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  120 Anos de Amizade Japão-Brasil .::. Especial Opinião - NippoBrasil



Uma trajetória de muita amizade entre dois países que já foram, outrora, inimigos de guerra

Em 2015, comemoram-se
120 anos de amizade Brasil-Japão


 

Opinião
Esquadrão japonês no Brasil (1965)

(Escrito por Diogo Nomura* - publicado na edição 269 do
Jornal Nippo-brasil, de 4 a 10 de agosto de 2004)

Os jornais noticiaram a visita, pela 9ª vez, do esquadrão da atual marinha japonesa, conhecida como a "Renshuukantai do Kaitô Jieitai", nome adotado no pós-guerra, motivo pelo qual achei do meu dever explanar além da satisfação desse fato e destacar a importância do significado daquele memorável acontecimento, o qual foi a primeira visita oficial de navios de guerra japoneses ao Brasil, a convite oficial do nosso governo, por meio da nossa Armada, para participar da Semana da Pátria. A Força Tarefa do Esquadrão, na época integrada pelos destroiers, Akisuki, Katori e Kashima, veio sob o comando do almirante Morio Goga - meu primo, por sinal, pois sua mãe, minha tia, era irmã do meu pai - e fôra integrado como yôshi (filho adotivo) pela família do seu comandante, Almirante Goga.

O Brasil e o Japão, com o fraterno relacionamento, vinham mantendo um intercâmbio favorável, interrompido pela guerra em face das decisões geopolíticas vigentes na época. Assim, ficaram com o relacionamento político, diplomático e econômico fraturados, e desejavam no pós-guerra a continuidade desse entrosamento, mormente em função da presença dos imigrantes em sua fase de aculturação e integração na segunda Pátria, que se tornou grande pátria dos seus descendentes brasileiros presentes em todos os setores da vida nacional, inclusive nas nossas forças armadas com destaque merecido. Faltava, entretanto, um gesto, um evento que determinasse e positivasse oficialmente essa boa vontade, pois o Brasil e o Japão não haviam assinado nenhum acordo de paz, já que o nosso País nem fôra convidado a essas cerimônias de assinaturas de armistício e paz. Nesse ponto, devemos reconhecer a nobreza do gesto do presidente Castelo Branco, que na sua aparente sisudez com firmeza, soube resgatar a oportunidade ouvindo os seus conselheiros, enviando o convite para que a "Renshuukantai do Kaijô Jieitai" fosse oficialmente convidada de honra durante as solenidades da Semana da Pátria, em 7 de setembro de 1965.

Destarte foi, estabelecida a programação, com a visita do esquadrão japonês ao Brasil pela primeira vez no pós-guerra, com escalas em Recife, depois em Santos, São Paulo e, finalmente, no dia 7 de setembro, no Rio de Janeiro, para o grande desfile da Avenida Getúlio Vargas, tendo no palanque oficial o presidente da República Castelo Branco, todos os ministros, autoridades e corpo diplomático.

Tive a oportunidade de assistir ao evento, pois fôra surpreendido e honrado com o convite para ser membro da comissão de recepção, representando as nossas autoridades civis, com o oficial da nossa Marinha e um carro à minha disposição. Eis que, foi a alegação, poderia ser útil ao comandante visitante que já sabiam era meu primo, assessorando- o em relação à situação da comunidade, então ainda fervilhando com o confronto de ideias entre vitoristas e derrotistas.

Chegada Na primeira visita a Recife, apresentei-me ao comandante da base naval da época, Almirante Duque Guimarães, declinando da minha qualidade de representante civil das nossas autoridades, pois já havia sido também designado como representante da nossa Assembleia Legislativa de São Paulo.

Os poucos japoneses presentes à chegada do esquadrão em Recife devem ter ficado empolgados, pois os navios, embora pequenos, do tipo corvetas, vinham com a bandeira da Marinha desfraldada, com sua banda musical entoando bem alto o"Gunkam March".

Retornei no mesmo dia, via aérea, a São Paulo, pois dias após o esquadrão deveria chegar a Santos, onde já à espera estavam presentes dezenas de milhares de pessoas, principalmente isseis, que afluíram de vários pontos do País - do Pará, Mato Grosso, interior de São Paulo, Paraná e até do Rio Grande do Sul. Em Santos, o porto já estava repleto de japoneses com bandeirinhas na mão, os quais mal disfarçavam a ansiedade pela espera.

E quando o esquadrão da Força Tarefa da Marinha japonesa, com a bandeira naval hasteada, aproximou-se do cais para atracar, a banda começou a tocar o famoso "Gunkam March". Foi um delírio! Sob os gritos de "banzai!" e "viva!", cheguei a temer algum excesso de entusiasmo, mas, felizmente, tudo correu dentro de uma atmosfera de justificado entusiasmo e alegria.

O Almirante Morio Goga, com quem havia conversado sobre o clima reinante na comunidade nipo-brasileira sempre que pude, com cordialidade informou a todos que devíamos aceitar os fatos históricos da guerra com dignidade, e que, com a conquista da paz, o Japão iria se tornar um dos líderes progressistas no contexto da comunidade mundial. "Trabalhem pelo Brasil, que está nos recepcionando com tantas provas de amizade e fraternidade, e, assim, estarão cooperando em prol de um Japão como membro de um novo mundo voltado para a paz, o trabalho e a prosperidade." Esta foi a mensagem que ele repetiu.

