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Japoneses Notáveis
Matéria publicada no Zashi edição 6 - Fevereiro de 2008

Izumo-no-Okuni

Mulher que revolucionou a arte cênica japonesa ao criar as bases para o Kabuki teve uma vida envolta em mistérios


Sabe-se que Izumo-no-Okuni viveu bastante para os padrões da época, mas não se casou

Quem aprecia as artes cênicas japonesas sabe que as três maiores representações teatrais da terra do Sol Nascente são os teatros Nô, Kabuki e Bunraku. Entretanto, poucas pessoas sabem que o teatro Kabuki - que tem como característica fundamental a aceitação de atores, excluindo as atrizes de sua prática - tem sua origem ligada a uma dança criada por uma mulher: Izumo-no-Okuni.

História

Pouco se sabe sobre a vida de Okuni. Ela mesma costumava apenas dizer que havia sido miko (donzela dos santuários xintoístas) da região de Izumo (província de Shimane). Seu nome passou a ser conhecido e citado em documentos elaborados a partir de 1603 - ano em que o então xogum Ieyasu Tokugawa venceu a famosa Batalha de Seki-ga-hara, unificando o Japão e restaurando a paz no território. Nesse mesmo ano, Okuni voltou com sua trupe à cidade de Quioto, após apresentações de seus números de dança por todo o Japão, e presenciou a decadência da arte cênica no contexto nacional. Artistas tentavam se valer de seus atributos físicos para chamar a atenção dos espectadores e foi essa postura medíocre que motivou Okuni a criar um novo estilo de apresentação no palco.

Kabukimono

Para levar algo novo à população, totalmente diferente do que existia até então, Okuni organizou uma performance em um palco montado ao ar livre em Shijô Gawara, Quito. Lá, ela se exibiu com trajes masculinos e extravagantes e empunhando uma espada. Junto a seu grupo de artistas, Okuni apresentou um novo estilo de dança e fez uma representação cênica cheia de bom humor, arrancando aplausos e muitos risos do público com diálogos cômicos. A performance causou grande alvoroço entre o povo de Quioto, que passou a chamar a encenação de kabukimono - termo empregado no sentido de “extravagante”, “excêntrico”. Vem daí a origem do termo hoje amplamente conhecido no Japão, o Kabuki.

Foi assim que Okuni, artista de grande talento, ao perceber a mudança da sociedade de seu tempo, conseguiu criar, representar e transformar a dança, fazendo dessa arte um entretenimento que alegrasse o povo, já tão cansado de guerras entre senhores feudais.

Vida e mistério

Diz a lenda que Okuni possuía um dom extraordinário para a dança desde pequena. Por causa dessa habilidade, ela era querida pelas mulheres da corte, que a chamavam para ocasionais apresentações nas festividades realizadas pela nobreza.

Embora seja um nome muito conhecido na história da arte japonesa, pouco foi esclarecido sobre a vida de Okuni até os dias de hoje. Sabe-se que ela viveu bastante para os padrões da época, mas, mesmo assim, há controvérsias quanto à idade da sua morte – segundo alguns relatos, ela viveu até 75 anos; já outros afirmam que a artista morreu aos 87 anos de idade.

Muitos acreditam que ela voltou à sua terra natal depois de velha, tornou-se monja, e teve uma vida calma dedicada à religião. Mas será que uma artista nata, que, desde tenra idade se apresentou ao público com danças atraentes, sempre procurando inovações, exibindo-se com trajes masculinos, introduzindo canto nas danças da época, o nebutsu-odori, assim como representações cômicas e diálogos com a alma dos mortos, deixando os espectadores em delírio, deliciados com artes antes nunca vistas, conseguiu deixar o palco e retirar-se para uma vida pacata? Será que ela não continuou dançando até a sua morte, encantando muitos homens? Também dizem as histórias que Okuni teve muitos amores, mas jamais se casou.

Em tempo, uma última curiosidade: existem dois túmulos dedicados a Okuni: um em Kizuki, Izumo; e outro no Templo Kotoin, em Quioto.

* Japoneses Notáveis é uma seção produzida pelas professoras da Aliança Cultural Brasil-Japão
Akiko Kurihara, Hiroko Nishizawa e Kurenai Nagahama, com tradução de texto de Akiko Kurihara e Arísia Noguchi.

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