Masashi
Nihei largou a carreira de programador para ficar com o
filho
|
(Kyodo
News)
A
rotina de Takatoshi Miyauchi, 31, é exaustiva. Ele acorda
às 5 da manhã, prepara o café e leva suas
duas filhas à creche local. O japonês, então,
retorna ao seu apartamento, lava as roupas, limpa a casa e prepara
o jantar antes de buscar as meninas, alimentá-las e colocá-las
para dormir. O mais interessante desse dia-a-dia é que
Miyauchi não é um pai solteiro e nem perdeu o emprego
durante a crise mundial. É apenas mais um exemplo de uma
recente tendência no Japão: a de homens casados que
abrem mão de suas carreiras para se tornar donos de casa.
Apesar
de o arquipélago não ser referência quando
se trata da igualdade de gêneros na sociedade, é
inegável que a cada dia cresce no país o número
de mulheres com posição de destaque no mercado de
trabalho. Dentro desse contexto, recentes pesquisas de opinião
apontam que a maioria dos homens entre 20 e 30 anos não
vê problema algum em se tornar donos de casa caso suas esposas
consigam suprir as despesas familiares.
De
acordo com o Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar
Social, o número de homens sustentados pelas esposas tem
aumentado consideravelmente no decorrer dos anos, atingindo o
total de 110.037 em 2010, contra 98.510 de três anos antes.
Além disso, o instituto de pesquisas O-net divulgou que
62% dos homens na faixa dos 20 anos e 69% daqueles na casa dos
30 não veem problema nenhum em largar seus trabalhos para
se dedicar ao lar. A razão por trás disso é
claramente o aumento do poder aquisitivo das mulheres. Segundo
dados do Ministério dos Assuntos Internos, as mulheres
de até 29 anos têm recebido maiores salários
que os homens na mesma faixa etária pela primeira vez na
história do país.
Takatoshi
Miyauchi cuida dos filhos, limpa o apartamento, prepara
as refeições e ainda escreve um blog sobre
o novo ofício
|
E esse
é o caso de Miyauchi que só pode se dar ao luxo de
passar o dia com as filhas devido à estabilidade do emprego
de sua esposa, que trabalha no departamento de pesquisa e desenvolvimento
de uma empresa médica. Além disso, no caso dele, as
opções eram limitadas. Isso porque o japonês,
que nunca havia pensado em tomar a frente das tarefas domésticas,
ficou seriamente doente devido ao excesso de trabalho em seu antigo
emprego.
Na
época, sua primeira filha havia acabado de nascer e ele,
então, pediu demissão para poder se dedicar temporariamente
à paternidade. No entanto, sua esposa engravidou novamente
e ele teve muitas dificuldades para procurar emprego e continuar
cuidando da casa ao mesmo tempo. A saída foi escolher apenas
uma das atividades. Eu costumava menosprezar as tarefas
domésticas, pensando que era algo fácil de se realizar,
mas agora percebi que é necessário compromisso com
elas, justifica.
Apesar
de hoje se mostrar totalmente seguro sobre a escolha, ele lembra
que no início teve dúvidas se tomar conta da casa
era a melhor das opções, tanto que demorou a contar
aos amigos e conhecidos sobre a ideia. Com o tempo, porém,
ele superou essa fase e hoje até escreve um blog sobre
as dificuldades e o cotidiano de um dono de casa a fim de ajudar
e trocar informações com aqueles que se encontram
na mesma situação.
Outro
que decidiu largar a carreira para se aproximar dos filhos foi
Masashi Nihei, 30. Até setembro do ano passado, ele costumava
trabalhar várias semanas sem descanso para cumprir os rigorosos
prazos que seu trabalho como programador exigia. Com o nascimento
de seu filho, ele se descobriu um excelente dono de casa. Estou
feliz agora, já que costumava trabalhar o tempo todo,
conta. Eu posso acompanhar de perto como o meu bebê
se desenvolve e também sinto-me ótimo porque meu
filho está mais apegado a mim do que à minha esposa,
brinca Nihei.
Dificuldades
Para
Masahiro Yamada, sociólogo da Universidade de Chuo, a tendência
não é por acaso, já que, devido às
severas condições de trabalho, não só
os homens, como as mulheres, aspiram poder dedicar-se apenas às
atividades domésticas. Mas isso é bastante difícil
na estrutura japonesa atual. É ótimo que a
sociedade tenha mudado sua opinião sobre o homem tornar-se
dono de casa, mas é difícil que apenas uma pessoa
na família consiga prover todos os gastos enquanto a outra
se dedica ao lar, analisa o sociólogo.
|
Governo
já oferece subsídio para pais solteiros
Desde
agosto de 2010, famílias compostas por filhos e pai também
podem solicitar o subsídio para criação de
menores. Até então, o auxílio era dado apenas
a mães e seus filhos. A ajuda é disponibilizada
a famílias com renda anual de até 3,65 milhões
de ienes, no caso daquelas com até uma criança.
O governo calcula que 100 mil famílias compostas por crianças
e pai estariam aptas a ingressar no programa, mas até dezembro
de 2010 apenas 58 mil delas fizeram inscrição. O
Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar Social,
responsável pelo programa, acredita que muitos pais não
conseguiram fazer a inscrição porque estariam ocupados
demais com trabalho e que outros nem souberam da mudança
do subsídio.
Outro
dado curioso foi divulgado pelo site Papaswitch, voltado para
homens com filhos pequenos e que querem participar ativamente
de sua criação. Segundo a publicação
on-line, a sempre elogiada infraestrutura japonesa ainda peca
em atender os homens que cuidam sozinhos de seus filhos pequenos.
A maior reclamação fica por conta da ausência
de trocadores de fraldas nos banheiros masculinos. Tive
que pedir a uma funcionária da loja para fechar o banheiro
feminino temporariamente a fim de trocar a fralda da minha filha.
Senti muito por ter atrapalhado os demais clientes, disse
um pai na faixa dos 20 anos. (Redação NB)
|
Gerações
diferentes, opiniões contrastantes
Uma
pesquisa divulgada pelo governo japonês em 2006 deixa claro
como as diferentes gerações enxergam de maneira
oposta a valorização da mulher no mercado de trabalho
e o consequente aumento da participação masculina
nas tarefas domésticas. Perguntados se O marido deve
trabalhar fora de casa e a esposa ser a responsável pelo
lar?, 26,7% daqueles com mais de 70 anos disseram concordar
plenamente com a sentença. Já entre os mais jovens,
na casa dos 20 a 29 anos, esse número cai para apenas 6,1%
dos entrevistados. Outro dado que chama atenção
é o equilíbrio entre as respostas, levando-se em
conta todas as faixas etárias dos pesquisados. Em números
absolutos, 44,8% concordam que o homem deve mesmo se responsabilizar
sozinho pelo sustento da casa, enquanto 52,1% acreditam que a
mulher pode colaborar na receita doméstica. (Redação
NB)
|