Após a visita a Santos, os marinheiros dirigiram-se a São Paulo, onde, no Parque do Ibirapuera, durante dois dias, cada kenjinkai se desdobrou em recepcionar marinheiros e oficiais co-provincianos.

O Almirante Goga participou de um desfile na Rua Galvão Bueno, depositando flores no monumento do Ipiranga e dos pracinhas da FEB, com a presença de vários nikkeis veteranos da Itália. Já no Rio de Janeiro, na data culminante da Semana da Pátria, no dia 7 de setembro de 1965, os oficiais e marinheiros da Força de Autodefesa Marítima do Japão desfilaram na Avenida Getúlio Vargas, no centro do Rio de Janeiro, perante o palanque presidido pelo presidente Castelo Branco, seus ministros e corpo diplomático.

Infelizmente, poucos isseis puderam assistir ao grandioso desfile, iniciado com as nossas forças de terra, mar e ar, e, a seguir, como convidado de honra, abrindo o desfile, a tropa de fuzileiros japoneses com uma enorme bandeira do sol nascente à frente, prestando continência ao presidente do Brasil, marechal Castelo Branco. Ele, por sua vez, ao lado das altas autoridades civis, militares e representantes diplomáticos, prestou a continência devida aos visitantes e aos marinheiros japoneses.

Em seguida, desfilaram os cadetes da marinha do Chile e um contingente americano que tripulava um navio que estava atracado para abastecimento de combustível e alimentos.

Presente no palanque, o embaixador americano começou a protestar contra a presença de marinheiros japoneses como convidados de honra justamente na Semana da Pátria, dizendo que eles eram inimigos. O presidente Castelo Branco, porém, informado do que ocorria, disse ao representante americano, por meio de seu ajudante de ordens, que os japoneses atenderam ao seu convite oficial para homenagearem a Semana da Pátria representando um país amigo.

O Almirante Goga foi o primeiro representante do Japão a ser condecorado no pós-guerra, recebendo da nossa Armada a alta condecoração do Mérito Naval. A firme posição de Castelo Branco, o chefe da nação, foi, indubitavelmente, um magnífico espetáculo, que preencheu o hiato até então existente no relacionamento nipo-brasileiro, com um significado talvez mais amplo que um formal tratado de armistício e paz entre dois países, que por sinal, nunca tiveram um confronto militar.

Confirmando conjecturas Já se tornou cediço dizer que nada ocorre por simples acaso, pois só posteriormente fiquei sabendo como foi maturada essa visita da Força Tarefa da Força de Autodefesa marítima japonesa, a primeira no pós-guerra, realizada com todas as honras para participar com destaque no grande desfile comemorativo da Semana da Pátria perante o Presidente da República e seu ministério. Vale dizer, ainda, que o governo do nosso País enfrentou protestos e incompreensões.

Na época, o almirante José Joaquim Januário Coutinho Neto era o comandante naval da nossa Marinha em São Paulo, e, posteriormente, em Brasília (DF), o comandante naval da capital federal. Finalmente, assumiu a chefia do Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Essa ilustre personalidade, infelizmente falecida, da qual fui amigo, era casado com dona Kity Komatsu, descendente de japoneses, motivo pelo qual mantinha com a comunidade amizade e estima. Após a guerra, o então capitão- de-fragata Coutinho esteve no Japão como subchefe da comissão naval brasileira para fiscalizar a construção de dois navios de transporte da marinha, "Barroso Pereira" e "Soares Dutra", e lá conheceu o seu colega da marinha nipônica Morio Goga. Ficaram amigos e, creio, no pós-guerra, devem ter tido o

mesmo pensamento, que visava à paz e à cooperação. Certamente, devem ter cogitado como poderiam, por meio de suas marinhas, buscar um ponto de encontro como foi feito, pois o Brasil e o Japão, pelas suas formações históricas e geopolíticas avalizadas pela presença dos imigrantes, só poderiam ter uma vocação, que é a da busca da fraternidade e intercâmbio por meio do trabalho em clima de paz. O almirante Coutinho, que fôra um expert em informações, discretamente - como era a sua formação - influenciou e assessorou o alto comando e, em consequência, até a Presidência da República, para aprovar o convite ao "Renchuukantai" de um País que fôra, até ontem, técnica e diplomaticamente "inimigo", distinguindo-o na condição de convidado de honra para participar com destaque na Semana da Pátria, comemoração maior da data máxima da história do Brasil.

Em face dessas considerações, rendo um preito de respeito e homenagem à figura do amigo almirante J.J.J. Coutinho, a quem credito o mérito da vinda como convidado de honra do nosso governo, do "Kaijô Jieitai", por meio do Renshu Kantai, pois somente anos após, com um sorriso enigmático, ele, paulatinamente, foi confirmando as minhas conjecturas, depois de ter passado para a reserva, já que, em função dos altos postos exercidos, a discrição fôra um dever funcional.

* Diogo Nomura foi ex-deputado federal

 


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