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Arquivo NippoBrasil - Edição 057 - 15 a 21 de junho de 2000
 
A vingança dos quarenta e sete samurais
Parte 1

(Por Claudio Seto)

O Japão era um conjunto de pequenos feudos administrativamente independentes até o fim do século XVI e início de XVII quando três grandes estadistas e guerreiros: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyassu, pela seqüência, realizaram a grande centralização com sucessivas conquistas em batalhas de um país que vivia em permanente guerra. Tokugawa, o último, desfrutou do poder conquistado com sacrifício dos antecessores.

Tokugawa Ieyassu planejou cuidadosamente cada detalhe de seu governo para que o poder permanecesse com seu clã por muito tempo. Na administração, decretou rigorosa norma com o objetivo de podar o crescimento econômico e militar dos governantes regionais, e impedir que estes viessem a superar seu poderio. Obrigou os senhores feudais a se apresentarem, com intervalo de um ano, no castelo de Edo, a fim de executar serviços governamentais. Obrigou-os também a deixarem alguns membros de sua família na capital, junto ao governo central como “hóspede” (na verdade refém) para que os governantes regionais não viessem a tramar contra o poder de Tokugawa, pois nesse caso, os familiares sofreriam imediatas conseqüências.

Os senhores feudais também eram obrigados a fazer investimentos em obras públicas, como estradas, pontes, canais etc. Essas obrigações foram planejadas para causar o desgaste econômico aos feudatários, porque a viagem, a estadia na capital e os contatos sociais lhes custavam muito caro, não lhes restando dinheiro suficiente para a manutenção de um bom exército.

Um século depois, na era Guenroku, governado por Tokugawa Tsunayoshi, aconteceu um incidente envolvendo vingança e seppuku* que tornaria famoso como o caso dos shijushiti-shi (47 guerreiros). Na época o shogunato* Tokugawa costumava atribuir a alguns feudatários (daimyo) a missão de organizar a recepção dos emissários da Corte Imperial, quando estes visitavam o castelo de Edo* (residência do shogun Tokugawa). A missão, era ao mesmo tempo honrosa e dispendiosa, pois os daimyo indicados tinham que arcar com as despesas e cuidar de oferecer a melhor recepção possível ao enviado do Imperador. No ano de 1701, a responsabilidade de ser mestres de cerimônia recaiu sobre dois feudatários provincianos, portanto, obrigados a pedir instruções sobre a rigorosa etiqueta vigente, adotada por um dos mais altos funcionários do shogunato, Kira Kozukenossuke Yoshinaka, o grande mestre de cerimônia do shogunato.

Um dos daimyo nomeados foi Asano no Kami Naganori, do pequeno feudo de Ako*, situada na região ocidental do Japão. Asano recorreu aos serviços de Kira, pedindo instruções para organizar os preparativos do evento, sem saber que Kira gostava de receber ricos presentes para dar essas instruções. Os subordinados do outro daimyo, que estavam sendo instruídos por Kira, eram homens com vivência nos bastidores do poder e trataram de cobrir Kira com ricos presentes.

Infelizmente o mais sábio dos assessores do daimyo Asano, o capitão Oishi Kuranosuke Yoshio, que o teria aconselhado com prudência, achava-se fora em sua terra natal, visitando parentes por ocasião de ano novo, e Asano foi bastante ingênuo para não providenciar a entrega de um “presente” condigno à posição ocupada pelo seu grande instrutor Kira.

O mestre de cerimônia Kira Kozukenossuke, portanto, instruiu de má vontade o daimyo Asano, fazendo exigências dispendiosas e criando necessidades absurdas, que exigiram grande sacrifício do feudo de Ako. Como exemplo, exigindo que todos os tatamis (tablado feito de palha) do salão nobre fossem trocados, dando prazo ínfimo para confecção dos mesmos, ou fazendo trocar os caros biombos pintados, alegando que os ali existentes não condiziam com o gosto do emissário imperial.

Asano foi perdendo a paciência e explodiu contra a arrogância de Kira, no dia 21 de abril de 1701. No dia da visita do emissário imperial, Asano foi trajado conforme recomendara Kira, sem saber que o traje era inteiramente inadequado para ser usado em cerimônia oficial. Aparecendo assim vestido na solenidade de recepção do emissário imperial, Asano tornou-se alvo de chacota dos cortesões. Como se o vexame que Asano estava sendo submetido não bastasse, Kira o repreendeu perante todos os presentes, pelo modo ridículo que estava vestido. No corredor do palácio, Asano, enfurecido, foi tirar satisfação com o mestre de cerimônia, e diante do pouco caso de Kira, perdeu o controle, puxou a pequena espada e tentou golpear seu desafeto na cabeça. Kira conseguiu esquivar-se e o golpe não teve a eficiência desejada, atingindo-o levemente na testa e no ombro.

Ferido, Kira gritou por socorro e Asano imediatamente levantou a espada para mais um golpe. Nesse momento, foi segurado e desarmado pelas pessoas que estavam próxima.

Embora a morte do velho e ganancioso Kira tivesse sido evitada pela intervenção de terceiros, e Asano tenha agido de acordo com o espírito de bushi (samurai) – que para o homem honrado constituía virtude vingar o insulto de Kira, não permitindo que maculasse o seu nome - o jovem daimyo cometeu um grave crime, o de lesa-autoridade em relação ao shogun*, desembainhando sua espada no recinto palaciano. O bakufu* (shogunato), até para mostrar ao emissário imperial quanto era decidido, deu prova de uma espantosa rapidez e algumas horas mais tarde Asano recebeu a ordem de se matar, praticando o seppuku (harakiri).O daimyo Asano, recolheu-se a sua casa, vestiu-se de branco para cortar o ventre, escreveu uma poesia tanka de despedida, onde lamentou sua morte prematura:

Kaze sassou
hana yori mo nao
ware wa mata
haru no naguri-o
ikani toyassen

evado pelo vento
tal pétala em formação
não verei jamais
a cerejeira em plena flor
ou a chegada da primavera

O tsumebara* (suicídio imposto) teve lugar naquela mesma noite. Após um longo olhar de despedida com o Capitão Oishi, daimyo Asano, sentado na maneira exigida próximo a uma cerejeira em flor, mergulhou com duas mãos a adaga no lado esquerdo do ventre, e puxou cortando para a direita. Morreu pelas próprias mãos.

 

Notas:
1) Harakiri ou Seppuku: ato de suicidar cortando o ventre. No ocidente o termo Harakiri ficou mais conhecido, mas o japoneses preferem Seppuku, uma forma mais digna de ler os mesmos ideogramas.
2) Shogunato: sistema de governo militar encarregado de manter a paz no Império japonês.
3) Edo: antiga capital do Japão, atualmente Tóquio.
4) Ako: pequeno feudo situado na região leste.
5) Shogun: generalíssimo. Título conferido pelo imperador ao chefe da aristocracias guerreira.
6) Bakufu: quartel general, governo militar do shogun.
7) Tsumebara: harakiri forçado, seppuku imposto. No período de Edo, os samurais condenados à pena máxima deviam executar-se por tsumebara.

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