Fernando
Kubota recebeu implementos
agrícolas na presença do presidente Lula
|
(Reportagem:
Susy Murakami / Foto: Luiz Xavier/MDA)
Fernando e
Maria Adriana Kubota traçaram uma trajetória diferente daquela
seguida tradicionalmente por ex-dekasseguis. Logo após se casarem,
eles foram para o Japão e, ao retornar, decidiram apostar na agricultura.
O marido já havia trabalhado com o pai na lavoura, mas a esposa,
natural da pequena cidade potiguar de Alexandria, era vendedora de loja
e, segundo ela, não gostava nem de pisar em chão de terra.
Entretanto, hoje, ela demonstra apego ao trabalho que faz. Hoje
tenho amor pela plantação, diz.
O casal, que
tem três filhas entre 8 e 13 anos, tem uma área de 14 hectares
dedicados ao cultivo de goiaba, morango e hortaliças. Mas o início
só não foi do zero porque, com o dinheiro juntado no Japão,
eles conseguiram comprar, em 1999, uma chácara de 5 hectares em
Brazlândia (DF). De posse do terreno, faltava dinheiro para plantar.
Por isso, os dois recorreram, como outras milhares de famílias
brasileiras, ao crédito rural para micros e pequenos agricultores
oferecido pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Recursos
para crescer
O primeiro
passo para obter o empréstimo foi entrar em contato com um escritório
local da Emater Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural, onde foram orientados sobre os procedimentos para a obtenção
do financiamento. O montante repassado para o casal foi de R$ 5 mil, quantia
máxima concedida na época pelo Pronaf Custeio, uma das linhas
de crédito do programa. Com a garantia de um avalista, o empréstimo
foi liberado com carência de um ano para o início da restituição
em parcelas semestrais. Essa linha permite renovar o empréstimo,
no mesmo valor, 48 horas após a quitação da primeira
dívida, desde que feita dentro dos prazos preestabelecidos. Dessa
maneira, ano após ano, a família Kubota obtém dinheiro
para financiar a safra.
Com o crescimento
da propriedade, o casal sentiu a necessidade de dar passos mais largos
e cadastrou-se em uma outra linha de crédito, o Pronaf Investimento,
para a compra de equipamento de irrigação. O valor liberado
desta vez foi de R$ 10 mil, também com um avalista, um ano de carência
e dois para quitar a dívida. Com a renda, eles investiram em mais
terras, triplicando o tamanho da área. Esses programas caíram
do céu, diz Fernando.
Em julho do
ano passado, o agricultor foi homenageado durante o lançamento
de uma nova linha de crédito, o Pronaf Mais Alimentos, por ter
sido o primeiro beneficiado. Essa linha destina recursos para investimento
em infraestrutura da propriedade rural. O limite máximo concedido
é de R$ 100 mil, a 2% de juros ao ano, com até 3 anos de
carência e 10 para pagar. Fernando, que havia solicitado financiamento
para a compra de um trator e diversos implementos agrícolas, recebeu
os bens adquiridos na presença do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e do ministro do MDA, Guilherme Cassel. O trator, de 75
cavalos, custou R$ 68.271; e os implementos, R$ 8,2 mil.
Para ter o
crédito aprovado, a família deu como garantia um carro de
passeio e um caminhão usados, além do próprio maquinário,
valendo 50% do preço original, já que é levada em
conta sua depreciação com o passar do tempo.
Assim como
os outros financiamentos, esse foi feito pelo Banco do Brasil. Neste caso,
o tempo de carência concedido para os Kubota foi de um ano e meio,
com devolução feita em parcelas semestrais, que começam
a ser pagas em dezembro de 2009 e terminarão no período
de sete anos e meio. Segundo o produtor, o valor da primeira parcela será
de aproximadamente R$ 6 mil. A quantia já está guardada,
assegura Maria. Com o trator, o trabalho ficou mais ágil, aumentando
a produtividade. A plantação de morango, que era de 5 mil
pés, agora é de 10 mil.
A trajetória
até chegar à atual situação, no entanto, não
foi fácil. Maria conta que, durante muito tempo, a família
precisou morar no barraco de madeira existente no primeiro
terreno adquirido há dez anos. Hoje, eles têm dois funcionários
fixos e diaristas contratados em época de colheita. É
sofrido, mas muito compensador ver que o trabalho está dando resultado
e gerando empregos, afirma.
|
O Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi criado
em 1995, pelo governo federal, para atender minis e pequenos produtores
rurais com o objetivo de fortalecer suas atividades. Entre as vantagens
do programa, está a obtenção de financiamento a juros
baixos e adequados à realidade do agricultor. Os recursos são
disponibilizados tanto para projetos coletivos cooperativas ou
grupos de agricultores como para individuais que gerem renda aos
agricultores familiares.
Pode recorrer
ao Pronaf o produtor que estiver enquadrado na categoria de agricultor
familiar, conforme a Lei nº 11.326 (24/6/2006). De acordo com ela,
considera-se agricultor familiar aquele cuja propriedade não ultrapasse
a área de quatro módulos fiscais; utilize predominantemente
mão de obra da própria família nas atividades econômicas;
tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento; e dirija o empreendimento
com a família.
Para se inscrever,
o interessado deve procurar o sindicato rural, ou a Emater de sua região,
para obter a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
O próximo passo é a elaboração de um projeto
técnico, com detalhes das receitas e das despesas. Além
das formas convencionais de financiamento, o programa dispõe de
linhas que buscam atender às especificidades do solicitante. Silvicutores,
aquicultores, pescadores e extrativistas também podem ser beneficiários.
|