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Arquivo NippoBrasil - Edição 056 - 8 a 14 de junho de 2000
 
O fantasma que assombrou o Japão
A vingança póstuma de Sugawara no Michizane – Parte 2
Acompanhe a conclusão da trajetória de um dos mais importantes personagens da história japonesa. Sugawara no Michizane foi um respeitado intelectual que no período feudal (século 10) tentou tomar o poder do clã Fujiwara. Impotente diante da força política de Fujiwara, Sugawara foi derrotado e relegado a ilha de Kyushu, um duro castigo
para quem acopara um dos cargos mais altos do governo.
Mesmo assim, exerceu a obediência até morrer bem depressa e sem barulho.
Era o que queriam. Teve até a discrição de não se matar - definhou.
 

(Por Claudio Seto)

A vingança do defunto

Foi então que se vingou! Seu inimigo Fujiwara no Tokihira que tramou a calúnia, morreu logo depois, no auge do poder. E mais tarde seu neto com a idade de vinte anos e seu bisneto de quatro anos, que possivelmente seriam levados ao trono também morreram. “Vingança de Michizane”, foi a interpretação sugerida por seus amigos, pelo inimigos de seus inimigos, talvez até também pelo sentimento tardio de culpa de seus caluniadores. Interpretação imediatamente confirmada pela superstição do povo, sempre disposto a imputar os malefícios do acaso à malignidade de uma intenção oculta. Numa época sem luz elétrica e cheio de enormes mosteiros e palácios com corredores sem fim, a idéia de que um inimigo poderia ser mais perigoso morto que vivo, era pensamento corrente. Quando se tratava de vingança de um defunto, o medo era maior, pois espada de samurai, por mais afiada que fosse, não cortava assombração.

O pânico tomou conta do poder. Qualquer barulho na calada noite era atribuído à Michizane. Dessa paranóia geral, uma sucessão de casos surgiram e viam o fantasma do ministro por toda parte. Muitas mulheres do clã Fujiwara chegaram a ficar dementes e outras se refugiaram em mosteiros, sob proteção de monges nada santos. Valentes guerreiros foram convocados para enfrentar a aparição e religiosos budistas realizaram longas cerimônias místicas para exorcizar o espírito do defunto. O que num primeiro momento pareceu satisfatório, se mostrou ineficiente na seqüência. De 909 a 911, houve epidemias, inundações e incêndios, cujo autor ninguém tinha dúvidas: Michizane! Ele tinha morrido há trinta anos, mas continuavam a lhe atribuir todas espécies de represálias.

Depois de ter sido o mais submisso dos súditos, mostrou-se o defunto mais turbulento. Contradição cheia de sentido: sob a moral de Estado, que impunha obediência sem reservas à autoridade imperial, subsistia a moral do clã, que fazia da vingança uma virtude. Solução de compromisso: podia-se tirar vingança, mas com uma condição - devia-se estar pronto para morrer, consentir em expiar com a vida as rivalidades que ameaçavam o repouso do Império.

Michizane tinha quitado esse pagamento antecipadamente: sua submissão, sua morte silenciosa, se não voluntária, pelo menos consentida, davam-lhe o direito de perseguir os inimigos.

Finalmente deram conta de que era preciso apaziguar a cólera póstuma de Michizane que estava fazendo do país o caos. A corte e a aristocracia foram unanimes em decretar reparações solenes ao defunto injustiçado. Era cerimônia atrás de cerimônia: ele foi reabilitado, reconheceram publicamente sua inocência e lealdade, restituíram-lhe seus títulos, conferiram-lhe novos e nomearam o morto Ministro dos Negócios Supremos - um braço direito do imperador.

Como se tudo isso não bastasse ao célebre defunto, no ano 947, foi nomeado kami das letras (deus das Letras). Construíram em sua homenagem e culto, o santuário de Kitano, ao norte da capital - depois muitos outros, por toda parte do Japão. Seu destino de obediência e de vingança, na interseção de duas éticas em perpétuo diálogo, pareceu tão exemplar que ele se tornou uma das divindades mais populares do país, e assim, o Japão voltou aos bons tempos de paz e prosperidade.

 

Comentários:
Não se brinca com os fantasmas no Japão. Nem outrora nem agora. Numerosos são ainda os programas de televisão que, todo ano, com testemunhos e fotografias como prova, colocam e recolocam a questão. Em todas as épocas histórias de fantasmas e aparições insólitas (kaidan) fizeram parte da vida dos japoneses tementes da vingança dos mortos (tatari), dos espíritos enraivecidos (onryo) e todos aqueles que resolveram dar uma volta no além para melhor acertar as contas. Como mostra a história de Michizane, só se realiza uma boa vingança depois de morto, bem à vontade e sem nenhum risco.

A verdade seja dita a esse mundo tão cruel em sua indiferença: faz-se justiça depois de tantas injustiças suportadas em silêncio.

(Cláudio Seto)

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