Entre
19 e 28 de outubro, a Sociarte recebe Wakabayashi - Xogum de todas
as cores e texturas, mostra que celebra o trabalho de Kazuo Wakabayashi,
pintor nipo-brasileiro considerado um dos expoentes da arte não
figurativa nacional. A exposição reúne cerca
de 25 obras da produção mais recente do artista, entre
pinturas e gravuras realizadas ao longo dos últimos dois
anos.
Wakabayashi
é autor de uma obra abstrata, marcada pela incessante experimentação
e pesquisa de técnicas, cores e materiais. Suas telas e gravuras
apresentam elementos figurativos orientais, que se misturam com
o cromatismo exuberante brasileiro. O artista trabalha com contornos
rigorosos e cores intensas, às vezes, experimentando multiplicar
as formas ao mesmo tempo em que as destaca entre as demais.
"O
Brasil é um paraíso para a arte e sua fluidez. Aqui
eu pude ser livre e dar vazão aos meus sentimentos por meio
da pintura", afirma o artista, referindo-se a todo o tradicionalismo
milenar da cultura japonesa - algo que, em suas palavras, "aprisiona
a criatividade de um artista".
Quando
chegou ao Brasil, em 1961, aos 30 anos de idade, Wakabayashi já
se apresentava como um artista maduro - fruto de um rigoroso aprendizado
a que fora submetido enquanto jovem. O pintor trazia nas malas o
peso da Guerra - quando adolescente, encarou de frente suas desgraças
quando Kobe, sua cidade natal, foi bombardeada.
No início
de sua carreira, tais memórias sempre estiveram muito presentes
em seus trabalhos. Ainda que abstratas, suas pinturas eram carregadas
de uma dramaticidade densa, escura e pesada - uma sombra dos inúmeros
conflitos a que presenciou. Com o passar do tempo, suas obras foram
adquirindo, pouco a pouco, cores e mais cores, tornando-se mais
leves, quase sublimes.
"A
pintura de Wakabayashi não pretende reproduzir as formas,
cores e texturas do mundo visível e palpável: sua
necessidade de expressão vai mais longe e mais fundo, pois
mira a essência das coisas e, ao buscar a transcendência,
torna-se a materialização de um mundo de ideia ricos
e pessoal", afirma o crítico José Roberto Teixeira
Leite, que assina o texto de apresentação da mostra.
Hoje,
aos 86 anos de idade, Wakabayashi ainda trabalha de domingo a domingo,
dedicando grande parte de seus dias a seu ateliê - instalado
aos fundos de sua casa, no Jabaquara, zona sul da capital paulista.
Não raro, sua mulher, a também artista Hikari Wakabayashi,
tem de resgatá-lo para que ele descanse. Para cada uma das
telas que se propõe a criar, o artista gasta de dois a seis
meses na sua elaboração. São texturas e mais
texturas cobertas por tintas e, muitas vezes, por folhas de ouro,
inclusive. "Meu sonho é morrer no ateliê, mas
meu coração não tem colaborado - ele é
muito forte", brinca o artista, explicitando sua íntima
conexão com a arte do qual é discípulo.
Artista
O pintor
Kazuo Wakabayashi nasceu em Kobe, no Japão, em 1931. Em 1944,
estudou na Escola Técnica de Hikone, em Shiga, Japão.
Entre 1947 e 1950, frequentou a Escola de Belas Artes e a Academia
Niki, em Tóquio, e as aulas de desenho e pintura de Kanosuke
Tamura. No início dos anos 1950, passou a integrar o grupo
Babel, ao lado de Rokuichi, Kaibara e Ko Nishimura, entre outros.
Entre as décadas de 1940 e 1960, participou de uma série
de salões japoneses, sendo premiado em vários deles.
Chegou
ao Brasil em 1961, radicando-se em São Paulo. Na época,
tornou-se membro do Grupo Seibi, apresentado por Manabu Mabe (1924
- 1997) e Tomie Ohtake (1913-2014). Em 1963, recebeu medalha de
ouro tanto no 12º Salão Paulista de Arte Moderna, como
no 7º Salão do Grupo Seibi de Artistas Plásticos.
Foi ainda agraciado com o primeiro prêmio no Salão
de Abril do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em
1966.
Wakabayashi
participou de diversas edições da Bienal Internacional
de São Paulo, onde foi premiado em 1967. Em 1993, o Paço
das Artes, em São Paulo, realizou uma retrospectiva de seu
trabalho.
Lançamento
Durante
a exposição de Wakabayashi na Sociarte, a estudiosa
Maria Fusako Tomimatsu lança Kazuo Wakabayashi - Um artista
imigrante, livro da editora Porto de Ideias. Fruto de sua tese de
doutorado, a publicação apresenta uma análise
acurada do pintor japonês radicado no Brasil, mergulhando
em uma dimensão biográfica inovadora. A escritora
realiza um estudo a partir de bases teóricas, contribuindo
para o comparativismo contemporâneo no que diz respeito às
relações entre literatura e outras artes.
Seviço:
Wakabayashi - Xogum de todas as cores e texturas
Onde: Sociarte ( Av. Dr. Arnaldo, 1324 - Sumaré- São
Paulo-SP)
Abertura: 19 de outubro, a partir das 20h
Período expositivo: de 20 a 28 de outubro
Horário de visitação: segunda à sexta-feira,
das 09h às 17h; sábado, das 10h às 14h.
Entrada: gratuita
|