que Izumo-no-Okuni viveu bastante para os padrões
da época, mas não se casou
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Quem
aprecia as artes cênicas japonesas sabe que as três
maiores representações teatrais da terra
do Sol Nascente são os teatros Nô, Kabuki
e Bunraku. Entretanto, poucas pessoas sabem que o teatro
Kabuki - que tem como característica fundamental
a aceitação de atores, excluindo as atrizes
de sua prática - tem sua origem ligada a uma dança
criada por uma mulher: Izumo-no-Okuni.
História
Pouco se sabe sobre a vida de Okuni. Ela mesma costumava
apenas dizer que havia sido miko (donzela dos santuários
xintoístas) da região de Izumo (província
de Shimane). Seu nome passou a ser conhecido e citado
em documentos elaborados a partir de 1603 - ano em que
o então xogum Ieyasu Tokugawa venceu a famosa Batalha
de Seki-ga-hara, unificando o Japão e restaurando
a paz no território. Nesse mesmo ano, Okuni voltou
com sua trupe à cidade de Quioto, após apresentações
de seus números de dança por todo o Japão,
e presenciou a decadência da arte cênica no
contexto nacional. Artistas tentavam se valer de seus
atributos físicos para chamar a atenção
dos espectadores e foi essa postura medíocre que
motivou Okuni a criar um novo estilo de apresentação
no palco.
Kabukimono
Para levar algo novo à população,
totalmente diferente do que existia até então,
Okuni organizou uma performance em um palco montado ao
ar livre em Shijô Gawara, Quito. Lá, ela
se exibiu com trajes masculinos e extravagantes e empunhando
uma espada. Junto a seu grupo de artistas, Okuni apresentou
um novo estilo de dança e fez uma representação
cênica cheia de bom humor, arrancando aplausos e
muitos risos do público com diálogos cômicos.
A performance causou grande alvoroço entre o povo
de Quioto, que passou a chamar a encenação
de kabukimono - termo empregado no sentido de extravagante,
excêntrico. Vem daí a origem
do termo hoje amplamente conhecido no Japão, o
Kabuki.
Foi
assim que Okuni, artista de grande talento, ao perceber
a mudança da sociedade de seu tempo, conseguiu
criar, representar e transformar a dança, fazendo
dessa arte um entretenimento que alegrasse o povo, já
tão cansado de guerras entre senhores feudais.
Vida
e mistério
Diz a lenda que Okuni possuía um dom extraordinário
para a dança desde pequena. Por causa dessa habilidade,
ela era querida pelas mulheres da corte, que a chamavam
para ocasionais apresentações nas festividades
realizadas pela nobreza.
Embora
seja um nome muito conhecido na história da arte
japonesa, pouco foi esclarecido sobre a vida de Okuni
até os dias de hoje. Sabe-se que ela viveu bastante
para os padrões da época, mas, mesmo assim,
há controvérsias quanto à idade da
sua morte segundo alguns relatos, ela viveu até
75 anos; já outros afirmam que a artista morreu
aos 87 anos de idade.
Muitos
acreditam que ela voltou à sua terra natal depois
de velha, tornou-se monja, e teve uma vida calma dedicada
à religião. Mas será que uma artista
nata, que, desde tenra idade se apresentou ao público
com danças atraentes, sempre procurando inovações,
exibindo-se com trajes masculinos, introduzindo canto
nas danças da época, o nebutsu-odori, assim
como representações cômicas e diálogos
com a alma dos mortos, deixando os espectadores em delírio,
deliciados com artes antes nunca vistas, conseguiu deixar
o palco e retirar-se para uma vida pacata? Será
que ela não continuou dançando até
a sua morte, encantando muitos homens? Também dizem
as histórias que Okuni teve muitos amores, mas
jamais se casou.
Em
tempo, uma última curiosidade: existem dois túmulos
dedicados a Okuni: um em Kizuki, Izumo; e outro no Templo
Kotoin, em Quioto.
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