Kazumi
Yano realiza sessão de acupuntura: oftalmologista
aposentada afirma que prática melhorou sua doença
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Agulhas da terapia são aplicadas em pontos estratégicos
do corpo
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(Márcio
dos Anjos/NB)
Kazumi
Yano sentia dificuldades em enxergar. As imagens eram turvas,
embaçadas, como define a oftalmologista aposentada. Dois
anos atrás, procurou tratamento na medicina tradicional
mas não melhorou. Recebi um corticoide endovenoso
(medicamento destinado a restabelecer o equilíbrio do organismo,
aplicado sob a forma de injeção), que me deu mais
tontura e dor do que cura, diz. Há pouco menos de
um ano optou pela acupuntura. De lá para cá,
minha visão tem melhorado muito, afirma ela.
Este
fato demonstra que a prática milenar chinesa pode ser uma
alternativa aos tratamentos convencionais. A acupuntura, que consiste
na aplicação de agulhas em pontos estratégicos
(ou acupontos), se mostra um aliado do bem-estar corporal, sendo
eficaz no alívio de dores, fadigas e inflamações,
substituindo medicamentos.
A
acupuntura tem pontos específicos que irão liberar
neurotransmissores, atuando diretamente no processo de dor e em
alguns componentes da inflamação do tecido,
explica Mauricio Hoshino, neurologista do Hospital das Clínicas
e médico acupunturista.
Hoshino
explica que a aplicação de agulhas estimula terminações
nervosas na pele e nos tecidos, o que produz uma espécie
de mensagem dos nervos periféricos até o sistema
nervoso central, por meio da liberação da substância
neurotransmissora, a serotonina, o hormônio relacionado
ao bem-estar. Com isso, efeitos equivalentes aos de medicamentos
como analgésicos ou relaxantes musculares podem ser obtidos
com a aplicação correta das agulhas.
Kaoru
Yamamoto, médico acupunturista, afirma que a ação
das agulhas melhora a circulação do sangue, da energia,
e dos líquidos do organismo. Esses fatores contribuem
para a restauração de inflamações,
promovendo melhor nutrição dos tecidos afetados,
melhorando o organismo como um todo, o que o ajuda na recomposição
do equilíbrio. O médico acrescenta que o tratamento
comporta vantagens por ser natural, não causando efeitos
colaterais como muitos dos medicamentos químicos, além
de ser de custo baixo. Os anti-inflamatórios interrompem
os sintomas incômodos, mas prejudicam as reações
de reparação dos tecidos afetados, pois diminuem
a circulação e até impedem a cura, abrindo
possibilidade para a doença se tornar crônica,
explica.
Menos
medicamentos
Estes
dados foram comprovados pela Amba (Associação Médica
Brasileira de Acupuntura). Em 2005, em parceria com a Coordenadoria
de Saúde Integrativa de Campinas (SP), a entidade treinou
médicos para a prática de acupuntura. Resultado:
em 2006, esperava-se um consumo de anti-inflamatórios de
700 mil comprimidos, que, no entanto, ficou em 570 mil, um decréscimo
de 7,5% no uso do medicamento. De acordo com o coordenador de
saúde, o sucesso se deveu ao projeto de medicina alternativa.
De lá para cá, a acupuntura vem sendo usada em Campinas
como prática médica regular.
Além
disso, a acupuntura também passou a ser disponibilizada
no SUS (Sistema Único de Saúde), em 2006, com a
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares,
programa destinado a oferecer publicamente as medicinas alternativas,
como homeopatia, fitoterapia, acupuntura, etc. Em 2009, o número
de pacientes que preferiram a técnica alternativa cresceu
122% em reação ao ano anterior (de 97.240 para 216.616
mil).
Apesar
da popularização, o mercado ainda está em
desenvolvimento, de acordo com Yamamoto. Talvez seja necessário
mudar a mentalidade dos dirigentes, bem como dos profissionais
da saúde e também dos pacientes, sugere. Ele
destaca a especificidade da medicina oriental que se constitui
num todo com sua filosofia, seus embasamentos, fundamentos e técnicas,
num imenso corpo de conhecimentos inter-relacionados que formam
um conjunto coerente diferenciados da medicina científica
ocidental.
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