O intercâmbio
cultural proporcionado pela dança e por suas consequências
para a comunidade nipo-brasileira tornaram-se objetos de estudo acadêmico.
A doutoranda e pesquisadora de etnicidade e migração Tamaki
Watarai, formada em Língua Portuguesa e Estudos Brasileiros pela
Universidade Sofia, morou três anos no Brasil para estudar a difusão
do Yosakoi Soran entre os jovens.
NippoBrasil:
Como começou o seu interesse pela cultura brasileira?
Tamaki Watarai: Ao me formar em Língua Portuguesa, fiz uma
pesquisa relacionada ao Brasil, apesar de, na época, conhecer pouco
sobre o País. Quando cursava o 3º ano, fiquei por um ano na
Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (RS) como
intercambista. Mas muitas pessoas me disseram: Aqui não é
o Brasil, é a Europa. Percebi, então, que a cidade
tinha semelhanças com a Europa. E me perguntei então: o
que é o Brasil? e qual é a identidade dos brasileiros?.
Então, por acaso, conheci o Yosakoi Soran apresentado pelos brasileiros
e pensei que ali poderia estar uma parte da minha resposta. Observando
o desempenho dos nik-keis nas apresentações da dança,
percebi que se tratava de um meio de eles expressarem sua identidade e
também o que pretendem fazer no futuro.
Nippo: O
Yosakoi Soran do Brasil é diferente do original?
Tamaki: O do Brasil tem uma diversidade de grupos étnicos.
Na criação da coreografia, eles buscam algo próprio,
introduzindo características brasileiras com a ajuda dos não
descendentes. Aí se expressam também a cultura japonesa
moderna e a busca pela tradicional. A identidade deles é a junção
de tudo isso. Mas os japoneses parecem criar mais livremente em cima do
Yosakoi Soran. Eles introduzem elementos de reggae, de samba. Já
os brasileiros tentam se prender mais à forma original, por isso
se surpreendem quando digo que não existe nenhuma exigência
específica. Como já participei de um grupo de Yosakoi Soran
no Japão, pude entender o forte sentimento dos nikkeis pela preservação
da tradição japonesa, principalmente, é evidente,
nas apresentações de seus grupos.
Nippo: Como
é a dança original?
Tamaki: É uma mistura de Yosakoi, canção orginária
da província de Kochi, em Shikoku, com Sooran-bushi, uma música
folclórica de Hokkaido que retrata o costume dos pescadores. As
duas únicas regras para a sua difusão são usar o
naruko instrumento de percussão feito de madeira
e introduzir na letra parte do Sooran-bushi. Hoje, há festivais
realizados em mais de cem locais em todo o arquipélago.
Nippo: Por
que estudar o Yosakoi Soran no Rio Grande do Sul?
Tamaki: A princípio, o meu estudo era sobre a imigração
para o Sul do Brasil e a identidade local. Depois, eu me voltei para o
Yosakoi Soran e a identidade dos nikkeis. Ao comparar ambos, percebi que
a formação do primeiro se deu de maneira tradicional, com
a transmissão da cultura das gerações antigas para
as mais novas. Já o segundo ocorreu na era da informação:
os jovens nipo-brasileiros obtiveram as informações diretamente
do Japão, por meio da internet ou de estudantes que moraram no
país. Tanto que, em geral, os praticantes são sanseis e
yonseis na faixa de 15 a 30 anos que não falam japonês.
Nippo: Por
que o Yosakoi Soran atrai tanto os nikkeis quanto os não nikkeis?
Tamaki: Ambos veem essa dança como algo próximo de sua
cultura. Todos me dizem que têm vontade de participar por se sentirem
atraídos pelos movimentos rápidos e dinâmicos. Outro
ponto: no Japão, a apresentação é feita nas
ruas, o que se assemelha ao carnaval brasileiro. Existem muitos sanseis
e yonseis, além de não descendentes, que gostam da cultura
japonesa.
Nippo: O
Yosakoi Soran também é praticado pela comunidade brasileira
no Japão. Há alguma diferença?
Tamaki: No Japão, os grupos de brasileiros não optam
pela originalidade e é comum a participação das crianças
e não dos jovens, como no Brasil.
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