Adaptação
livre de Claudio Seto
(Texto
e desenhos: Claudio Seto)
Consta
nos anais da Zenchikyô (seita Zenchi), com base na mitologia
japonesa de origem Shintô, que o Zenchi no Mikoto, o Deus
da Graça Divina, era a divindade que coordenava as ações
da Roda do Destino da Humanidade. Essa roda era composta
por doze deuses e cada ano um deles regia o destino dos seres
viventes na terra. Os doze deuses porém não tinham
a paciência de esperar durante onze longos anos até
que chegasse novamente sua vez de reger a terra. Assim como Zenchi
no Mikoto e todos outros deuses da mitologia japonesa, os doze
deuses dos signos moravam em Takama no Hara (Alta Planície
Celeste) e gostavam de visitar Ashi Hara no Mizuho no Kuni (País
dos Juncos e dos Campos das Espigas de Arroz Hoje Japão)
para reinar toda terra. Por isso os deuses viviam brigando entre
eles porque todos os anos alguém queria vir no lugar de
outro e nenhum deus podia vir à terra sem a autorização
de Amaterassu Omikami, a Augusta Deusa Sol.
Houve
também casos em que após o período anual
de regência, os deuses não retornavam a Alta Planície
Celeste (Takamá no Hara), abdicando de sua imortalidade,
fixavam residência definitiva no País dos Campos
das Espigas de Arroz. Isso acontecia porque, a terra era cheia
de imprevistos e aventuras enquanto que a perfeita vida da Planície
Celeste não oferecia os desafios que os deuses tanto amavam.
Zenchi
no Mikoto resolveu então que deixaria a regência
do ano por conta dos animais que viviam na terra e que de alguma
forma contribuíam para o bem da humanidade. Pediu então
a Ame no Wakahiko no Mikoto1, ou Jovem Divindade Celeste - que
naquele ano estava residindo temporariamente na Terra, a serviço
da deusa Amaterassu - que reunisse no próximo dia de Ano
Novo, doze animais mais interessantes da Terra, no topo no Monte
Fuji. Estes seriam condecorados com o título de Nobres
Animais Signos e receberiam o direito de participar efetivamente
do destino da humanidade.
Wakahiko
convidou então o rato, o gato, o boi, o tigre, o coelho,
o dragão, a serpente, a cabra, o macaco, o galo e o cachorro,
pedindo que todos comparecessem sem falta no dia e local marcado.
O rato ficou muito feliz com o convite e foi contar imediatamente
para seu amigo gato. O gato estava muito orgulhoso de ter sido
convidado, mas, ao mesmo tempo, preocupado pois temia perder a
hora por causa de seu hábito dorminhoco. Fez então
o rato prometer que o acordaria antes do nascer do sol, o primeiro
sol do novo ano.
Apesar
da euforia geral, na véspera de Ano Novo, enquanto o Coelho
fazia motitsuki ou seja, socava o arroz glutinoso no pilão
para fazer moti (bolinho da sorte) que levaria de lanche na subida
ao Monte Fuji, Rato começou a imaginar que ele poderia
ficar de fora do título de nobreza, pois em comparação
com o gato, não passava de um insignificante animal. Seu
amigo gato tinha o andar garboso, postura nobre, pêlos brilhantes
e incrível agilidade. Pensando que com todos esses requisitos
receberia todos os elogios do deus Zenchi no Mikoto, o rato resolveu
que deixaria o bichano dormindo assim eliminaria um concorrente
e poderia garantir sua vaga ao título de nobreza.
As
sete horas da manhã do primeiro dia do Ano Novo, todos
estavam enfileirados para o shiki (ritual) e receberam com reverência
o Primeiro Sol do Ano. O deus Zenchi no Mikoto, com trajes brilhantes,
barba e cabelos brancos e compridos, uma figura imponente e admirável,
desceu do céu montado num cavalo alado e observou minuciosamente
todos os animais. Logo notou que só tinha onze animais
mesmo incluindo o seu cavalo e não doze conforme havia
pedido. A esse respeito interrogou o guerreiro Wakahiko que por
sua vez percebeu a ausência do gato e saiu atrás
do primeiro animal que encontrasse pela frente para trazer ao
topo do Monte Fuji.
Continua...
|