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Arquivo NippoBrasil - Edição 590 - 16 de março de 2011
 
Homens donos de casa
Quase 70% dos homens jovens japoneses não veem problemas em se dedicar em tempo
integral às tarefas domésticas enquanto suas esposas se focam na carreira

Masashi Nihei largou a carreira de programador para ficar com o filho

(Kyodo News)

A rotina de Takatoshi Miyauchi, 31, é exaustiva. Ele acorda às 5 da manhã, prepara o café e leva suas duas filhas à creche local. O japonês, então, retorna ao seu apartamento, lava as roupas, limpa a casa e prepara o jantar antes de buscar as meninas, alimentá-las e colocá-las para dormir. O mais interessante desse dia-a-dia é que Miyauchi não é um pai solteiro e nem perdeu o emprego durante a crise mundial. É apenas mais um exemplo de uma recente tendência no Japão: a de homens casados que abrem mão de suas carreiras para se tornar donos de casa.

Apesar de o arquipélago não ser referência quando se trata da igualdade de gêneros na sociedade, é inegável que a cada dia cresce no país o número de mulheres com posição de destaque no mercado de trabalho. Dentro desse contexto, recentes pesquisas de opinião apontam que a maioria dos homens entre 20 e 30 anos não vê problema algum em se tornar donos de casa caso suas esposas consigam suprir as despesas familiares.

De acordo com o Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar Social, o número de homens sustentados pelas esposas tem aumentado consideravelmente no decorrer dos anos, atingindo o total de 110.037 em 2010, contra 98.510 de três anos antes. Além disso, o instituto de pesquisas O-net divulgou que 62% dos homens na faixa dos 20 anos e 69% daqueles na casa dos 30 não veem problema nenhum em largar seus trabalhos para se dedicar ao lar. A razão por trás disso é claramente o aumento do poder aquisitivo das mulheres. Segundo dados do Ministério dos Assuntos Internos, as mulheres de até 29 anos têm recebido maiores salários que os homens na mesma faixa etária pela primeira vez na história do país.


Takatoshi Miyauchi cuida dos filhos, limpa o apartamento, prepara as refeições e ainda escreve um blog sobre o novo ofício
E esse é o caso de Miyauchi que só pode se dar ao luxo de passar o dia com as filhas devido à estabilidade do emprego de sua esposa, que trabalha no departamento de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa médica. Além disso, no caso dele, as opções eram limitadas. Isso porque o japonês, que nunca havia pensado em tomar a frente das tarefas domésticas, ficou seriamente doente devido ao excesso de trabalho em seu antigo emprego.

Na época, sua primeira filha havia acabado de nascer e ele, então, pediu demissão para poder se dedicar temporariamente à paternidade. No entanto, sua esposa engravidou novamente e ele teve muitas dificuldades para procurar emprego e continuar cuidando da casa ao mesmo tempo. A saída foi escolher apenas uma das atividades. “Eu costumava menosprezar as tarefas domésticas, pensando que era algo fácil de se realizar, mas agora percebi que é necessário compromisso com elas”, justifica.

Apesar de hoje se mostrar totalmente seguro sobre a escolha, ele lembra que no início teve dúvidas se tomar conta da casa era a melhor das opções, tanto que demorou a contar aos amigos e conhecidos sobre a ideia. Com o tempo, porém, ele superou essa fase e hoje até escreve um blog sobre as dificuldades e o cotidiano de um dono de casa a fim de ajudar e trocar informações com aqueles que se encontram na mesma situação.

Outro que decidiu largar a carreira para se aproximar dos filhos foi Masashi Nihei, 30. Até setembro do ano passado, ele costumava trabalhar várias semanas sem descanso para cumprir os rigorosos prazos que seu trabalho como programador exigia. Com o nascimento de seu filho, ele se descobriu um excelente dono de casa. “Estou feliz agora, já que costumava trabalhar o tempo todo”, conta. “Eu posso acompanhar de perto como o meu bebê se desenvolve e também sinto-me ótimo porque meu filho está mais apegado a mim do que à minha esposa”, brinca Nihei.

Dificuldades

Para Masahiro Yamada, sociólogo da Universidade de Chuo, a tendência não é por acaso, já que, devido às severas condições de trabalho, não só os homens, como as mulheres, aspiram poder dedicar-se apenas às atividades domésticas. Mas isso é bastante difícil na estrutura japonesa atual. “É ótimo que a sociedade tenha mudado sua opinião sobre o homem tornar-se dono de casa, mas é difícil que apenas uma pessoa na família consiga prover todos os gastos enquanto a outra se dedica ao lar”, analisa o sociólogo.

 

Governo já oferece subsídio para pais solteiros

Desde agosto de 2010, famílias compostas por filhos e pai também podem solicitar o subsídio para criação de menores. Até então, o auxílio era dado apenas a mães e seus filhos. A ajuda é disponibilizada a famílias com renda anual de até 3,65 milhões de ienes, no caso daquelas com até uma criança. O governo calcula que 100 mil famílias compostas por crianças e pai estariam aptas a ingressar no programa, mas até dezembro de 2010 apenas 58 mil delas fizeram inscrição. O Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar Social, responsável pelo programa, acredita que muitos pais não conseguiram fazer a inscrição porque estariam ocupados demais com trabalho e que outros nem souberam da mudança do subsídio.

Outro dado curioso foi divulgado pelo site Papaswitch, voltado para homens com filhos pequenos e que querem participar ativamente de sua criação. Segundo a publicação on-line, a sempre elogiada infraestrutura japonesa ainda peca em atender os homens que cuidam sozinhos de seus filhos pequenos. A maior reclamação fica por conta da ausência de trocadores de fraldas nos banheiros masculinos. “Tive que pedir a uma funcionária da loja para fechar o banheiro feminino temporariamente a fim de trocar a fralda da minha filha. Senti muito por ter atrapalhado os demais clientes”, disse um pai na faixa dos 20 anos. (Redação NB)

 

Gerações diferentes, opiniões contrastantes

Uma pesquisa divulgada pelo governo japonês em 2006 deixa claro como as diferentes gerações enxergam de maneira oposta a valorização da mulher no mercado de trabalho e o consequente aumento da participação masculina nas tarefas domésticas. Perguntados se “O marido deve trabalhar fora de casa e a esposa ser a responsável pelo lar?”, 26,7% daqueles com mais de 70 anos disseram concordar plenamente com a sentença. Já entre os mais jovens, na casa dos 20 a 29 anos, esse número cai para apenas 6,1% dos entrevistados. Outro dado que chama atenção é o equilíbrio entre as respostas, levando-se em conta todas as faixas etárias dos pesquisados. Em números absolutos, 44,8% concordam que o homem deve mesmo se responsabilizar sozinho pelo sustento da casa, enquanto 52,1% acreditam que a mulher pode colaborar na receita doméstica. (Redação NB)

 
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